Diante do drama para as famílias e pacientes durante as internações por covid-19, atitudes simples em hospitais de Niterói e de São Gonçalo estão fazendo a diferença e contribuindo para diminuir as angústias e incertezas, e para levar um pouco de conforto aos parentes dos que perderam a batalha contra a doença.
No Pronto Socorro Central de São Gonçalo (PSC), no bairro do Zé Garoto, a equipe de nutrição da unidade decidiu escrever mensagens de motivação nos itens que compõem a alimentação diária dos pacientes. A campanha, batizada como 'Quentinhas do Coração', viralizou nas redes sociais. 'Tenha Fé! Juntos venceremos esta fase' e 'Estamos cuidando de você! Tudo vai dar certo' são algumas das frases que estão trazendo alento aos que buscam a recuperação nos leitos do hospital.
"São muito legais estas mensagens. Fizemos fotos e colocamos no grupo de WhatsApp da família. Todo mundo gostou e se sentiu confortado pelo interesse e dedicação da equipe médica. Isso nos tranquiliza", contou Brenda Almeida, neta da paciente Waldeline Soares Almeida.
Segundo a InSaúde, empresa que administra o Pronto Socorro Central de São Gonçalo, após preparar as refeições específicas para cada paciente, a equipe de nutrição se divide para escrever as mensagens nos recipientes dos alimentos. Na última sexta-feira, os itens de sobremesa vieram com palavras como 'fé', 'amor', 'luz', 'saúde' e 'força'.
"Isso nos dá uma sensação maior de segurança, confiança e carinho. Eles alimentam não só o nosso corpo, mas, principalmente, a nossa alma. É um gesto muito abençoado", agradeceu o paciente Paulo César.
A unidade de urgência e emergência de São Gonçalo recebe cerca de 600 pacientes por dia, nas especialidades de clinica médica, ortopedia, cirurgia geral, dentista e trauma.
Conforto na despedida
Em Niterói, a equipe do setor de psicologia do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), no Centro, desenvolveu uma iniciativa para levar conforto aos familiares no momento mais difícil da luta contra a covid-19: o comunicado do falecimento do paciente. Na última semana, os pertences das vítimas fatais passaram a ser entregues aos parentes na 'Caixa de Memórias', acompanhadas com flores, cartão com mensagem de apoio e contatos para ajuda psicológica.
"As boas lembranças permanecerão para sempre, a morte não encerra esse vínculo. A 'Caixa de Memórias' é uma forma de ajudar a família a começar a elaborar seu luto, um processo tão singular de cada um. Assim, pretendemos também mitigar o impacto à saúde mental das pessoas por conta da pandemia", explica Thábata Luiz, psiquiatra do Huap e uma das idealizadoras do projeto.
A ideia surgiu após a psiquiatra ouvir do chefe do CTI de covid-19 do Huap, Túlio Possati de Souza, um relato emocionado sobre um momento em que ele entregou os pertences de uma vítima fatal da doença aos parentes em um saco plástico. Para ele, a pandemia interfere diretamente na relação médico-paciente, tornando ainda mais importante as ações de humanização:
"A iniciativa de confecção da 'Caixa de Memórias' ajuda a ressignificar esse momento, que tem sido tão complicado não somente para os familiares, mas também para os profissionais de saúde".
