Publicado 23/06/2020 12:14 | Atualizado 23/06/2020 16:12
Niterói - Ainda fechada para visitação pública devido à pandemia, a Fortaleza de Santa Cruz recebia dois civis ontem (22/06) em suas instalações quando uma parte extensa da encosta rochosa da Estrada Eurico Gaspar Dutra deslizou e interditou o acesso ao local, que fica no bairro de Jurujuba. O caminho, que contorna a montanha e beira o mar, é tão estreito que só permite a passagem de um veículo por vez - através de sinalização por semáforo nas duas extremidades do trajeto. Franciane Barbosa e Antonio Duarte, irmãos e sócios a DB Editora, reuniam-se com o comando da unidade para a finalização de um livro histórico-cultural que inclui um capítulo sobre a fortaleza, quando ficaram impedidos de sair devido ao bloqueio provocado pelas pedras.
O acidente, ocorrido às 17h30, por pouco não fez vítimas, já que o fim do expediente é às 17h. O deslizamento aconteceu cinco minutos depois da passagem de um caminhão transportando soldados. Franciane, Antonio e os militares de serviço deixaram seus carros no estacionamento da fortaleza e saíram à pé, já às 19h30, calçando coturnos e iluminando o caminho com lanternas e celulares após a chegada da Defesa Civil e de engenheiros do Exército, que garantiram o mínimo de segurança para a travessia ontem no início da noite. As equipes retornaram nesta terça, ao longo do dia, para a continuidade dos estudos de solo e risco. (Confira o vídeo do momento do desmoronamento e mais fotos do local no rodapé desta reportagem)
"Foi tenso o momento da notícia e mais ainda na hora de caminhar sobre as pedras quando já havia escurecido. O medo era de mais um deslizamento. Mas o comandante, General Fernandes, agiu com extrema responsabilidade e cautela no cuidado e proteção tanto de nós visitantes quanto de seu próprio pessoal. Apesar de bem amparada e escoltada, fiquei muito nervosa com a sensação de um novo desmoronamento ou no mínimo pisar em falso numa daquelas pedras soltas e irregulares e cair no mar", relembra a empresária, responsável pela editora do livro Niterói em Fotos e Fatos, motivo pelo qual estava no local.
O Comando Militar do Leste (CML) ainda não tem informações sobre a causa do acidente geográfico e nem o prazo exato para a retirada da pedra, mas estimam em torno de uma semana, segundo a testemunha civil, avisada de retornar neste intervalo de tempo para a retirada de seu veículo. "O comando foi extremamente atencioso e cuidadoso com todos, nos dando total suporte e segurança, oferecendo inclusive suas instalações para que pernoitássemos. Só nos liberaram após a chegada da Defesa Civil e dos engenheiros do Exército e a constatação técnica de que poderíamos sair, tanto nós quanto os demais militares", diz Antonio, contando que foi cogitada a saída de barco no dia seguinte caso não fosse possível por via terrestre. A embarcação viria de fora para o ancoradouro do forte.
Sítio histórico de beleza única, a monumental Fortaleza de Santa Cruz da Barra - datada de 1555 - foi a principal estrutura defensiva da Baía de Guanabara durante o período do Brasil Colônia e do Império. Maior fortificação de Niterói, com uma área de mais de sete mil metros quadrados, o lugar tem muralhas construídas com pedras cortadas e assentadas à mão e um acervo de 45 canhões dos séculos XVIII e XIX. Lá se encontra a segunda mais antiga igreja da cidade, erguida em 1612 sob o nome de Oratório de Nossa Senhora da Guia e depois rebatizada de Capela de Santa Bárbara devido à imagem de 1,73 metro de altura da padroeira, transferida de Portugal e esculpida no século XVIII sobre uma rocha com pedras semipreciosas. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1939, a edificação impressiona por sua grandiosidade e beleza.
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