Publicado 01/03/2021 16:06
Niterói - Bastam 2 minutos de conversa para que se revele, assim, rápida e arrebatadoramente, a razão dele ser uma das maiores influências da fotografia no cenário niteroiense. Dono de um bom humor e magnetismo contagiantes, e de uma perspectiva atemporal e cada vez mais necessária, o fotógrafo Davy Alexandrisky se tornou conhecido mundo afora com seu aguçado olhar, sua sensibilidade e extrema delicadeza ao retratar cotidianos que de rotineiros, pelas suas experientes lentes, não têm nada.
Nascido e criado em Niterói, esse morador do Gragoatá, bairro onde também mantém um espaço de quase 500 metros quadrados para exposições de outros artistas, é uma apaixonado pela cidade e não cansa de, entre uma exposição e outra, mostrar o encanto e magnetismo da 'Cidade Sorriso'. Seu gosto pela arte começou bem cedo, onde ainda na juventude percebeu como esta poderia ser uma arma poderosa de mudança no mundo. Essa chama foi herdada pelas filhas, Bia Alexandrisky, professora de teatro e Nina Alexandrisky, artista plástica.
"Em casa, sempre alertamos as meninas para a importância dos direitos humanos, as mazelas da sociedade e os momentos de humanidade e de como a arte, pode sim, ser um instrumento de alerta e de paz. Me preocupei em fazê-las refletir sobre as posições individuais e a prática da empatia. Naturalmente elas enveredaram por esse caminho, e me orgulho imensamente disso.", revela.
Sua carreira possui muitas variantes e já teve um longo percurso profissional pela publicidade, fotojornalismo, foto industrial e social. É formado em Turismo, com pós-graduação em Políticas Públicas (UFRJ) e já realizou exposições coletivas e individuais sobre variados temas e perspectivas. Atua também como professor de fotografia em vários cursos de nível superior (Jornalismo e Publicidade) e livres no MAM do Rio de Janeiro e em cursos profissionalizantes no SESC. Tem forte atuação como gestor cultural. Pendurou fotos em dezenas de paredes pelo Brasil e no exterior: Argentina, Bolívia, Colômbia, Itália e Alemanha.
Além de fotógrafo, ele é produtor cultural e comunicador nato. Para ele, o universo da arte diz respeito, sobretudo, à subjetividade humana e, assim, conceitos como “certo” e “errado” não se aplicam e há de se ter uma coração e mente abertos aos seu fascínios e hipnotismos.
Uma palavra que se poder identificar facilmente em seus inúmeros trabalhos é o "afeto". "Afeto" é a disposição de alguém por algo, alguma coisa”, e pode-se definir o afeto como disponibilidade para tocar o outro.
A partir desse entendimento, é pelo afeto que acontece a construção das relações e interações. É quando nos disponibilizamos a olhar e escutar o outro e, sem dúvida esse é um movimento necessário à qualquer profissional que trabalhe com a arte e que se disponha à realmente fruí-la, e, como é o caso de Davy, repassá-la. Com suas nuances, seus sentimentos e suas dores.
A partir desse entendimento, é pelo afeto que acontece a construção das relações e interações. É quando nos disponibilizamos a olhar e escutar o outro e, sem dúvida esse é um movimento necessário à qualquer profissional que trabalhe com a arte e que se disponha à realmente fruí-la, e, como é o caso de Davy, repassá-la. Com suas nuances, seus sentimentos e suas dores.
Sensibilidade é uma abertura que gera maior percepção, maior intuição, maior visão de si mesmo e dos outros. É um jeito mais alerta e integrado de viver a vida e que deve gerar um debate producente. Em seus quadros, o objetivo é impactar, expressar, muito além de retratar.
As fotografias deste simpático e encantador senhor conquistam de maneira arrebatadora, e seguem numa perspectiva de humanização, de resgate de experiência, de conquista da capacidade de ler o mundo, escrevendo a história coletiva, se apropriando das diferentes formas de produção de cultura, criando, expressando, mudando, praticando laços de coletividade e de pertencimento com o reconhecimento das diferenças.
Poesia, filosofia e antropologia também estão entre os assuntos prediletos de Davy e isso se reflete em sua obra. Sua busca constante do conhecimento, da verdade, é um olhar para dentro de nós mesmos, de quem está sempre a procura de respostas. Em cada click um ato filosófico que procura fazer refletir, criticar e argumentar diante desde mundo imperfeito e maravilhoso que vivemos.
Tal movimento apresenta-se necessário na busca de uma sociedade mais igualitária, na qual as ações em busca de perceber os diferentes modos de ser humano visando legitimar o jeito próprio e individual de cada um ser, sentir e agir no mundo, se faz urgente, tendo o diálogo como aliado nesse cotidiano.
Em uma de suas mais marcantes exposições, "Quilindo Quilombo", ficou, efetivamente, morando com os quilombolas para assim poder extrair verdade e envolvimento. Foram mais de 30 fotos que narram a residência artística de três meses no Quilombo São José da Serra, cuja origem em 1850 o torna o mais antigo do Rio de Janeiro: "Traduzir em um pequeno número de fotos, toda a história de lutas, resistência, tradições e costumes do Quilombo São José da Serra e seus quilombolas, foi o maior e, ao mesmo tempo, mais delicioso desafio para um velho fotógrafo de publicidade.", argumenta.
Em 2018, chamou a atenção para o cotidiano do continente Africano e da luta pelos direitos da população albina. ‘Preto Branco’, que marcou as 5 décadas de profissão, foi uma exposição de fotografias com viés humanitário. Comovido com a situação dos albinos e, em especial, dos albinos moradores nas fronteiras de Moçambique e da Tanzânia, ele partiu para a “Terra Mãe” com o propósito de retratar um verdadeiro drama mundial que afeta diariamente a luta pelos direitos humanos. Pelo olhar de suas lentes, optou por mostrar poética e plasticamente o enfrentamento do albino pelo respeito a seu direito inalienável de viver, denunciando adversidades tamanhas: "Sabe-se que, neste continente, os albinos são caçados e mutilados para que pedaços de seus corpos sejam utilizados em rituais de feitiçaria, para, supostamente, atender às demandas de curas e prosperidade econômica das pessoas que encomendam esses rituais. Em outras palavras, uma triste realidade!”
Um currículo e tanto, mas com muito a ser preenchido ainda. Com a pandemia, ele e a esposa, Maria Clara, estão recolhidos, mas nem de longe parados. No forno, 4 projetos áudio visuais que estão sendo produzidos em casa e com estreia prevista ainda para este semestre.
Estamos ansiosos.
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