Por helio.almeida

Há seis anos, o dia 17 de julho tem uma marca no calendário dos familiares das 199 vítimas do voo JJ3054, o acidente da TAM. Neste ano, a data trágica ainda é lembrada com dor, mas ganhou tom de esperança de justiça. E isso porque em agosto, a partir do dia 7, começa o julgamento do caso, com três réus acusados de atentado contra a segurança de transporte aéreo .

Em 2007, um Airbus A320 operado pela TAM atravessou a pista do aeroporto de Congonhas e bateu em alta velocidade contra o prédio da TAM Express.

"Quando a Justiça aceitou a denúncia contra eles [os diretores] tivemos nossa primeira vitória. Aí o juiz recusou a absolvição sumária e ganhamos um novo presente. E agora posso estar perto de vê-los condenados. Seria a maior conquista em todo o processo de luto, a nossa chance de justiça". A fala é do jornalista Roberto Corrêa Gomes, que perdeu o irmão Mário Lopes Corrêa Gomes, empresário de 49 anos, na noite do dia 17 de julho de 2007.

"No dia que o juiz aceitou a denúncia, dormi 15h direto. Pensei: 'Vencemos'. Estamos em uma caminhada de seis anos. E quero acreditar que estamos perto de ver isso acabar", disse o jornalista, que é integrante da Associação dos os Familiares e Amigos das Vítimas do Voo TAMJJ3054 (Afavitam). Ele citou ainda que é certa a presença de familiares na porta do fórum em São Paulo. “Já pedimos ao De Grandis (promotor e responsável pela acusação) para deixar a Afavitam acompanhar as audiências”. Ainda sem resposta, ele diz que pode esperar na porta.

Segundo a assessoria da Justiça Federal, o julgamento do caso será divido em três blocos. São eles: oitivas de testemunhas de acusação (7 e 8 de agosto), testemunhas de defesa (11 e 12 de novembro e 3, 9 e 10 de dezembro) e o interrogatório dos três réus (ainda sem data marcada). E os trabalhos serão presididos pelo juiz Márcio Assad Guardia, da 8ª Vara Criminal Federal.

Na denúncia, o Ministério Público Federal (MPF) imputou aos três réus a prática do crime de atentado contra a segurança de transporte aéreo (art. 261 do Código Penal). Os ex-diretores da companhia aérea Marco Aurélio de Miranda e Alberto Fajerman foram acusados de colocar em risco aeronaves alheias mediante negligência. Já Denise Abreu, à época diretora da Anac, foi acusada de imprudência.

Se condenados, Denise, Fajerman e Castro podem pegar de 1 a 3 anos de detenção, caso o juiz entenda que o crime foi culposo (sem intenção). Mas se a Justiça levar em consideração a destruição completa da aeronave - e o número de mortos -, a pena pode variar entre 4 e 12 anos.

Homenagens e indenizações

Além da expectativa sobre as repercussões jurídicas, a Afavitam mantém a programação de homenagens em São Paulo e Porto Alegre, de onde saiu o voo 3054. Familiares realizam duas vigílias simultâneas nas capitais no final da tarde até o horário do acidente, às 18h48. Na capital gaúcha, às 16h, parte da associação irá se reunir no Largo da Vida, praça em frente ao aeroporto Salgado Filho. Após a vigília, haverá missa na Catedral Metropolitana de Porto Alegre.

Já em SP, os familiares paulistanos ocuparão o Memorial 17 de Julho, local da colisão do Airbus, ao pé do aeroporto de Congonhas. “Não será um evento oficial, mas vamos para lá ficar lembrando de nossos amados e curtindo o local”, disse Silvia Masseran, que perdeu a filha Paula Masseran Xavier Gomes no dia em que completaria 24 anos. No último sábado (13), membros da Afavitam realizaram uma missa no memorial em São Paulo para facilitar o deslocamento de parentes que vivem em outros Estados.

Além do luto após perder uma pessoas querida, muitas famílias citaram o processo de indenização como o período mais doloroso. Até o último dia 10, segundo a TAM, 197 acordos indenizatórios foram fechados. Duas famílias não teriam aceitado sentar e debater valores com os advogados da companhia. "Foi o pior momento da minha vida depois da morte do meu irmão. Ele não era um carro para ser debatido em uma tabela. No final das contas, independente do valor acertado, saímos perdendo. Nós perdemos e muito."

Você pode gostar