Por helio.almeida

Acusado de ser cúmplice do ex-policial Mizael Bispo de Souza, condenado este ano pela morte da advogada Mércia Nakashima, ocorrida em maio de 2010, o vigia Evandro Bezerra Silva vai insistir no argumento de que sofreu tortura na cadeia para confessar sua participação na fuga do assassino. Com previsão para durar três dias, o julgamento de Bezerra começa na manhã desta segunda-feira no Fórum Criminal de Guarulhos, na Grande São Paulo.

Vigia quer provar que sofreu torturaDivulgação

Ao contrário de sua confissão gravada pela polícia em Aracajú (SE), a versão que os quatro advogados do vigia vão defender é que Evandro, funcionário informal de Mizael, não sabia do crime quando foi buscar o ex-policial na represa da cidade de Nazaré Paulista, onde o carro e o corpo de Mércia foram encontrados. Evandro vai dizer que recebeu um telefonema do chefe pedindo que o buscasse em uma festa perto dali.

De acordo com o advogado Felipe Eduardo Miguel Silva, seu cliente foi torturado em Aracajú (SE) – onde estava foragido – para confessar sua ajuda na fuga de Mizael, condenado a 20 anos de cadeia em março deste ano por atirar na vítima e trancá-la em seu próprio carro antes de empurrá-lo represa adentro.

Mizael e Mércia%3A Ex-policial foi condenado a 20 anos de cadeia pela morte da ex-namoradaReprodução Internet

Durante a suposta tortura, os policiais teriam colocado uma fita adesiva na boca de Evandro, coberto a cabeça dele com uma sacola e pedido que ele batesse o pé no chão quando estivesse pronto para confessar. Ao desmaiar, os policiais teriam jogado água em seu rosto para reanimá-lo e perguntado em seguida se ele estava pronto para confirmar a versão policial. “Primeiro ele foi interrogado sob tortura pelos policiais. Depois, o levaram para outra sala e filmaram sua confissão”, diz Miguel Silva. As imagens da admissão fazem parte do processo, de 22 volumes.

A suspeita

As investigações não demoraram para apontar Evandro como o principal suspeito de ajudar na fuga de Mizael. O vigia trabalhava havia alguns meses para o advogado como segurança em um posto de gasolina e feiras informais de Guarulhos.

À polícia, testemunhas afirmaram que, dias antes do crime, os dois vinham se encontrando com frequência. Uma delas afirmou que o vigia lhe teria confessado a oferta recebida de R$ 5 mil para que “fizesse uma coisa errada” para Mizael.

O vigia também é lembrado por pescar frequentemente na mesma represa, cidade em que um irmão tem um sítio. O advogado não vê estranheza nas 19 ligações que Mizael trocou com o vigia no dia do crime. “Eles trabalhavam juntos, o Evandro era vigia, mas o dono do bico era o Mizael. Eles se falaram bastante naquele dia, mas a relação dos dois era profissional. Um não frequentava a casa do outro.”

Miguel Silva espera que a condenação do ex-policial não seduza o juri popular. “A gente espera que isso não influencie. Que o Evandro seja julgado de acordo com base nas provas do processo.”

As informações são do repórter Wanderley Preite Sobrinho

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