Por helio.almeida

São Paulo - Convencida de que o autor da chacina da Vila Brasilândia é o adolescente Marcelo Pesseghini, de 13 anos, a polícia agora vai tentar responder a pergunta mais frequente entre os investigadores: por que o garoto matou a família e depois suicidou-se?

O menino Marcelo Pesseghini deixa o carro da mãe e segue para a escolaReprodução Vídeo

Para decifrar o enigma e apontar a motivação do crime, a Divisão de Homicídios requisitou um parecer do psiquiatra forense Guido Arturo Palomba, que aceitou o convite e começará a partir desta terça-feira a analisar os 35 depoimentos já tomados pela polícia.

Os mais importantes - já anexados ao inquérito - são pelo menos oito colegas e amigos cujos relatos são considerados fundamentais para reconstituir o comportamento do menino nos dias que antecederam a tragédia.

Com mais de 40 anos atuando como psiquiatra forense, Palomba produzirá um laudo através de um procedimento conhecido no meio forense como Perícia Póstuma Retrospectiva, aplicada em larga escala pela justiça cível em casos que tramitam em varas de família para contestar testamentos. O procedimento também é requisitado em ações criminais.

O levantamento engloba relatos de pessoas que conviveram com o alvo da investigação e, especialmente, o diagnóstico de saúde do menino para verificar se o uso de medicamentos ou o agravamento da doença que ele sofria - a fibrose cística - tiveram influência na mudança de comportamento de Marcelo Pesseghini.

O objetivo é tentar desvendar a motivação do crime reconstituindo o comportamento nos quatro meses que antecederam a tragédia para traçar um perfil psicológico do menino.

“Todos os indícios apontam que o menino é o autor. Seguimos várias outras linhas, mas todas elas convergem sempre para a figura dele”, diz o delegado Itagiba Franco, que aguarda a conclusão dos laudos de medicina legal , balística e de local para confirmar a autoria e circunstâncias da tragédia.

Militares eram considerados excelentes e o garoto sem problemas na escola ou na famíliaReprodução Internet

Desde o início das investigações Itagiba Franco, com 25 anos atuando na investigação de homicídios, tem dito que esse caso, chocante por se tratar de um crime psicologicamente inaceitável, só se explicaria pela psiquiatria. A Divisão de Homicídios vai traçar também um perfil do casal.

Os depoimentos mostram que desde abril, depois de se aprofundar nos jogos violentos de vídeo game, o menino vinha mudando o comportamento. O que mais intriga a polícia é entender as razões que levaram o garoto, que idolatrava o pai, a decidir-se pela eliminação.

Um dos grandes desafios dos investigadores é reconstituir os momentos que antecederam a morte de Marcelinho, que deixou a casa dos pais já na madrugada do dia 5, dormiu dentro do carro numa rua próxima a escola e assistiu a aula como se nada tivesse acontecido.

É provável que ele tenha conversado com os colegas mais próximos - especialmente aqueles com os quais contava para montar um grupo de “matadores de aluguel” - sobre o que ocorrera. Uma suposta reprovação ou a falta de solidariedade poderiam ter pesado na consciência do menino e desencadeado a tragédia dentro da tragédia, que foi o suicídio. Por essa hipótese, ele esperava que os amigos imitassem seu gesto.

O ineditismo do caso alguns pais de adolescentes com perfil parecido, desesperados com o precedente, a recorrer a especialistas. “Tenho dito aos pais que têm filhos de 13 anos que a chance (de tragédias parecidas) é zero”, afirma Guido Palomba, para quem o perfil psicológico de Marcelinho poderá explicar todo o caso.

As informações que farão parte do parecer, segundo ele, devem ser garimpadas no diagnóstico de saúde e no comportamento do menino pelos relatos de quem o conheceu. Além de colegas, devem ser ouvido também familiares do sargento Luiz Marcelo, da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), e da cabo Andréia, que trabalhava no 18º Batalhão da Polícia Militar.

Palomba diz que tudo indica que algum detalhe relacionado a doença provocou o “estreitamento” da consciência de Marcelo, fator que teria funcionado como o gatilho detonador da tragédia.

O psiquiatra diz que cinco fatores paralelos, que ele chama de concausas, teriam colaborado com o desfecho trágico: o cardápio de violência no ambiente familiar; a doença do menino - que subliminarmente provoca uma alteração na consciência -; os remédios que ele tomava; o incompleto desenvolvimento mental, próprios da idade; e, um fator que pode ter sido uma bronca ou um castigo, embora isso ainda não esteja claro.

“Posso afirmar com alguma segurança que ainda procurarei consolidar, que a causa é psicopatológica. Ele (Marcelinho) provavelmente se encontrava num estado anormal de consciência”, afirma Palomba.

A partir de agora o psiquiatra forense terá acesso a todos os detalhes da investigação. “Ele vai colaborar conosco. Será um subsídio”, diz o delegado Itagiba Franco.

As informações do repórter Vasconcelos Quadros

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