Por thiago.antunes

Rio - A foto chamou a atenção de muita gente. Sentado à mesa ao lado de outros políticos, o tucano Aécio Neves aparece com os olhos arregalados, os dentes trincados e o punho cerrado, como se tivesse vencido uma batalha de vida ou morte. Com a enérgica expressão, ele comemorava o apoio de uma ala do PMDB fluminense ao seu nome, num movimento apelidado de ‘Aezão’.

Os dissidentes, liderados pelo presidente estadual do PMDB e ex-presidente da Assembleia Jorge Picciani, estão insatisfeitos com o governo Dilma Rousseff e o PT. Exatamente por isso, decidiram aderir ao candidato do PSDB, contrariando a orientação do ex-governador Sérgio Cabral e do próprio Pezão, atual governador, que concorre à reeleição em outubro. Pela reação de Aécio durante o evento, fica claro que ele acredita que as forças lideradas por Picciani vão lhe render um mar de votos no Rio.

Também estiveram no ato parlamentares do PP, como o deputado Jair Bolsonaro. Mas, neste caso, a dissidência na base aliada tem outro motivo: Aécio é primo do senador Francisco Dornelles, presidente de honra do PP. Daí, o contraste com a decisão de apoio a Dilma em âmbito nacional. Numa eleição que se mostra a mais difícil das últimas décadas, as adesões são sempre bem-vindas.

Jorge Picciani e Aécio Neves selaram aliança de dissidentes do PMDB-RJ com o pré-candidato à Presidência no evento 'Aezão'Divulgação

Mas a dissidência do PMDB parece movida por puro oportunismo, já que, no Sudeste, o neto de Tancredo está praticamente empatado com Dilma, com 25% das intenções de voto contra 26% da presidenta, segundo a última pesquisa do Datafolha. Já o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos não consegue avançar na região (tem apenas 4% dos votos) e vai dando adeus à disputa.

O candidato tucano, sem dúvida, tem o ponto alto de sua campanha no eixo Minas, Rio e São Paulo. Traz Minas Gerais no sangue e mostrou bom desempenho ao governar o estado, tanto assim que fez o sucessor e foi eleito sem dificuldades para o Senado. Quanto ao Rio, sabe-se que o senador do PSDB é quase um carioca por adoção e costuma passar os fins de semana e feriados em seu apartamento no Leblon. Comenta-se que ele se sente mais em casa na Zona Sul do que em Belo Horizonte.

Sobre São Paulo, basta lembrar que se trata do enclave histórico dos tucanos. Por sinal, pesquisa divulgada neste fim de semana mostra que, se a eleição fosse hoje, o governador Geraldo Alckmin ganharia em primeiro turno com 44%, contra 21% do empresário Paulo Skaf e 5% de Gilberto Kassab.

É bem provável, portanto, que Aécio Neves puxe votos para os peemedebistas dissidentes, mas a recíproca não é verdadeira. Como se sabe, a imagem dos políticos tradicionais está bastante desgastada. O sentimento de mudanças que gerou os protestos de rua em junho do ano passado continua muito forte.

Para 74% dos entrevistados pelo Datafolha, é preciso dar uma guinada radical na maneira de administrar os rumos do país. A insatisfação não é com este ou aquele governante específico, mas atinge a classe política em geral. Os mecanismos de representação não funcionam como deveriam, e um contingente expressivo de pessoas se mostra indeciso diante dos atuais candidatos à Presidência da República.

Nesse ambiente, é difícil acreditar que eleitores seguirão as escolhas de caciques políticos como Jorge Picciani. O deputado e sua família têm redutos eleitorais, mas vai longe o tempo em que prevalecia o voto de cabresto.

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