Por bferreira

Rio - Há certo espanto nos meios políticos com o alto índice de eleitores dispostos a anular o voto nas eleições para presidente da República e também para o governo do estado. Pelas últimas pesquisas, a soma de votos nulos e brancos está em torno de 15%, bem acima da média das eleições de 2010. O grupo de indecisos também é bem elevado: 40% não definiram em quem vão votar. Para a maioria dos analistas, os números põem em xeque o sistema representativo, mas são coerentes com o descrédito da classe política, que se acentuou muito a partir das manifestações de junho do ano passado. A decepção é tanta que, se pudessem, os eleitores sequer iriam às urnas. Cresce no país a pressão pela adoção do voto facultativo. Prova disso é que caiu mais de 30% o total de eleitores de 16 e 17 anos. Os jovens, portanto, não se animaram a tirar o primeiro título de eleitor.

Alguns especialistas lembram que, em 1970, também houve um movimento pela anulação dos votos — até hoje o recorde de nulos e brancos pertence àquela eleição parlamentar. Vivia-se, porém, o pior período da ditadura militar, com repressão e torturas nas prisões. Vigorava o AI-5, não havia garantias constitucionais, e a imprensa estava amordaçada. Eram os anos de chumbo. Naquelas circunstâncias, as eleições eram uma farsa. O Estado de Fato tentava vestir a máscara de Estado de Direito. Surgiu, então, entre os que lutavam pela democracia, a orientação a favor do voto nulo para desmascarar o regime. Houve reações. Argumentou-se que era importante ocupar posições no Congresso. Prevaleceu, porém, a visão de que era mais importante denunciar o autoritarismo. Abertas as urnas, a revolta da sociedade ficou manifesta com 30% de votos nulos e brancos.

Em 1974, a luta pelas liberdades democráticas mudou de estratégia. A partir da experiência de 1970, concluiu-se que, apesar da censura, era possível derrotar os militares nas urnas. E possível também mudar o equilíbrio no Congresso. A melhor arma da resistência naquele momento era o voto. E assim foi feito. Brasileiros e brasileiras foram às urnas, e o MDB, o partido da oposição, elegeu 16 dos 21 novos representantes dos estados no Senado. Foram especialmente simbólicas as vitórias no Rio, com Saturnino Braga, em São Paulo, com Orestes Quércia, em Minas, com Itamar Franco, e no Rio Grande do Sul, com Paulo Brossard. Diante de derrota acachapante, os militares viraram a mesa e criaram a figura do senador biônico, nomeado pelo general Ernesto Geisel. A ditadura caminhava para o fim. O AI-5 acabou em 1979, ano da anistia e da volta dos exilados e banidos.

O voto nulo, portanto, foi usado contra o regime militar. E, mesmo em tempos de democracia plena, não deixa de ser uma opção dos eleitores descontentes com os rumos da política. Mas a melhor alternativa, no sistema representativo, é, sem dúvida, o voto afirmativo, como mostra o exemplo de 1974. Tanto para o Palácio do Planalto quanto para o Palácio Guanabara as alternativas estão postas na mesa e são claras em seus objetivos. No plano nacional, há que escolher entre Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos. E no âmbito fluminense, a disputa é entre Anthony Garotinho, Marcelo Crivella, Luiz Fernando Pezão e Lindberg Farias. Não é hora de anular o voto, mas, sim, de escolher o que é melhor para o futuro do Rio de Janeiro e do Brasil.

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