Por bferreira

Rio - Abalada, a candidata a vice Marina Silva passou o dia ontem em sua casa em São Paulo e resistiu a conversar sobre os desdobramentos políticos da tragédia que matou Eduardo Campos. Seu nome, no entanto, centraliza todas as especulações sobre o futuro da coligação Unidos pelo Brasil, liderada pelo PSB. Já com o apoio expresso da família Campos e dos principais líderes dos partidos da aliança, ela tem o desafio de dobrar as resistências da direção nacional do PSB. A legenda a acolheu depois do fracasso de criação da Rede de Sustentabilidade, seu verdadeiro habitat político.

Marina é cotada para suceder CamposMurillo Constantino / Agência O Dia

A tese do “caminho natural”, que aponta Marina como substituta de Campos foi defendida ontem pelo único irmão do ex-governador, Antônio Campos. Em uma carta pública, ele explicitou o apoio. “Como filiado ao PSB (...) e único irmão de Eduardo, que sempre o acompanhou em sua trajetória, externo a minha posição pessoal que Marina Silva deve encabeçar a chapa presidencial da coligação Unidos Pelo Brasil liderada pelo PSB”, afirmou. “É uma carta que tem peso, pois ele era um grande consultor do Eduardo”, avaliou o deputado federal e presidente da legenda em Minas Gerais, Júlio Delgado.

Outros membros da coligação também apoiam a tese. “Eu acho que isso (a escolha de Marina) é o natural, mas o momento de se tratar disso não é hoje”, afirmou Alfredo Sirkis, aliado da Rede Sustentabilidade dentro do PSB. Roberto Freire, presidente do PPS, também manifestou apoio à ex-ministra.

Mesmo tendo entrado no partido há apenas dez meses, Marina é a única com votos para sustentar uma candidatura presidencial. “O fato de ela não ser uma socialista histórica já não faz diferença neste momento. Precisamos de um nome forte para a campanha que já começa na TV na terça-feira”, admite um quadro do PSB.

Navegar em águas socialistas não será tão simples para Marina. Na direção do partido, há membros que resistem à sua candidatura. Ontem, o PSB reivindicou o protagonismo na decisão sobre a chapa. “A direção do PSB tomará, quando julgar oportuno, e ao seu exclusivo critério, as decisões pertinentes à condução do processo político-eleitoral”, informou o presidente da sigla, Roberto Amaral. A direção entende que não é adequado discutir o tema antes do sepultamento.

Na avaliação de especialistas, o partido não tem alternativa. “A última coisa que alguns membros queriam era a Marina. Mas é a única com potencial de fato para mudar a dinâmica da eleição”, avalia o cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais Bruno Wanderley Reis.

Nas redes sociais, Mayara Lima, uma de suas filhas, afirmou que a mãe “tenta se manter forte”.

CANDIDATURA DE MARINA SILVA

PONTOS FORTES

Desejo pessoal. Segundo analistas, ela tentou criar um partido para viabilizar sua candidatura.

Respaldo popular. Nas pesquisas em que aparecia submetida às intenções de voto, aparecia sempre acima dos 20%.

Quando concorreu à Presidência, recebeu 20 milhões de votos, tendo apenas um minuto de TV. Agora, seu tempo será maior.

Novos eleitores. Na opinião de analistas políticos, Marina consegue seduzir parcela significativa dos indecisos e nulos nestas eleições. Ela é vista positivamente por parte dos que foram às ruas em junho de 2013.

Foi leal a Eduardo Campos. Mesmo sendo mais forte eleitoralmente, submeteu-se ao neoaliado e ao PSB.

PONTOS FRACOS
Não terá a máquina partidária. Existe o risco de fique nas mãos do partido, que administra as finanças da campanha.

Roberto Amaral. Novo presidente do partido, é seu adversário ideológico e sempre defendeu o alinhamento ao PT.

Marcio França. Presidente do PSB de São Paulo, tornou-se inimigo pessoal de Marina, que tentou impedir sua candidatura a vice de Geraldo Alckmin (PSDB). Ela queria o amigo Walter Feldman, da Rede.

Sem voz partidária. A Rede de Marina não tem membro na direção nacional do PSB, dificultando seu diálogo. Quem fazia o papel de mediador era Eduardo Campos.

Força dos pró-Lula. Mas, segundo as análises de integrantes do próprio PSB, terão de sossegar até depois das eleições, para não “passarem de traidores”.

Nome da ex-senadora sofre resistências dentro do PSB

O caminho não será fácil para Marina Silva dentro do PSB. A morte de Eduardo Campos reforçou sua situação de estranha no ninho, piorada pela ausência de quadros de sua Rede Sustentabilidade na direção partidária. A tensão aumenta ainda mais porque quem assume a presidência da legenda é Roberto Amaral, com quem tem diferenças ideológicas sobre Brasil.

Amaral defende, por exemplo, que o Brasil expanda o uso da tecnologia nuclear como matriz energética do país, o que é rechaçado por Marina. Ele também é a favor da maior proximidade com o PT. E não está sozinho. Ao seu lado, estão o senador João Capiberibe, do Amapá, e o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande.

A ex-senadora ainda sofre com a resistência de parte do seção paulista do PSB, liderada pelo presidente no estado, Marcio França. Ela se engajou contra a candidatura dele à vice-governadoria de Geraldo Alckmin (PSDB), que concorre à reeleição em São Paulo. Para Marina, o PSB deveria lançar seu amigo Walter Feldman, da Rede.

O controle da máquina financeira também é algo que poderia causar dor de cabeça, caso ela venha a ser a candidata pelo partido. Tudo, entretanto, é relativizado. Na opinião de gente do próprio PSB, a necessidade de tê-la à frente da legenda empurraria todas as diferenças para depois.

Ainda de acordo com socialistas, um dos principais doadores do partido são ligados justamente à ex-senadora. Por essa interpretação, como são amigos dela, Guilherme Leal, da Natura, e Alice Setubal, herdeira do Itaú, aumentariam o engajamento financeiro. Na campanha, o comando de todas ações é partilhado entre os grupos de Campos e Marina desde o início e, isso, dizem eles, não deve mudar.

Para analistas políticos ouvidos pelo DIA, a favor da candidatura de Marina pesa seu desejo pessoal. “Ela quer ser presidenta, tanto assim, que tentou criar um partido pelo qual pudesse se viabilizar e, quando não, procurou Eduardo Campos para não ser esquecida”, analisou Maria do Socorro Braga, da Universidade de São Paulo.

Para Geraldo Tadeu, da UERJ, a ex-senadora também tem o respaldo popular, “maior até do que Campos tinha.” (Nonato Viegas)

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