Por tamara.coimbra

Pernambuco - O dia seguinte ao enterro de Eduardo Campos seria de festa para Renata, que completa, nesta segunda-feira, 47 anos — os dois foram um casal durante mais de 34 destes. "Ele foi o primeiro namorado dela e ela, a primeira namorada dele", conta ao iG Marcos Arraes, tio de Campos e padrinho do casamento dos dois.

Filha do médico Cyro de Andrade Lima e de Rejane de Andrade Lima, Renata estudou economia e entrou, via concurso, para o Tribunal de Contas de Pernambuco. Quando Campos assumiu o governo, em 2007, afastou-se do cargo, e aproveitou a condição de primeira-dama — inclusive os holofotes que o guarda-roupa do cargo ganham — para promover a cultura local.

Normalmente vista trajando acessórios regionais, Renata teve papel ativo na formulação do Programa Artesanato de Pernambuco (Pape) e na criação da Fenearte, considerada a maior feira de artesanato da América Latina pelo governo do estado.

Renata (segunda da esquerda para a direita) com os quatro filhosReprodução Internet

Vocacionada à maternidade

Renata acompanhou o marido sempre que pôde: esteve presente em praticamente todos os eventos públicos do qual Campos participou enquanto governador e candidato. Nunca, porém, desgrudou-se dos filhos. Se nesta eleição ela aparece com Miguel, nascido em janeiro, na campanha de 2006 ela seguia o marido pelo interior de Pernambuco amamentando José, que deu à luz dois anos antes.

"Nunca você vai ver uma foto dela com o caçula e uma babá junto. Ela nunca teve babá. Sempre cuidou ela mesma das crianças, sempre", diz Arraes, o padrinho do casal. "É ela que vai trocar fralda, dar banho."

Renata também não descuidou de Campos, que começou a namorar aos 13 anos — ele tinha 15. Considerada o porto seguro do ex-governador, sabia dividir os conselhos políticos com o papel de esposa. Jamais misturava as coisas. Campos também era dedicado. Há poucos dias, abandonou uma reunião de campanha quando soube que Renata passara mal em razão de uma crise de pressão alta.

Presente na primeira gravação do programa eleitoral, na mansão de Campos, um interlocutor se recorda da maratona que foi aquele dia. A equipe chegou às 9h para iniciar as gravações, que se estenderam até as 23h. Sob a coordenação de Renata, a cozinha serviu café, almoço, lanche da tarde, janta e ceia.

Com Miguelzinho no colo, ela se revezava entre as orientações aos empregados e os detalhes da gravação. Amamentava ali mesmo, durante algumas reuniões. Muito atenta a tudo, preferia dar conselhos ao marido reservadamente. Jamais se aproveitava do fato de ser a mulher do candidato para expressar suas opiniões sobre os rumos da gravação ou da campanha.

Próxima de Marina, mas distante de cargo político

Extremamente politizada, Renata entende os meandros da política, e todos sabiam de sua influência sobre as ideias do marido. Mesmo assim, não é vista como administradora pública e nunca esboçou esse desejo, o que enfraquece a tese de que seria uma opção para a vaga de vice de Marina.

"Ela é mãe de um bebê de seis meses agora. Mãe e pai, agora", diz um integrante da campanha do PSB à Presidência, sob condição de anonimato.

Após dez meses de convivência, Renata acabou se tornando amiga pessoal da ex-senadora e principal defensora de sua candidatura. Partiu dela a recomendação para que o irmão de Campos, Antônio Campos, defendesse publicamente que Marina tomasse o lugar do irmão na cabeça de chapa.

Renata%2C com o caçula Miguel no colo%2C e Eduardo Campos durante uma missa no início de agostoReprodução Facebook

Interlocutores ligados à vice negam que ela tenha indicado Renata para ocupar seu lugar, mas faz questão de que ela tome parte na campanha, subindo em palanques em nome do marido e arregimentando aliados no PSB.

Renata também é religiosa. Foi a responsável por decorar o casarão da família, que ocupa meio quarteirão no bairro nobre de Dois Irmãos, nos fundos da casa do pai. As imagens sacras estão por toda a parte, principalmente na sala de estar e acessos a outros cômodos.

Segundo amigos da família, Campos aprendeu a ler a Bíblia recentemente por influência do filho João Henrique Campos, considerado seu sucessor político. O garoto, de 20 anos, passou a frequentar um templo da Assembleia de Deus no centro de Recife, e teria levado o pai a pelo menos três cultos.

Aos sábados, Renata costuma levar os filhos para passear no Shopping Plaza Casa Forte, centro de compras da elite local. Sempre a bordo de um Hilux prateado, a família estacionava entre dois carros pretos, repletos de seguranças. Nessas ocasiões, o filho chamava mais a atenção. Havia sempre alguém para gritar “olha o filho do governador”.

Por lei, ainda não se sabe se Renata retomará o cargo de auditora do Tribunal de Contas de Pernambuco, do qual se afastou para ser primeira-dama de Pernambuco e, potencialmente, do Brasil. As férias, que ela emendou na licença-maternidade em razão do nascimento de Miguel, terminam neste mês.

Interlocutores que viajaram com o casal nos últimos meses dizem que a primeira impressão que se tem de Renata é de uma mulher vocacionada para a maternidade. Sempre em contato com os quatro filhos mais velhos, não desgruda do mais novo, Miguel, portador de síndrome de Down.

Miguelzinho, como é tratado por Renata, parece uma extensão de seu corpo. Na viagem da última segunda-feira para o Rio de Janeiro — a última que fez com o marido —, ela dizia que o bebê era mesmo como parte de si. Em uma conversa descontraída com Campos, Marina e alguns membros da campanha, ela foi categórica ao dizer que nasceu para ser mãe e que lhe dava uma certa tristeza saber que Miguelzinho seria seu último filho.

Matéria realizada pelos repórteres Wanderley Preite Sobrinho com colaboração de Vitor Sorano do iG

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