Por karilayn.areias

Rio - A simplicidade da sepultura onde Campos foi enterrado chamou a atenção de muita gente no país, mas, para quem vive lá, não há novidade alguma. Simplicidade sempre foi a marca da família Arraes. E este é o fator que mais a aproxima do “povão”. A casa da família de Campos é confortável, mas sem grandes luxos e longe da área nobre da cidade. Fica na Zona Norte, no bairro Dois Irmãos, a pelo menos meia hora, com sorte, da turística Boa Viagem, o bairro à beira-mar mais conhecido da capital.

Na rua onde morava%2C vizinhos confirmam o estilo de vida que aproximava Campos da população. Painel em sua homenagem foi instalado na portaErnesto Carriço / Agência O Dia

Na vizinhança, casas com o mesmo padrão dividem a rua com outras bem simples, com tijolos aparentes. Até o asfaltamento é precário. Algumas ruas ainda são de terra batida. Nem segurança há por perto. Sejam policiais ou mesmo particulares do governador. Tanto que uma equipe de jornalistas acabou assaltada na última sexta-feira, o que só então fez a polícia reforçar o efetivo no local.

“Seu Eduardo passeava com o cachorro por aqui, falava com os vizinhos. Me lembro da vez em que foi eleito governador. Passou por mim, cerrou o punho com os olhos arregalados e um sorriso largo e disse: ‘Ganhamos’. Os filhos e Dona Renata também são pessoas simples, sem luxo”, contou o vizinho, Manoel Francisco, que vive numa casinha sem muito conforto, a poucos metros da residência dos Arraes.

Os hábitos de vida simples, sem ostentação, ajudam a reforçar a idolatria de boa parte dos pernambucanos pela família Arraes, que vai muito além das realizações políticas de Eduardo Campos e do seu avô, o também ex-governador Miguel Arraes. Para uns, o Doutor Arraes. Para a maioria, o “Véio Arráia”, apelido pronunciado carinhosamente com o sotaque recifense. Para todos, o homem que levou energia elétrica e água para o sertão.

Morto no mesmo dia que o avô e ídolo, Eduardo Campos caminha para virar mito em Pernambuco. Como Miguel Arraes. O respeito que o pernambucano tinha pelo Arraes é maior do que qualquer outro político. Muito mais até do que o Lula, que foi presidente da República e era pernambucano, coisa que o Arraes não era. Era cearense. “Mas ninguém fez mais por este povo. Virou mito mesmo. Ele tinha a voz embolada e era difícil entender o que dizia, mas ele falava com a nossa alma”, disse o gari Rosalvo da Conceição, no funeral.

O escritor Marcelo Meira, que trabalhou com Miguel Arraes nos anos 1980, não faz parte da turma de fãs do avô de Campos, mas tem um depoimento impressionante, que dá a dimensão da idolatria do político no estado, sobretudo no sertão. “Via doentes colocarem a foto do Arraes num copo d’água, misturar bem e beber em busca de um milagre. Um troço incrível”, conta Meira.

Agenda sempre cercada pelos filhos

O número de presentes no funeral de Eduardo Campos, que passou de 150 mil pessoas, é o dobro do registrado na morte do avô, político mais popular da história do estado. Para muitos, o sentimento era de orfandade. Pai de cinco filhos, o ex-governador costumava dizer que gostava de “criar gente”. E se preocupava tanto com os seus filhos quanto com os dos outros. Dizia sonhar com um país onde filhos de ricos e pobres, trabalhadores e patrões, negros e brancos, estudassem na mesma escola.

“Ele tinha a vida atribulada, mas vivia ‘arrodiado’ dos filhos. Sempre que podia, carregava os meninos junto dele. Era apaixonado por crianças, que simbolizavam para ele um futuro melhor”, conta o fotógrafo Genival Fernandes, que desde 2005 fazia imagens do ex-governador. Campos o chamava pelo apelido, “Papparazi”, que, no caso de Genival, deixou de ser adjetivo para virar substantivo na voz do ex-governador.

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