Caxambu (Minas Gerais) - As estratégias marketing da campanha da presidenta Dilma Rousseff (PT) marcam um novo tempo na disputa pelos votos e devem inaugurar um meio diferente de conquistar eleitores. Essa é a opinião do cientista político Rudá Ricci, do Instituto Cultiva, acompanhou as campanhas pelas redes sociais. A página criada para o monitoramento possui atualmente 100 mil acessos diários e se manteve em contato permanente com os coordenadores políticos de Aécio Neves e Dilma Rousseff.
Em entrevista ao DIA durante o encontro anual da Associação Nacional dos Pesquisadores de Ciências Sociais (Anpocs) em Caxambu, no interior de Minas Gerais, ele disse que as “armas” utilizadas pelos dois candidatos exploram amplamente as biografias dos candidatos, como acontece nas eleições presidenciais nos EUA.

Para Ricci, a equipe de Dilma esteve mais concentrada na busca dos eleitores indecisos que foram essenciais em uma disputa tão apertada. “A campanha da Dilma desse ano dá mais um passo nessa profissionalização no caminho dos EUA. Ambos tinham um arsenal de pesquisas privadas feitas com contratação de levantamentos quantitativos e qualitativos que são muito caros e com leituras muito sofisticadas e com campanhas de comunicação vinculadas as redes sociais” explicou.
MAIS DE 2 MIL PROFISSIONAIS NAS REDES SOCIAIS
O pesquisador revela que tanto a equipe de Aécio Neves, candidato derrotado do PSDB, como a de Dilma contrataram empresas e profissionais até do entretenimento para atuar especialmente nas redes sociais. Ele disse que não poderia revelar os nomes dos contratados. O PT, no entanto, se organizou de modo mais eficiente para articular o discurso da presidenta nos debates com o que era republicado nas redes de modo a reverberar em todos os locais. “Eram duas mil pessoas formadas para atuar durante as eleições portanto não eram mais aqueles fakes (perfis falsos) que a gente via atuar na campanha de 2012. Eram pessoas informadas e com dados”, contou.
Para Ricci, no entanto, a vitória de Dilma foi planejada em uma estratégia curiosa, mas decisiva. Segundo ele, integrantes do partido informaram que já imaginavam que a primeira semana do segundo turno seria de intenso bombardeio contra a candidatura da petista. Além disso, o apoio majoritário dos candidatos derrotados a Aecio também era outro movimento já previsto. Naquele momento, a coordenação teria optado por simplesmente “segurar o tranco” para começar o “processo de desconstrução” por meio das redes sociais no final de semana que antecedeu o primeiro debate, promovido pela Rede Bandeirantes.
No primeiro confronto entre os dois, Ricci lembra que Dilma colocou em pauta a Lei Maria da Penha e a violência contra a mulher. Ao responder, Aécio se mostrou despreparado para o tema. Em seguida, o PT passou a veicular uma propaganda na qual mostrava as imagens de Aécio chamando Luciana Genro e Dilma de “levianas” durante os debates.O ex-presidente Lula também estava afinado com o discurso. No mesmo dia em que Dilma e Aécio travaram um duro embate no SBT, o padrinho político da presidenta fazia coro à acusação. “Quando eu vejo um homem na televisão ser ignorante com uma mulher, como ele [Aécio] tem sido nos debates, eu fico pensando: se esse cidadão é capaz de gritar com a presidenta, fico imaginando o dia que ele encontrar um pobre na frente: é capaz dele pisar ou não enxergar", disse o ex-presidente em um comício em Manaus. “Isso é uma campanha precisa, detalhista, fria e muito profissional. Nós mudamos o patamar de campanha no Brasil”, avalia Rudá Ricci.
Ricci também explica que a equipe de Dilma tinha um grupo dedicado apenas a pensar as estratégias com base a dados focados nos votos dos indecisos e a partir disso eram construídos posicionamentos. Foi de lá que surgiu a ideia de tratar a questão da violência contra a mulher. “É uma campanha que trabalhava em cima de você, quem você é, seus valores, sua história de vida, para você gostar disso e odiar o outro. Aí você se engaja porque na hora que você adere à campanha, mas odeia o outro você não vai ouvir mais. Isso é fortíssimo”, aponta o pesquisador.