Brasília - A presidenta da Petrobras, Maria das Graças Foster, anunciou nesta segunda-feira que a empresa estuda a criação de uma diretoria de compliance para aprimorar o combate à corrupção na petrolífera. A ideia foi apresentada ao conselho e está começando a ser estruturada na cúpula da companhia, mas ainda não há detalhes sobre como a área irá operar e quais nomes que poderiam ocupar funções na nova diretoria.
Segundo a presidenta, o conselho da estatal recomendou o “aprofundamento” de estudos. O compliance é um termo usado na área corporativa para definir práticas que garantam o cumprimento de leis, regulamentações e normas internas de empresas.

“Entendemos que é algo bastante importante e até certo ponto urgente para a nossa companhia”, afirmou Graça Foster ontem, após a apresentação do balanço operacional da empresa para investidores.
Na prática, ela não explicou como a diretoria vai se diferenciar da área de auditoria interna, que apura os casos de desvios na estatal. Disse apenas que o setor trabalhará de forma mais próxima a outras diretorias, fazendo parte do dia a dia da empresa. “Queremos respeito na nossa governança. Fizemos uma apresentação oral simplificada ao conselho na semana passada e hoje já amanhecemos trabalhando a estruturação dessa diretoria”, afirmou Foster.
Na última sexta-feira , 23 pessoas foram presas em mais uma fase da operação Lava-Jato, ação desencadeada em março que investiga atos de corrupção dentro da Petrobras. Suspeita-se de irregularidades em contratos que somam R$59 bilhões entre 2003 e 2014.
Diante das denúncias, a empresa atrasou a divulgação de seu balanço financeiro do terceiro trimestre para 12 de dezembro. Ontem, a companhia reuniu seus investidores para apresentar o relatório das operações da companhia.
A estimativa de crescimento na produção de petróleo e gás em 2014, que era de 7,5%, caiu para previsão de 5,5% a 6%. Segundo o documento apresentado, a revisão foi por conta de atraso na entrega de plataformas e nos processos de licenciamento. Também houve adiamento na interligação de alguns poços.
No terceiro trimestre, a companhia produziu, em média, 2.090 milhões de barris de petróleo e gás natural por dia, um crescimento de 8,6% em relação ao mesmo período de 2013. Graça Foster admitiu que foi informada sobre propinas pagas pela empresa holandesa SBM a funcionários da Petrobras. Ela disse que foi procurada pela própria companhia depois que uma comissão interna da Petrobras investigou o caso e não encontrou nenhum indício de irregularidade.
“Passados algumas semanas, ou meses [do relatório da comissão], fui informada de que havia sim o pagamento de propina para ex-empregado de Petrobras. Imediatamente informamos à SBM que ela não participaria de nenhuma licitação”, disse.
A presidenta disse que vai manter os contratos com a SBM, assim como os contratos de fornecedoras investigadas na Lava-Jato. “Não vamos interromper os contratos até que tenhamos informações que justifiquem o encerramento”, afirmou.
Ações da petroleira e da Eletrobras despencam na Bolsa
As ações da Petrobras e da Eletrobras despencaram no pregão de ontem, pressionando a Bovespa a fechar em queda de 1%. Em meio a denúncias de corrupção e processos de investigação, a Petrobras teve queda de 4,70% em suas ações preferenciais e de 4,77% nos papéis ordinários.
A teleconferência feita por Graça Foster com investidores durante a manhã não impediu o fim do mal estar causado pelo adiamento da divulgação do balanço trimestral da empresa. O relatório deveria ser entregue na última sexta-feira.
De acordo com o novo cronograma da companhia, um primeiro balanço será divulgado no dia 12 de dezembro. Este documento não será revisado pela PwC, a empresa que audita as contas da companhia. “Essas informações, ainda que não revisadas, refletirão da melhor forma possível a situação patrimonial da Petrobras à luz dos fatos conhecidos”, afirmou o diretor-financeiro da companhia, Almir Barbosa. As informações auditadas ainda não têm data para serem divulgadas.
Nesta segunda, Graça Foster admitiu que as investigações da operação Lava-Jato podem influir na contabilidade da empresa. Ela afirmou que o depoimento do ex-diretor Paulo Roberto Costa poderá ter impactos no balanço.
“Foi o depoimento de oito de outubro que trouxe as tais provas emprestadas. A partir daí, entendemos que não estaríamos prontos para elaborar nossas demonstrações contábeis”, afirmou. Apesar do fraco desempenho da petrolífera, a maior queda do pregão foi das ações da Eletrobras. As ações da elétrica caíram 8,84% (PNB) e 7,61% (ON), respectivamente.
A empresa divulgou seu balanço ontem e relatou um prejuízo de R$ 2,738 bilhões, valor 300% maior que o déficit registrado no mesmo trimestre do ano passado. O rombo no caixa da elétrica coloca em risco o pagamento de dividendos aos investidores da empresa neste ano. “Tivemos dois anos consecutivos de prejuízo no balanço e nem por isto deixamos de pagar dividendo. Este ano tem probabilidade real de não pagamento de dividendos, temos esta questão hoje muito forte, mas isto será pontual”, afirmou o diretor-financeiro e de relações com investidores da Eletrobras, Armando Casado de Araújo, durante a conferência de apresentação dos dados da companhia.