Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - No sábado à noite, talvez em homenagem à reunião do diretório Nacional do PT em Fortaleza, o Canal Brasil exibiu o documentário ‘Entreatos’, de João Moreira Salles, que mostra bastidores da vitoriosa campanha de Lula à Presidência em 2002. Com total liberdade, são filmadas reuniões e conversas de Lula no interior de jatinhos e em hotéis. As cenas dos momentos que antecedem a chegada do PT ao poder são as mais emocionantes. Lá está a cúpula do partido, tendo à frente José Dirceu, Antonio Palocci, Gilberto Carvalho, Luiz Gushiken e Luiz Dulci, além de jornalistas dedicados como Ricardo Kotscho e Wilson Thimoteo, o Tom. Menos de dois meses depois, todos estavam em Brasília ocupando altos cargos no primeiro governo Lula. Vale assistir ao filme de Moreira Salles (por ironia, um herdeiro de banco) para ver como os tempos mudaram. E o PT também.
?Gushiken e Tom morreram. Dirceu e Palocci afastaram-se, o primeiro por força da condenação no julgamento do mensalão e o segundo pelo envolvimento em casos rumorosos. Dulci administra a memória do líder, no Instituto Lula. Kotscho, repórter renomado, voltou à imprensa. E Gilberto Carvalho, o único que continua no Palácio do Planalto com Dilma Rousseff, está prestes a sair. Pode assumir a direção da Funai ou deixar Brasília e se unir aos amigos em São Paulo.
Publicidade
Ou seja, os principais personagens de ‘Entreatos’ (também aparece Silvinho Pereira, que escapou por pouco da degola do mensalão) não estão mais na ativa. E, sem a geração fundadora, o PT vai perdendo grande parte de sua aura. Cada vez mais parece um partido como outro qualquer, com os mesmos vícios. Não espanta o mau desempenho nas últimas eleições. A emoção de 2002 é página virada.
Mas o presidente nacional do PT, Rui Falcão, não entrega os pontos. Um dos poucos remanescentes, ele faz o possível para não deixar a estrela perder o brilho por completo. No fim de semana, endossou a proposta da corrente Mensagem, que prevê punição rigorosa para membros do PT que se envolvam em casos de corrupção. Na versão original, os filiados comprovadamente envolvidos seriam punidos com expulsão “imediata”. No texto final, porém, retirou-se tal determinação. Falcão, que é bacharel em Direito, achou importante ressaltar que, antes da expulsão todos terão direito a defesa e ao contraditório. E garantiu que “se alguém estiver envolvido, essas pessoas não ficarão no PT”. Trata-se, sem dúvida, de boa nova. Mas a mudança de tom vem comprovar que, até agora, havia condescendência com casos de corrupção. O que certamente comprometeu a imagem do partido.
Publicidade
Em sua tentativa de transformar limão em limonada, Falcão aproveitou a reunião de Fortaleza para explicar que o PT terá um “protagonismo não exclusivo” no segundo mandato de Dilma. Disse que o fundamental é que a presidente é filiada ao PT.
E mostrou-se conformado com a troca do petista Guido Mantega no Ministério da Fazenda por Joaquim Levy, economista de perfil liberal, com doutorado na conservadora Universidade de Chicago. “Mais importante do que a nomeação de um executivo de banco, agora, é a reafirmação da presidente Dilma de que a política econômica será mantida”. Na verdade, o PT levou um golpe forte. Não perdeu apenas a Fazenda. Também ficará de fora dos Ministérios do Desenvolvimento e da Agricultura. Mas, se der saudades dos tempos épicos, é sempre possível rever ‘Entreatos’.
Publicidade