Por karilayn.areias
Brasília - Num dos depoimentos à Polícia Federal em Curitiba (PR), Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, executivo da Toyo Setal, apontou para a existência de um suposto esquema de propina em troca de contratos com a Infraero, que realizava obras no Aeroporto de Brasília.
Esquema de propina teria ocorrido no contrato de execução da instalação elétrica no Aeroporto de BrasíliaElsa Fiuza/ ABr

Segundo disse em acordo de delação premiada, ele foi informado por um dos sócios da construtora Beter que, para a execução do contrato de instalação elétrica no aeroporto, haveria de fazer pagamentos de “comissão” diretamente ao então presidente da estatal, Carlos Wilson, morto em 2009. À época, segundo disse no ano de 2002, Mendonça Neto era dono da PEN Engenharia, uma subcontratada para a execução da obra.

Wilson esteve à frente da estatal entre 2003 e 2006, portanto, um ano depois do que é apontado como o da cobrança de propina.

De acordo com o delator, a informação sobre a cobrança de “comissão” foi relatada pelo contratante na tentativa de conseguir um desconto maior no valor dos serviços que prestaria à construtora Beter.

“O argumento da Beter era de que teria custos com o pagamento da ‘comissão’ em favor de Carlos Wilson”, diz o depoimento do executivo à PF, ao qual O DIA teve acesso. Mendonça Neto, entretanto, afirma não se lembrar do valor da suposta propina.

O executivo da Toyo Setal aceitou delatar seus companheiros de esquema de corrupção para obter redução de pena após a deflagração da Operação Lava Jato.

Acusado por Mendonça Neto, Carlos Wilson foi deputado federal pela Arena, depois pelo PMDB, vice-governador de Pernambuco na chapa de Miguel Arraes, em 1986, e assumiu o estado em 1990. Foi ainda ministro de Itamar Franco; senador pelo PSDB, até 2003; e, por fim, filiou-se ao PT. Foi no primeiro ano do governo Lula que Wilson assumiu a estatal.
O esquema de cobrança de “comissão” sobre obras é parecido com o que é narrado pelo delator e que se repetiria na Petrobras.

Em 2011, o Tribunal de Contas da União chegou a condenar o espólio de Carlos Wilson a devolver R$ 19,5 milhões aos cofres públicos, como ressarcimento de prejuízos causados por gestão temerária e “ruinosa”. O caso foi parar na Justiça, com denúncia do Ministério Público Federal.
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Procurada por e-mail, a Infraero não respondeu aos pedidos feitos pelo DIA.