Por tamara.coimbra

São Paulo - A adolescente que foi morta e decapitada pelo namorado na última quinta-feira tinha o sonho de se casar e ser mãe, segundo familiares e amigos. Shirley Souza, de 16 anos, estava grávida de sete meses quando foi morta. O namorado, José Ramos Souza, de 23 anos, levou a cabeça da namorada na delegacia dois dias depois de cometer o crime. O corpo foi deixado na viela onde morava, no bairro Jardim Selma, região da Pedreira, na Zona Sul de São Paulo.

Shirley e suposto amante%2C em fotomontagem feita por José no Facebook deleReprodução Facebook

De acordo com a estudante Larissa Henrique da Silva, de 16 anos, amiga e confidente de Shirley, a gravidez foi planejada pelo casal. “Eles planejaram a gravidez. Tentaram várias vezes. Como não conseguia até achou que tinha algum problema no útero. Quando achava que estava grávida, ia fazer exame e ficava muito triste quando o resultado era negativo”.

Larissa conta que quando a gravidez foi confirmada a jovem ficou muito feliz. A criança seria uma menina e se chamaria Kiara ou Nayra. “Ele também ficou feliz e disse que até iria procurar emprego para sustentar a criança e morar com Shirley”. Santos, que era usuário de drogas, nunca trabalhou e parou de estudar na 5ª série.

Os dois, segundo familiares, namoravam há cerca de um ano e tinham uma relação conturbada, com brigas e discussões diárias por causa de ciúmes dele. O relacionamento, segundo a amiga, fez a adolescente se afastar.

“Shirley sempre foi muito feliz, era difícil alguém não gostar dela. Mas depois que engravidou, mudou. A gente achou que era por causa da gravidez. Antes ela vinha aqui em casa todos os dias e depois parou. Vinha uma vez por semana e às vezes nem vinha”, relata.

A prima da jovem, Jaqueline Souza, de 20 anos, disse que ela parou de visitar amigos e parentes por causa do namorado. “Acho que ele a ameaçava. Quando Shirley estava sozinha, conversava com a gente. Mas quando estava com ele, não falava com ninguém. Antes de namorar, era alegre, conversava com todo mundo. Mas depois ficou calada, mais fechada”.

A mãe de Shirley, a dona de casa Luciana Souza, conta que aconselhou a filha a terminar o namoro. “Eu falava que eles não iam dar certo porque brigavam muito, mas ela não me ouvia. Estava obcecada por ele”.

Apesar da relação conturbada, Luciana afirma que ele não era violento. Apenas em episódio, ele confirmou que a empurrou. A informação, no entanto, foi contestada pela amiga Larissa. “Ele bateu nela uma vez dentro da casa dela. Shirley achava que era por causa da droga. Mas quando isso aconteceu, ela revidou e ele nunca mais bateu. Em uma das brigas, rasgou as roupas dela, quebrou um perfume e até o celular”. O motivo das brigas era o ciúme excessivo que Santos sentia pela jovem.

Homem decapita namorada grávida e leva cabeça para a delegacia de SP

Santos tinha certeza que ela o traía e esse foi o motivo alegado por ele para cometer o crime. Ele chegou a dizer que ela teria confessado que o traiu com um amigo dele nas vésperas do Natal e Ano Novo.

Os familiares e amigas de Shirley dizem, no entanto, que ela não o traiu e que tinha certeza que a filha era dele. “Ela disse várias vezes para ele que iria esperar a criança nascer para fazer o teste de DNA. A criança era dele. Ela não tinha dúvida”, diz Larissa.

A amiga conta também que Shirley não tinha medo do namorado e como as brigas eram muito constantes ninguém se metia. “Ela falava que amava ele muito. Estava louca. Quando eles brigavam, a gente falava para se separarem, mas no dia seguinte, estavam juntos de novo. Ninguém se metia mais”, diz Larissa.

Larissa conta também que Shirley foi ameaçada por Santos. “Ele dizia que eu sabia que ela tinha traído e que a gente tinha um pacto”.

Confessou crime no Facebook

Antes de se entregar na delegacia, Santos chegou a usar a rede social Facebook para postar uma montagem com a foto da namorada e um homem identificado como Eduardo. Ele também publicou uma foto da cabeça já cortada da namorada. Na publicação, o rapaz escreveu: “Traição dá nisso...mentiras...Odeio”. A publicação foi apagada. O iG teve acesso às fotos da cabeça da jovem decapitada. A imagem é muito forte e por isso não será publicada.

Jaqueline, prima de Shirley, diz que a decapitação era a ameaça mais constante de Santos para namorada. “Ele sempre falava que se ela o traísse iria cortar a cabeça e exibir para a favela inteira”.

Antes de se entregar, o jovem chegou a confessar para Larissa, durante uma conversa virtual, que matou a namorada.

Jovem que confessou decapitação admitiu crime em conversa no Messenger%2C segundo amigaReprodução Facebook

No diálogo, que aconteceu no sábado (28), por volta das 19h30, Jaqueline pergunta onde está amiga e o que ele teria feito com ela. “Matei ela agora ela mim trair no inferno [sic]”, respondeu.

Jaqueline ainda respondeu que ele não teria coragem de matar a namorada. “Ninguém mandou ela mim trair [sic]”,rebateu ele. A jovem ainda tentou argumentar que a adolescente não teria o traído. Ele apenas respondeu com uma risada.

Casal se conheceu quando os dois eram crianças

José e Shirley se conheceram quando ainda eram crianças. Ele tinha cerca de 10 anos e ela tinha 4. O pai dele é casado com a mãe dela há aproximadamente 12 anos e têm dois filhos. “Antes, ela nem gostava dele porque o José era muito pirracento. Ligava o som alto e ela não gostava”, diz a prima Jaqueline.

Luciana, que além de sogra, era madrasta de Santos, diz que praticamente criou o menino, já que se casou com o pai dele quando o menino tinha 10 anos. “Quando ele era pequeno, nós tínhamos uma relação mais próxima. Não era uma relação de mãe e filho, mas eu o considerava como um filho. Agora só sinto ódio”. Ela diz que espera que ele fique preso para sempre.

Santos tinha também outros sete irmãos, frutos do primeiro casamento da mãe, que morreu quando ele ainda era criança.

Os irmãos e vizinhos dizem que ele é uma pessoa calada e boa. Apesar de Santos morar há dois anos em um pequeno quarto com banheiro com um dos irmãos, poucas pessoas o conheciam no bairro. “Foi uma surpresa muito grande. Como não trabalhava, vivia dentro de casa e não mexia com ninguém”, diz a cunhada Sizete Cardoso dos Santos, 50 anos.

O ajudante de pedreiro Adriano Ramos dos Santos, de 29 anos, que morava com Santos, diz que ele não era um homem violento e que aparentemente a relação dos dois era “normal”. “Eles ficavam em casa. Shirley era alegre. Gostavam de assistir filmes”. Segundo Adriano Ramos, o irmão usava drogas, por isso o aconselhou a largar a cocaína e até tentou arrumar trabalho para ele, que recusou.

Em seu perfil no Facebook, Santos tem fotos do serial killer Jigsaw, do filme "Jogos Mortais". O rapaz se identifica com o apelido Zel Past Troubled, que significa passado problemático (em tradução livre do inglês).

O crime

Shirley foi morta na última quinta-feira. Segundo depoimento de Santos na delegacia, o casal teve relações sexuais e ele esperou a adolescente sair do banheiro para aplicar uma gravata que a fez desmaiar. O rapaz pegou a faca e cortou a cabeça dela e a colocou em uma mochila. Ele amarrou as pernas e o tronco com saco plástico e enrolou o corpo em um edredom, que pediu emprestado para a mãe da vítima.

“Ele veio aqui em casa e pediu o cobertor. Eu perguntei da Shirley e ele disse que ela estava bem. Ele também pegou uns DVDs, o computador dele e umas caixas de som”, diz Luciana.

Nesse dia, Adriano dormiu na casa com o irmão, mas disse não ter notado nada de estranho. “Eu não notei nada. Não entrava lá e ele estava normal. A única coisa diferente é que a casa estava limpa. Ele não limpava nada”, relata.

Só no dia seguinte, o irmão reclamou o mau cheiro na casa, mas diz que nem imaginou o que realmente aconteceu. “Não tinha porque eu entrar no quartinho. Ele colocava as roupas sujas lá e eu nunca entrava. Fazia tempo que não mexia lá”, diz.

No sábado à tarde, Santos deixou o corpo embaixo de uma casa a poucos metros de onde morava. Ele colocou a cabeça da jovem em uma mochila, pegou dois ônibus e levou a cabeça até o 1º DP, na Liberdade, região central de São Paulo, distante cerca de 20 km do local. Santos está preso preventivamente.

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