Por tamara.coimbra

Pernambuco - A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras ouve nesta terça-feira o depoimento do ex-gerente-geral da Refinaria Abreu e Lima, Glauco Legatti, no município de Ipojuca, em Pernambuco. O executivo foi afastado do cargo em novembro, por decisão interna da Petrobras. De acordo com o engenheiro Shinko Nakandakari, um dos delatores da Operação Lava Jato, Legatti recebeu propina do chamado clube — cartel de empresas que, supostamente, pagava para obter contratos com a estatal e que é alvo de investigação da Polícia Federal.

A Refinaria Abreu e Lima começou a operar no fim do ano passado em Pernambuco. Com projeto inicial orçado em US$ 2,5 bilhões, a construção da refinaria acabou custando cerca de US$ 18 bilhões.

Em depoimento nesta terça, Glauco Legatti negou à CPI da Petrobras ter recebido propinas de Shinko Nakandakari, delator que admitiu ter sido o operador da empreiteira Galvão Engenharia em esquema revelado pela Lava Jato. Entretanto, ele admitiu ter relação de amizade com o delator Nakandakari, mas ele negou ter discutido com ele projetos ligados à Galvão Engenharia.

Ex-gerente-geral da Refinaria Abreu e Lima%2C Glauco LegattiPedro França/Agência Senado

“Não é verdade que o senhor Shinko pagou o dinheiro para mim. Não recebi um centavo do senhor Shinko”, afirmou ao ser perguntado pelo relator da comissão, Luiz Sérgio (PT-RJ).

Em sua delação, Nakandakari disse que pagou R$ 400 mil em propina a Legatti,então gerente-geral de implementação do projeto de Abreu e Lima, entre 2008 e 2014, para facilitar aditivos aos contratos da empresa Galvão Engenharia com a Petrobras. Segundo Nakandakari, os pagamentos ocorreram em parcelas entre junho de 2013 e junho de 2014.

“O meu relacionamento com ele [Nakandakari] foi sempre pessoal e eu fiquei extremamente surpreso quando apareceu no jornal que ele era o operador de outras pessoas”, destacou Glauco Legatti.

Ele disse ainda que ao ter sido informado das declarações de Nakandakari, entrou com um pedido junto ao juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações na primeira instância para esclarecer que não recebeu a quantia.

Além disso, Legatti disse à CPI que tem apenas relacionamento profissional com o ex-gerente de serviços da estatal, Pedro Barusco, e com o o ex-diretor de serviços, Renato Duque. E nega conhecer o doleiro Alberto Youssef, acusado de lavagem de dinheiro oriundo do esquema.

Graça Foster

Em depoimento à CPI da Petrobras na semana passada, a ex-presidenta da empresa Graça Foster falou sobre a discrepância entre o valor orçado inicialmente e o valor final do projeto. Para ela, o projeto básico da refinaria foi mal elaborado. “Se você não tem projetos básicos de qualidade, você vai ter aditivos. Na Abreu e Lima, a questão principal foram as mudanças sucessivas no projeto. Até as características do petróleo que seria refinado ali mudaram durante o processo”, disse Graça para quem a empresa cometeu um erro ao divulgar o valor inicial.

Graça Foster declarou que quem descobriu a corrupção na Petrobras foi a PF e não um auditor externo Agência Brasil

Durante as investigações da Lava Jato, a Polícia Federal apontou Shinko Nakandakari como operador do esquema de pagamento de propina em nome da Galvão Engenharia. Em seus depoimentos ele cita o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e o ex-gerente de Tecnologia Pedro Barusco como beneficiários do esquema de propina.

Em depoimento à Justiça Federal, o executivo da Galvão Engenharia, Dario Queiroz, preso na Lava Jato, disse que também foram beneficiados pelo esquema o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Youssef e João Claudio Genu, ex-assessor do PP. Queiroz admitiu ter participado de uma reunião em 2010 para acertar o pagamento de R$ 4 milhões em propina, por meio de contratos fraudulentos entre a empreiteira e empresas de fachada de Youssef. Os pagamentos teriam sido intermediados por Nakandakari.

Vaccari vai depor na CPI da Petrobras no dia 23 de abril

O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras na Câmara, Luiz Sérgio (PT-RJ), disse nesta terça-feira que o depoimento do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, deve ocorrer no dia 23 de abril. Antes, a comissão deve ouvir, no dia 16, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Luciano Coutinho.

A CPI aprovou a convocação de Vaccari na semana passada, durante reunião deliberativa em que também foram aprovados mais de 100 requerimentos de convocação para depoimentos, quebra de sigilos e de compartilhamento de documentos e informações. Entre os requerimentos aprovados também está o da ex-gerente de Abastecimento da Petrobras Venina Velosa da Fonseca.

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