Por felipe.martins

Rio - Aconteceu em Roma no século 63 antes de Cristo. Preocupado com as manobras de Lúcio Sergio Catilina para usurpar o poder e se apropriar das riquezas do império, Marco Túlio Cícero subiu à tribuna do Senado para denunciar a conspiração. Primoroso orador, apontado até hoje como um dos maiores de todos os tempos, o magnífico senador fez quatro discursos para denunciar o inimigo. E deixou para a posteridade perguntas célebres: “Até quando Catilina abusará de nossa paciência? Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?”. A denúncia surtiu efeito. Acuado, Catilina afastou-se do Senado, formou um exército rebelde, mas foi morto em batalha. O episódio da história de Roma é sempre lembrado quando alguma sociedade vive situações limites. Um exemplo é o Brasil de hoje. Diante da lista interminável de casos de corrupção, só resta às pessoas de bem, que vivem do salário honesto, repetir a pergunta: Até quando os larápios vão abusar de nossa paciência?

Aqueles mais otimistas dizem que os casos se acumulam por que os órgãos de fiscalização do poder público estão mais vigilantes. Se surgem novos exemplos de corrupção a cada dia, isso deve-se ao trabalho eficiente da Polícia Federal e do Ministério Público. No passado também haveria desvios em profusão, mas não eram apurados ou não chegavam ao conhecimento da opinião pública. É, sem dúvida, boa hipótese, mas, por enquanto, carece de confirmação. Na verdade, esta linha de argumento procura fazer da corrupção uma característica atávica de nossa cultura, que viria desde os tempos do Brasil Colônia.

A própria presidente Dilma Rousseff, dias atrás, referiu-se à corrupção como “a velha senhora” que nos acompanha desde os primórdios. Entrar na discussão sobre as origens do mal é pura perda de tempo. Se falta razão a quem tenta atribuir aos períodos Lula e Dilma a responsabilidade pelos desmandos, também é ridículo afirmar que só a pequena burguesia dá peso à corrupção, como forma de depreciar os avanços sociais dos governos petistas.

Não é por aí. Muito mais do que desgastar partidos políticos, a cachoeira de casos de corrupção deprime a cidadania e abala a autoestima de brasileiros e brasileiras. Como reagir quando vem à tona a rede de propinas dos integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, o órgão da Fazenda criado em 2008 para julgar multas aplicadas às empresas? Os conselheiros se serviram do cargo para arrecadar milhões para os próprios bolsos. Num âmbito mais prosaico, prefeitos apropriam-se de verbas públicas na maior cara de pau e não mostram o mínimo arrependimento quando presos. Um deles, andava pelas ruas de Itaguaí a bordo de uma reluzente Ferrari. Em São Gonçalo, uma gangue de funcionários desviou recursos da merenda nas creches, deixando as crianças sem ter o que comer. Em Mangaratiba, o prefeito ameaçava quem ousasse falar sobre as negociatas de R$ 60 milhões.

Enquanto PT e PSDB trocam farpas em torno dos megaescândalos da Petrobras e do Metrô de São Paulo, o que preocupa é uma questão que vai muito além dos partidos. Por que os corruptos não se intimidam? Por que continuam a acreditar na impunidade? Como me perguntou a reverenciada viúva de um comunista histórico, será que isso nunca vai ter fim? Eis uma pergunta importante nesta véspera do Dia de Tiradentes, símbolo maior da luta por um Brasil justo e independente. Até quando?

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