Por paulo.gomes

Rio - Corria o ano de 1994 e Fernando Henrique Cardoso já havia deixado o Ministério da Fazenda para se candidatar à Presidência. Graças ao Plano Real, era franco favorito. Mas seus inimigos conspiravam. Em meio à campanha, o diretor da revista IstoÉ, Tão Gomes Pinto, pediu-me que entrasse em contato com o ex-presidente da Telerj, Eduardo Cunha, que tinha uma denúncia contra o candidato tucano. Liguei para Cunha, que marcou um encontro em seu escritório de consultoria na Torre Rio Sul, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Ao me receber, ele tirou de um envelope pardo uma folha com números que identificavam emendas do senador FHC a favor de empreiteiras. Seria uma prova de efeito demolidor. Fui a Brasília para checar a informação. Lá procurei parlamentares com acesso ao banco de dados do Congresso. Porém, mesmo os adversários do PSDB me explicaram que se tratava de uma denúncia inconsistente, já que todos os gabinetes de deputados e senadores apresentavam emendas envolvendo obras públicas. Nada havia de ilegal.

Assim que transmiti ao tarimbado Tão o resultado da apuração, ele mandou que eu voltasse ao Rio e jogasse as tais emendas de FHC no lixo. Foram tempo e dinheiro jogados fora atrás de uma informação plantada pelo futuro deputado do PMDB. Não é a primeira vez que relato esta experiência com o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Mas faço questão de repeti-la por que é simbólica de sua maneira de agir. Cunha não gosta de se expor, prefere se movimentar nos bastidores. Por isso, apesar de suas negativas, acredito piamente que esteja usando terceiros para fazer ameaças à presidenta Dilma Rousseff. Não adiantou a presidenta, num ato de elegância, convidar ele e a mulher para um jantar íntimo no Palácio da Alvorada. Tudo correu bem, houve troca de gentilezas e amabilidades, mas, assim que retomou sua rotina, o deputado voltou à carga, pondo em votação projetos que prejudicam os planos do governo.

Cunha é especialista no jogo bruto do poder. No momento, ele está empenhado em impedir a renovação por dois anos do mandato do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Avisou ao Planalto que, se Janot for reconduzido, transformará a vida do governo num “inferno”. Sua rejeição a Janot não tem origem em razões do interesse público. Longe disso. É problema de ordem pessoal. Cunha ficou irritado depois que o Ministério Público Federal o acusou de usar requerimentos da Câmara para pressionar um empreiteiro a pagar propinas a Fernando Soares, operador do PMDB pego na Operação Lava Jato. Ele nega a acusação, mas a PGR considerou que há indícios concretos. Por mais que desminta as ameaças, sabe-se que Cunha tem a seu lado contra Janot o presidente do Senado, Renan Calheiros, que também se sente ameaçado pela ação da PGR. Em encontro com Lula, Renan também fez duras críticas ao trabalho da PGR e advertiu que considera a recondução de Janot “uma afronta”.

Diante disso, só há uma posição a tomar: defender mais dois anos de mandato para o procurador Rodrigo Janot, contra as manobras de Cunha e Renan. O Ministério Público Federal, com Janot à frente, age em nome do Estado e tem cumprido seu papel com autonomia e eficiência. Já Eduardo Cunha e Renan Calheiros representam o que de mais atrasado existe na política brasileira.

Você pode gostar