Por karilayn.areias

Brasília - Em mais uma etapa da Operação Lava Jato, policiais federais apreenderam na Casa da Dinda, do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), uma Ferrari vermelha, um Porsche preto e uma Lamborghini prata, avaliados em R$ 3,9 milhões. A operação de busca e apreensão foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Os agentes foram também à casa do político em Maceió, em Alagoas.

Irritado, Collor discursou no Senado, atacou o procurador Janot, disse que foi humilhado, mas garantiu que não será intimidado pelo MPJefferson Rudy/Agência Senado

Durante a operação, foram vasculhadas ainda as casas do senador piauiense Ciro Nogueira (presidente nacional do PP), do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), do conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia e ex-deputado Mário Negromonte, do deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE) e do ex-deputado do PP João Pizzolati, hoje secretário de Articulação Política do Estado de Roraima.

A operação na casa de senadores foi criticada também pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele alegou que, para fazer buscas em residências oficiais, a PF teria que informar à Polícia Legislativa. A direção da Polícia Federal negou essa obrigação e sustentou que toda a ação foi legal e autorizada pelo Supremo. A PF cumpriu mandados de busca na residência dos senadores Fernando Collor (PTB-AL), Ciro Nogueira (PP-PI) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE).

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, justificou a invasão à casa dos políticos explicando que ela visou a apreensão de bens adquiridos com dinheiro de práticas criminosas investigadas pela Operação Lava Jato. A ação foi autorizada pelos ministros do STF Teori Zavascki, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski, em seis inquéritos que investigam suspeitos de envolvimento nos desvios de dinheiro da Petrobras.

Também nesta terça, a Polícia Federal apreendeu, em Brasília, documentos no escritório do Thiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz. O advogado foi acusado, em delação premiada, pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, de receber R$ 1 milhão de propina para entregar a outro ministro do TCU.

Em nota, o advogado classificou como “um atentado ao regular exercício da profissão” as medidas “autorizadas com base em uma delação negociada por um réu confesso que mente”.

Senador diz que não se intimida

O senador Fernando Collor ocupou a tribuna do Senado para atacar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e classificar de truculência a ação da Polícia Federal em suas casas para apreender os carros. Segundo ele, a operação feriu a soberania do Poder Legislativo. O ex-prsidente acusou Janot de querer intimidá-lo.

Mas afirmou que não será intimidado. “Constrangido fui. Humilhado também fui. Mas podem ter certeza que intimidado jamais serei”, disse o senador.

Rodrigo Janot não comentou as declarações dos senadores. O Ministério Público Federal informou, no entanto, que os mandados só precisavam ser apresentados aos políticos visados.

Uma Elba na rota do impeachment

Os carros sempre foram uma das paixões de Fernando Collor, o primeiro presidente eleito pelo voto direto no Brasil depois de 25 anos da ditadura militar. Um deles entrou para a história do país como um dos fatores determinantes do processo que levou ao afastamento do governante: uma Fiat Elba.
Investigações da Polícia Federal confirmaram que o carro, que era usado pelo presidente da República, fora pago com um cheque de uma das contas fantasmas criadas pelo tesoureiro de campanha dele, Paulo Cesar Farias. Da mesma origem, saíram recursos para a reforma da Casa da Dinda. A mesma mansão foi invadida pela Polícia Federal, novamente em busca de carros supostamente comprados com dinheiro de propina.

No total, segundo as investigações, US$ 6,5 milhões, o correspondente a R$ 20 milhões, foram desviados pelo esquema de Collor e PC Farias. Em 29 de setembro de 1992, o impeachment do presidente foi aprovado por 441 dos 509 deputados. Menos de quatro anos depois, em 23 de junho de 1996, o tesoureiro foi achado morto em casa.

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