Rio - Não é fácil fazer um país chegar ao ponto crítico em que estamos. No espaço de pouco mais de um ano, o Brasil passou do estágio de prosperidade, com redução da desigualdade, manutenção de bom nível de emprego e melhora nos indicadores sociais, para um patamar de penúria que coloca em risco tudo o que foi conquistado. Autor desta obra-prima de barbeiragem administrativa, o governo petista, acuado, passou os últimos meses procurando uma saída urgente. Seria o momento ideal para que a Oposição se mostrasse como alternativa responsável ao PT, com propostas verdadeiras para ajudar o país. O que se vê, no entanto, é justamente o contrário. Os oposicionistas jogam para aprofundar a crise.
Não que a Oposição deva aliviar a vida do governo. O que se espera são críticas duras, mas também um mínimo de coerência com as bandeiras que vinham sendo defendidas até aqui. Especialmente o PSDB, que até pouco tempo era visto como um dos postulantes ao poder, tem muito a explicar. Como pode o partido que criou a CPMF ser contra a CPMF? Como pode o partido que criou o fator previdenciário ser contra o fator previdenciário? O próprio Fernando Henrique Cardoso admitiu que posições como essa abalam o prestígio da legenda.
Só há uma explicação para o surto: tucanos tomam essas posições para empurrar o país ainda mais fundo no buraco onde se enfiou. Imaginam que vão tirar proveito eleitoral do caos, sem ligar se colaboram fortemente para inviabilizar a vida de milhões de brasileiros. O resultado é que perdem muito de sua importância e acabam a reboque do partido que, no fim das contas, sempre está a governar o Brasil: o PMDB. Essa incoerência está no DNA da conduta peemedebista (que hoje bate seu próprio recorde e consegue ser oposicionista e governista ao mesmo tempo). Não era o caso do PSDB. Agora, é.
Ao contrário do que os tucanos imaginam, atitudes desse tipo não costumam ter bom resultado eleitoral. Levantamentos feitos recentemente mostram que não é apenas a popularidade de Dilma Rousseff que está em baixa. O conceito dos políticos em geral junto à população está péssimo: aí incluídos Aécio Neves, Eduardo Cunha e Michel Temer. A salvo do desgaste, por ter passado os últimos meses recolhida, Marina Silva talvez seja a exceção. Que agora, enquanto a Rede ainda não está em ação, ela aproveite seu tempo e aprenda a lição com PMDB e PSDB. Eles são ótimos para ensinar tudo o que um partido oposicionista não deve fazer.
POR TRÁS DA TRIBUNA
Figura de destaque numa época em que o PMDB ainda era um partido minimamente heterogêneo, Ulysses Guimarães tinha uma ideia bem clara do que é ser do partido que está do lado oposto ao governo.
Dizia ele: “Não se pode fazer política com o fígado, conservando o rancor e ressentimentos na geladeira. A pátria não é capanga de idiossincrasias pessoais”.
Se visse o que acontece hoje no Congresso, certamente ficaria decepcionado.