Relator pede que avance a investigação contra Eduardo Cunha
Fausto Pinato entregou na manhã desta segunda-feira o relatório preliminar ao Conselho de Ética em que decide dar prosseguimento a investigação contra presidente da Câmara
Por tiago.frederico
Brasília - O deputado Fausto Pinato (PRB-SP), relator do processo que tem como alvo o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decidiu que a investigação deve continuar. Pinato antecipou a entrega de seu relatório preliminar no Conselho de Ética. O prazo se encerraria no dia 19, quarta-feira, mas Pinato se adiantou e já protocolou hoje no colegiado o documento, em que pede a continuidade do processo.
“Foram dias e noites de estudos, de forma independente e árdua, com consultas a consultores e alguns advogados. Cheguei a minha conclusão convicto e com a minha consciência tranquila, muito feliz por ter feito um trabalho sério e correto e cheguei a conclusão que o processo contra o presidente Eduardo Cunha deve ter seguimento por preencher todos os requisitos da admissibilidade”, disse Pinato.
Segundo Pinato, há indícios suficientes e legitimidade para a continuidade da ação. Junto com a entrega do relatório preliminar, Pinato também fez um requerimento de antecipação da sessão de leitura do relatório preliminar no Conselho de Ética. A sessão estava marcada para o dia 24 de novembro, considerando o prazo de entrega do relatório preliminar, que era de 19 de novembro. Como antecipou a entrega, Pinato articula com o presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA), a antecipação da sessão de leitura.
O relatório preliminar deve ser aprovado pelos membros do Conselho de Ética por maioria simples para que a ação de investigação contra o presidente da Câmara de fato avance. Para isso, serão necessários 11 dos 21 votos em disputa. Pinato afirmou não ter especificado um dia exato para a antecipação da sessão, mas ela deverá ser realizada na próxima quarta-feira.
O relator afirmou que trechos da denúncia feita pela procuradoria-geral da República, depoimentos de Júlio Camargo e a transcrição da fala de Cunha durante sua oitiva na CPI da Petrobras embasaram sua decisão de dar prosseguimento à investigação contra o presidente da Câmara. “Analisando todos esses requisitos, a justa causa e ela estando apta, ela (a denúncia) preenche todos os requisitos para darmos continuidade e assim cheguei ao meu convencimento”, afirmou Pinato.
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Contas na Suíça
Um dos pilares da representação contra Cunha no Conselho de Ética é a fala dele, no dia 12 de março, à CPI da Petrobras. Na ocasião, questionado pelo deputado Delegado Waldir (PSDB-GO) a respeito de ter contas bancárias fora do Brasil, Cunha respondeu: “não tenho qualquer tipo de conta em qualquer lugar que não seja a conta que está declarada no meu Imposto de Renda e não recebi qualquer vantagem ilícita ou qualquer vantagem com relação a qualquer natureza venda desse processo”, disse ele numa referência à Operação Lava Jato.
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A representação traz ainda trecho da nota divulgada no dia 30 de setembro pela assessoria da Procuradoria-Geral da República. “O ministério Público da Suíça enviou ao Brasil os autos da investigação contra o presidente da Câmara dos Deputados por suspeita de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. A transferência da investigação criminal foi feita por meio da autoridade central dos dois países e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, aceitou a transferência. As informações do MP da Suíça relatam contas bancárias em nome de Cunha e familiares. A investigação lá iniciaram em abril deste ano e houve bloqueio de valores”.
Cunha admitiu ter o usufruto de ativos mantidos na Suíça. Segundo o presidente da Câmara, os valores são fruto de atividade econômica exercida antes de sua carreira política, durante a década de 1980. Seriam consequência da venda de carne enlatada na África e também por meio de investimentos feitos no exterior. Ele disse ter um contrato com trusts que seriam responsáveis pela administração desses ativos, sendo somente beneficiários desses valores.
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Ele nega evasão de divisas ou transferência de recursos do Brasil para o exterior, mas sim a obtenção de lucros fora do país oriundo de atividades que jamais teriam passado pelo Brasil. Ele admite que tais lucros jamais foram declarados à receita federal. Essa deverá ser a base de sua defesa no Conselho de Ética para justificar a resposta dada na CPI da Petrobras. Ou seja, ser beneficiário de um trust que administra valores não quer dizer que ele seja dono das contas.