Por bianca.lobianco

Rio - Uma dúvida vem atormentando a presidente Dilma Rousseff e assessores mais íntimos nos últimos dez dias: defender Lula publicamente é consagrar algo como um abraço de afogados ou pode representar um renascer político das cinzas? Formulada por um dos homens mais próximos, seu escudeiro há mais de uma década, a questão divide corações e mentes da equipe da presidente.

Os auxiliares com mais afinidade com Dilma do que com a corrente majoritária do PT apostam na primeira alternativa. Acham que a presidente não pode se contaminar mais com possíveis erros do antecessor e que seu governo já tem problemas demais e popularidade de menos para se arriscar protegendo Lula.

Capitão do outro time, o da ideia de que Dilma pode renascer junto com Lula e que o afastamento seria mais fatal para ela do que para ele, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, obteve duas vitórias nos últimos cinco dias. Emplacou o novo ministro da Justiça — o baiano Wellington Cesar — e conseguiu convencer a presidente a viajar ontem para visitar Lula em São Bernardo. Até então, ela havia falado apenas pelo telefone com Lula.

Apesar de viver inferno astral%2C Dilma mantém o hábito de pedalar pelas manhãsED FERREIRA/FOLHAPRESS/1.6.2015

“A presidente Dilma está indignada, inconformada com o que fizeram com Lula”, afirmou Wagner, pouco antes de aparecer na varanda do apartamento de Lula, abraçada ao ex-sindicalista que prometeu ressurgir das cinzas.

Por outro lado, nomes como ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e o ministro da Educação, Aloízio Mercadante, defendem o afastamento. Eles insistem que Dilma não deve falar sobre temas específicos do processo contra Lula, como tríplex do Guarujá e o sítio de Atibaia.

As ponderações não são apenas estratégicas. A presidente tem vivido dias infernais no Palácio. Foi pega de surpresa em 23 de fevereiro com a prisão de seu marqueteiro, João Santana. Dias antes, o próprio Santana garantiu à Dilma que não seria preso e que ninguém acharia nada de errado em suas contas bancárias nem nas de sua esposa, Mônica Teixeira. Os dois estão na cadeia até hoje.

O próprio PT tem contribuído para os dias difíceis com críticas à política econômica do governo. O assunto a irritou tanto que Dilma não compareceu à festa de aniversário de 36 anos do partido. Nem ela nem o ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foram ao evento. Cardozo era o ministro mais querido de Dilma. Está no governo desde o primeiro dia. Na semana passada, a presidente se viu obrigada a demiti-lo por pressões de um PT inconformado com a falta de controle da Lava Jato.

O ex-ministro assumiu a Advocacia Geral da União e Dilma seguiu a estratégia de distanciamento regulamentar do PT. Na sexta-feira, a presidente dedicou apenas 79 segundos dos dez minutos de pronunciamento em solidariedade a Lula. O resto do tempo, tratou dos ataques desferidos 24 horas antes pelo senador Delcídio do Amaral. 

“Dilma não vai renunciar”, diz Mercadante

O ministro da Educação, Aloisio Mercadante, garantiu que a “presidenta Dilma Roussef não pensa em renúncia e que ela não cederá a pressões para deixar o cargo”. A afirmação ocorreu durante uma palestra do ministro para empresários na sede de Confederação Nacional da Indústria em São Paulo, na mesma sexta-feira em que Lula prestou depoimento na Polícia Federal e 24 horas depois de o senador Aécio Neves (PSDB-MG) sugerir que Dilma “tenha grandeza e renuncie em nome do país”.

Mercadante, que não costuma tratar publicamente de temas alheios à sua pasta, resolveu se intrometer no assunto político após pergunta do presidente da CNI, Robson Andrade, sobre cenários possíveis para o Brasil sair da crise.

“Não há hipótese da presidenta renunciar", garantiu o ministro da Educação.

Um outro aliado reforça o discurso de Mercadante. Segundo ele, Dilma não vai fazer o jogo da oposição.
“A queda da Dilma é o grande objetivo dos golpistas. Não há vitória da oposição enquanto ela não cair”, resume o aliado da presidente.

Reportagem de Ana Beatriz Magno 

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