Rio - Quase quatro anos após a instalação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em Botafogo, na Zona Sul do Rio, as áreas pacificadas da região, hoje, a parte mais valorizada da cidade, experimentam um ‘boom’ imobiliário. No Morro Dona Marta, primeira comunidade carioca pacificada, é possível verificar aumento de até 150% nos preços de imóveis para aluguel e venda. No local, a procura é tanta que uma lista de espera foi criada para atender a crescente demanda na associação local.
Moradora da comunidade Santa Marta, dona Geci Ribeiro , 58 anos, comemora a valorização dos imóveis. Proprietária de duas quitinetes, ela conta que a UPP foi essencial para a subida de preços. “Antes da pacificação os aluguéis eram muitos baixos. Hoje, eu estou satisfeita com os valores que recebo dos meus inquilinos”, destaca.

Hoje no Morro Dona Marta, o aluguel de uma quitinete de 30 metros quadrados (quarto e banheiro) custa de R$ 400 a R$ 700, preços impensáveis antes da entrada da polícia na comunidade, afirmam os proprietários. Em pontos valorizados, os valores aumentam ainda mais. O engenheiro Luiz Fernando de Oliveira é um dos proprietários que se beneficiou com a especulação dos imóveis. No apartamento de 140 metros quadrados com três suítes, sala, cozinha, área de serviço e varanda no início do morro, o ex-morador pede R$ 950 mil.
“A UPP trouxe valorização para a região e por menos eu não vendo”, diz o engenheiro, que acredita em ganhos ainda maiores para a comunidade.
No Morro Chapéu Mangueira, no Leme, Zona Sul do Rio, a pacificação também levou o preço dos imóveis para cima. Quem percebeu o bom momento do mercado imobiliário tem garantido alto retorno financeiro. O casal Wagner Machado da Silva e a mulher Cristiane de Oliveira já recebeu proposta de R$350 mil para vender o imóvel de três quartos, banheiro e terraço.
“Não vamos vender porque acreditamos que o morro vai melhorar ainda mais. Além disso, já estamos quase terminando a construção de uma república para estudantes”, conta Cristiane. Ela afirma que por uma vaga, é possível cobrar na comunidade R$ 700 por mês.
Vidigal se destaca no mercado com a chegada da pacificação
No Morro do Vidigal, os imóveis não param de se valorizar. Na associação de moradores da comunidade, uma das vitrines para anúncios de aluguel e venda, os altos preços saltam aos olhos. No local, são várias as oportunidades para comprar um imóvel, mas os preços estão salgados. “O valor médio para venda subiu cerca de 200% desde 2011, ano da UPP. Em nossos anúncios, é difícil encontrar casas por menos de R$ 150 mil para comprar”, afirma André Gosi, diretor social da associação.
Em uma das imobiliárias da comunidade é possível confirmar que os valores sobem a cada dia. “A especulação chegou com força no Vidigal. Antes da pacificação, casas que eram vendidas por, no máximo, R$ 10 mil,são vendidas hoje por R$200 mil”, destaca Jerônimo Silva, dono da imobiliária.
Valorização dentro e fora dos morros
Em Botafogo, após a pacificação no Morro Dona Marta, os apartamentos de dois quartos no bairro valorizaram 139,6% de 2008 a 2012, com o preço médio de venda subindo de R$ 329.294 para R$ 789.099. Nos quatro anos anteriores à UPP, a alta havia sido de apenas 33,3%. Os dados são do Secovi Rio, que também verificou reflexo positivo nas locações.
O valor do aluguel de dois quartos na região foi de 161,8%, subindo de R$ 1.237 para R$ 3.239, entre 2008 e 2012. Já na Tijuca, o percentual foi de 91,1%, passando de R$ 950 para R$1.815, ao passo que no período anterior a valorização fora de 56,5%.
“Hoje, na Tijuca, o número de novas unidades lançadas já alcançou 2.794, desde 2010. Muitos têm retornado ao bairro, após terem se mudado da região devido à violência”, afirma João Paulo de Matos, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ).
Segundo o vice-presidente Comercial da Renascença Administradora, Edison Parente, na filial Tijuca houve aumento de 15% no número de proprietários que passaram a colocar seus imóveis para alugar no mercado formal.