Por joyce.caetano

São Paulo - Apesar da crise que atinge as principais indústrias europeias, as pequenas e médias empresas francesas, espanholas e italianas não buscam negócios no Brasil para driblar as dificuldades financeiras e cortar custos com mão de obra barata. Ao contrário, elas procuram o País para aproveitar a ascensão da classe C e atrair o exigente consumidor brasileiro, cada vez mais adepto a produtos de alta qualidade e inovação.

Marco Antonio dos Reis participa do Congresso da Micro e Pequena IndústriaiG / Patrícia Basilio

Isso é o que mostra pesquisa, ainda em desenvolvimento, realizada com 110 pequenas e médias empresas europeias com filiais no Brasil, feita pelo Centro de Estudos e Pesquisas América Latina-Europa. A prévia do estudo, elaborada entre junho de 2010 e setembro de 2013, foi divulgada no VII Congresso da Micro e Pequena Indústria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que ocorreu nesta quinta-feira em capital paulista.

“Todas as empresas que entrevistamos dão uma importância muito alta à inovação, e esse foi um dos motores para elas terem vindo ao Brasil”, explica Florence Pinot de Villechenon, diretora do centro francês.

Para Humberto Cesar López Rizzo, doutorando em economia pela Universidade de Paris Panthéon Sorbonne, que participa da pesquisa, a concorrência na Europa é forte e as empresas olham para o Brasil como um mercado importante para dar vazão a produtos de qualidade.

“O brasileiro é muito exigente e compra artigos de alto valor agregado. As pequenas e médias empresas europeias fazem um esforço tremendo para atender esse público”, acrescenta ele.

E capacidade para agradar os brasileiros é o que não falta. Segundo a pesquisa, 75% dos empreendedores europeus têm pós-graduação, 85% têm experiência internacional e todos falam, pelo menos, três idiomas. “Esses países não trabalham com ‘low cost’ (baixo custo)", defende Florence.

Nova classe média

A nova classe média, principal consumidora de produtos com alto valor agregado, está crescendo a cada dia, favorecendo tanto as micro e pequenas empresas brasileiras, quanto as estrangeiras, na avaliação de Renato Meirelles, diretor do Data Popular. Em 2012, 52% da população brasileira (104 milhões de pessoas) eram da classe média. Em 2002, o índice era de 38%.

“Só os 12 milhões de brasileiros que vivem em favelas movimentam mais de R$ 56 milhões na economia brasileira”, compara Meirelles.

O alto potencial de consumo dos brasileiros, no entanto, não elimina as dificuldades burocráticas para desbravar o País, afirma Florence. “As empresas dizem que é muito difícil empreender no mercado brasileiro, não só pela burocracia, mas pela distância física e cultural. Além disso, dizem que o Brasil exige muita experiência dos empreendedores”, avalia.

Por conta desta dificuldade, 62% das pequenas e médias empresas europeias que operam no Brasil já possuem outras unidades em países latinos, como Chile, Argentina, México, Colômbia e Peru. “É preciso chegar ao Brasil com algo bem pensado e montado. O País é muito grande para se improvisar”, conclui Florence.

E para os pequenos empresários brasileiros, a internacionalização das empresas não representa concorrência, na avaliação de Marco Antonio dos Reis, diretor titular adjunto do Departamento da Micro, Pequena e Média Indústria da Fiesp. “É uma oportunidade de parcerias e troca de experiências. Pequenas empresas tendem a se ajudar”, justifica.

Reportagem de Patrícia Basilio

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