Por helio.almeida

O aclamado crescimento da renda média do brasileiro na última década fez bem a diversos setores. Empurrou a educação, estimulou o consumo e também a caderneta de poupança. Desde 2006, o volume total investido nesta aplicação quase triplicou, superando os R$ 538 bilhões em junho, segundo o último levantamento do Banco Central.

Esse seria um dado exclusivamente positivo não fosse o outro dado que ele agrega. O número de investidores na modalidade cresceu 46% no mesmo período. Sim, o dado é positivo. Mas ainda que aponte alta, essa variação é um importante indicativo de que a educação financeira ainda não faz parte do cotidiano do brasileiro.

A comparação desses dois números indica, claramente, que o hábito de poupar não cresceu tanto quanto a renda disponível. Em outras palavras, quem investia, passou a investir mais. Uma parcela bem menor adotou o hábito de poupar.

No Banco do Brasil, segundo maior banco em volume financeiro em cadernetas de poupança, a maior parte dos clientes é das classes B, C e D. Entre 2010 e 2013, o volume aumentou 30% na instituição.

Essa é uma das leituras de Aline Rabelo, coordenadora do Investmania. “As pessoas não têm hábito de guardar dinheiro. A falta de informação e o cenário de incerteza acabam sustentando o hábito da caderneta de poupança”, afirma. “A poupança é o investimento mais popular entre os brasileiros, mas nem sempre é a melhor opção de aplicação.”

De fato, não é. Em maio e junho deste ano, o rendimento da poupança foi inferior à inflação acumulada em 12 meses. Na prática, isso significou perder dinheiro.

Entender essa lógica é fácil. Suponhamos que em junho de 2012, você havia decidido comprar uma televisão que custava R$ 100. Em junho de 2013, a inflação anual já teria corrigido o preço para R$ 106,46, ao passo que a poupança teria aumentado seu investimento em R$ 105,60. Em outras palavras, valeria mais a pena ter gastado o dinheiro naquela momento em vez de esperar e guardar o montante na poupança.

Isso porque em maio e junho ainda valiam as novas regras da poupança, estipuladas para quando a taxa básica de juros, a chamada Selic, estivesse abaixo dos 8,5%. Com os juros em número igual ou inferior, fica fixada a correção da poupança em 5,6%. Segundo o Banco do Brasil, as regras não impactaram no número de investidores, mas Aline acha que conforme a caderneta perder o apelo, os investidores naturalmente migrarão de aplicação.

Com o aumento da taxa Selic para 9% em agosto, a caderneta de poupança definitivamente voltou a bater a maior parte dos fundos de renda fixa com taxa de administração acima de 0,5% ao mês, além de superar a última projeção da inflação calculada pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para 2013, de 5,8%. Mas em outubro, com nova alta para 9,5%, a caderneta de poupança perdeu atratividade frente aos fundos referenciados pelo CDI (Certificado de Depósitos Interbancários).

Serve para quê?

Sob o ponto de vista da rentabilidade, naturalmente, fica a pergunta: se não rende bem, a poupança serve para quê? Ela tem três importantes funções no mundo das finanças pessoais: perfeita para reservas de emergência, de curtíssimo prazo e para quem está dando os primeiros passos na disciplina financeira.

Para Aline, a poupança não serve para mais que três meses de aplicação. “Você recebe o 13º agora, mas sabe que vai pagar IPTU, IPVA e matrícula da escola dos filhos já em fevereiro, por exemplo. Separa esse valor e põe na poupança”, aconselha.

Para aquela viagem daqui a seis meses ou a mobília da casa nova no final do ano, Aline sugere outra aplicação como as Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio. Assim como a poupança, as LCI e as LCA têm proteção do Fundo Garantidor de Crédito e não sofrem incidência de Imposto de Renda. “Falta iniciativa e falta informação. A cultura de investimento não cresceu tanto quanto o nível de renda”, comenta.

Do ponto de vista educativo, o sucesso é claro. Para quem nunca teve costume de guardar dinheiro, a poupança é o caminho mais prático e rápido para começar a criar esse hábito.

Todo dia é dia da poupança

A caderneta de poupança é velha conhecida do brasileiro, mas é esse exercício de poupar que traz o verdadeiro sentido do Dia Mundial da Poupança, comemorado nesta quinta-feira (31). O professor Reinaldo Domingos, da Dsop Educação Fincanceira, lembra que sem um objetivo claro e um prazo definido, fica difícil dar o primeiro passo.

Poupar já é difícil. Não ver resultado desse esforço pode tornar o caminho mais difícil. "Aplicação tem de ter sonho e prazo para realização, caso contrário, você não se sente estimulado", diz.

Para o curtíssimo prazo, a poupança. Para médio prazo, Reinaldo Domingos sugere os títulos do Tesouro Direto e, no longo, os planos de previdência privada. "Cada um tem uma rentabilidade compatível com seu prazo de resgate. O investimento certo aponta para a melhor eficiência na direção dos seus objetivos."

Asinformações são da repórter Bárbara Ladeia, do iG

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