Rio - Passados 20 anos desde a sua concepção, o Plano Real, editado no governo Itamar Franco, colocou a economia nos trilhos. Num primeiro momento, controlou a hiperinflação que beirava os 50% (ao mês!), segurou gastos públicos e congelou preços. Mas o melhor estava por vir. Em 2007, com a implementação da política de valorização do salário mínimo, os trabalhadores começaram a recuperar o seu poder de compra. Foi o primeiro passo para que 40 milhões de famílias entrassem na classe média, 20 anos depois.
Com a nova moeda, o piso nacional passou a ser reajustado acima da inflação. Isso permitiu que houvesse aumento real, refletindo diretamente no bolso dos trabalhadores. No Rio, por exemplo, a cesta básica no fim de julho de 1994, quando plano foi implantado, custava R$66,22, contra um mínimo a R$ 64,79, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A inflação em junho de 1994, um mês antes de o real entrar em vigor, era de 46,58%.
Com isso, quem ganhava o piso nacional à epoca não comprava sequer uma cesta básica. Hoje, ela custa R$303,86 e o salário mínimo está em R$ 724, o maior valor real dede 1983. “Um salário mínimo dá para comprar hoje 2,38 cestas básicas”, avalia Cloviomar Caranine, economista do Dieese.
Mesmo com a recuperação do mínimo, a moeda ainda enfrenta desafios similares aos de duas décadas atrás: o de o governo manter a economia estabilizada, controlar a inflação, conter gastos públicos e ampliar o poder de compra da população.
Roberto Navarro, fundador do Instituto Coaching Financeiro, lembra do sufoco nos períodos anteriores ao lançamento do Plano Real.
“Os preços nos supermercados chegavam a ser remarcados três vezes no mesmo dia. Quem não se lembra dos fiscais do Sarney? Gasolina aumentava toda semana, o poder de compra ia para o ralo a cada minuto. O dinheiro investido crescia, porém era um verdadeiro desafio descobrir se estava ganhando ou perdendo, devido à inflação gigante”, recorda.
“Com a criação da Unidade Real de Valor (URV), precursora da moeda que seria criada, o real, em 1994, os preços foram congelados, com isso a hiperinflação deu uma folga”, lembra Navarro.
“Hoje temos situação financeira estável, porém com novos desafios. Mesmo com a inflação aquecida hoje, nada se compara aos 900% de outras épocas”, afirma.
Navarro ressalta que com a estabilidade econômica conquistada mediante medidas econômicas muitas famílias entraram na classe média. “Isso foi um avanço. Novos consumidores, nova geração de emprego, por mais que a situação econômica ainda necessite de muita organização, planejamento, investimento em geração de renda e oportunidades pelo governo, a vida melhorou muito nos últimos 20 anos”, diz. Navarro dá a dica para os consumidores: “Planeje, controle seus gastos, consuma apenas o necessário e invista. Planeje seus próximos 20 anos”, afirma.
DUAS VISÕES
PEDRO MALAN - Ex-ministro e economista
AVANÇOS
"Os avanços na economia após o Plano Real foram muitos. Passamos de recordista mundial de inflação nos 30 anos anteriores ao Real, para 20 anos de inflação relativamente civilizada, com a mesma moeda, que espero que seja a definitiva em nosso país. Todos ganharam com a estabilidade econômica".
DESAFIOS
"Um dos maiores desafios daqui para frente será a manutenção do modelo econômico, independentemente de quem ganhe as próximas eleições. Acredito que o regime fiscal será o de responsabilidade".
EDMAR BACHA, ex-assessor e economista
AVANÇOS
"Desde o Plano Real, todos os governos passaram a se preocupar com a inflação, porque se deram conta que a estabilidade de preços é muito importante para o povo brasileiro. Não foi sempre assim. O PT, que agora é governo, votou contra o Plano Real".
DESAFIOS
"Os preços estão muito altos por causa dos impostos elevados e dos lucros exagerados. É preciso reduzir os impostos, que oneram os preços, e para isso o governo tem que controlar seus gastos. O próximo governo deveria fazer um Plano Real contra a carestia".
