Por bferreira

Rio - O mês da Copa do Mundo abre com 12 categorias em greve e cinco articulando paralisações que afetam diretamente a rotina do Rio. A população vai sentir os efeitos no dia a dia, com serviços básicos parados, além de manifestações e protestos programados. Servidores da Educação e Saúde já interromperam as atividades, assim como os vigilantes. Apesar disso, os movimentos não mostram a mesma força que tiveram em 2013 e no início deste ano.

Servidores do Ministério da Cultura estão em greve e pretendem continuar durante a Copa do MundoPaulo Araújo / Agência O Dia

Hoje, a greve dos vigilantes completa 39 dias, com 60% da categoria parada, ou seja, 30 mil trabalhadores, segundo o sindicato. O setor bancário é o mais prejudicado, com agências funcionando apenas com caixas eletrônicos. Ontem, o sindicato da categoria ameaçou deixar de fazer a segurança privada do Maracanã na Copa caso os patrões não apresentem contraproposta.

Os rodoviários do Rio pretendem se unir aos de Niterói, São Gonçalo e Baixada Fluminense para uma greve unificada, ainda sem data marcada, para fortalecer o movimento que perdeu força na última paralisação. Os dissidentes, que são uma minoria, mas conseguiram parar a cidade em três momentos, decidiram interromper os atos temporariamente. Eles querem 40% de reajuste. A Rio Ônibus oferece 10%.

Na Educação, há movimentos em todas as esferas. Profissionais das redes estadual e municipais do Rio e São Gonçalo decidiram continuar em greve unificada. Eles pedem 20% de aumento. A adesão, porém, é menor que a do ano passado.

Servidores federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica — Colégio Pedro II, Cefet e Instituto dos Surdos, entre outros — também estão de braços cruzados, assim como técnicos-administrativos das instituições federais de Ensino Superior. Docentes pedem reestruturação da carreira e, técnicos, adiantamento do reajuste de 5% que seria dado em 2015 e podem parar.

Na Saúde, há greve parcial nos hospitais estaduais e federais no Rio, além de médicos federais e médicos-peritos da Prefeitura do Rio. Também estão parados os funcionários do IBGE e do Ministério da Cultura.

Policiais civis, por sua vez, ameaçam greve se governo estadual não cumprir acordo fechado. Servidores da Justiça Federal, Cedae e administrativos da Prefeitura do Rio também estudam possibilidade de parar na Copa.

Paralisação tem caráter político

Especialista em Direito do Trabalho, Ludmila Maia aponta cinco aspectos motivadores dos atuais movimentos grevistas de diversas categorias. Além da proximidade da Copa do Mundo e do ano eleitoral, a advogada cita o achatamento salarial, em função da inflação, o caráter político e o sucesso da greve dos garis do Rio, que tiveram 37% de aumento em março.

"Há uma mistura de reivindicações legítimas com greves de oportunidades. Afinal, paralisações no país que sediará a Copa dão visibilidade internacional. Percebemos que alguns movimentos têm muito mais um caráter político do que reivindicatório”, avalia.

Já o analista político Antônio Augusto de Queiroz afirma que o fato de diversas categorias estarem paradas ao mesmo tempo ajuda a pressionar o governo para atender os pedidos. “Nesse momento, os governantes ficam mais vulneráveis e podem decidir negociar”, explica ele.

Segurança vai trabalhar durante o Mundial no Rio

No início do ano, a Guarda Municipal do Rio e a Polícia Federal ameaçaram entrar em greve na Copa. No entanto, as entidades sindicais das categorias informaram que não haverá paralisações nos próximos meses.

O Sindicato dos Servidores do Departamento de Polícia Federal no Estado do Rio (SSDPF/RJ)explicou que não pode parar no Mundial em função de uma liminar do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que impede novas paralisações.

Já o Sindicato dos Servidores Públicos do Município (Sisep), responsável pela Guarda, esclareceu que a categoria fez um acordo com a Prefeitura do Rio em que se comprometia a não entrar em greve durante a Copa, por isso, não vai participar do movimento.

Novos atos marcados até julho

O Sindicato dos Servidores do Município do Rio (Sisep) convocou assembleia de greve geral para o próximo dia 6, com passeata da Prefeitura do Rio até o Maracanã. Já a Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef) planeja atos nos dias 10 e 25 deste mês e 4 de julho em Brasília. “Trabalhamos com as nossas possibilidades e, o governo, com o impedimento político dele. O governo entende que não pode priorizar a administração pública para garantir os juros da dívida”, alfineta Josemilton Costa, secretário-geral da Condsef.

Presidente da União Geral de Trabalhadores (UGT), Nilson Duarte avalia o aumento de grupos dissidentes em alguns dos movimentos grevistas. “O problema é que muitos dirigentes sindicais só lembram dos trabalhadores na hora de marcar assembleia para aprovar índice de aumento negociado com os patrões. Diretores de sindicatos precisam visitar o ano inteiro as empresas para conversar com os trabalhadores”, avalia.

Duarte diz que a categoria não quer só aumento de salário. “Eles querem que nós, sindicalistas, lutemos por melhores condições de trabalho e benefícios trabalhistas”, diz ele, que também é presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada Intermunicipal do Rio de Janeiro (Sitraicp).

RODOVIÁRIOS

Hélio Teodoro, líder dos cerca de 300 rodoviários dissidentes, contesta a validade da assembleia do Sintraturb-Rio que aprovou reajuste de 10%. O grupo quer 40%. Sindicato alega legalidade do acordo.

SAÚDE

Assembleia na próxima quinta-feira vai decidir se haverá greve dos servidores dos hospitais federais no estado do Rio durante a Copa. Na Saúde Federal, cinco hospitais pararam. Eles pedem carga de 30 horas e melhores condições de trabalho.

IBGE

Segundo o sindicato, 20 unidades estão em greve em 16 estados. Categoria pede democratização das ações da instituição, mais concursos públicos e salários no mesmo patamar do Banco Central e Ipea.

ENSINO SUPERIOR

Professores de universidades federais decidiram intensificar mobilização e lançaram indicativo de greve para este mês, por tempo indeterminado. Eles pedem reestruturação da carreira docente e valorização salarial.

ADMINISTRAÇÃO

Funcionários administrativos do município terão reunião na quinta-feira na Prefeitura do Rio para discutir reajuste salarial de 100%.

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