Por bferreira

Rio - O preço da carne bovina no Rio vem estragando o churrasco de muito carioca. O valor do produto subiu 18,25% em 12 meses, segundo levantamento do Dieese. Entre os motivos para a alta, que afetou o preço da cesta básica, estão as condições climáticas, as exportações e a Copa do Mundo, devido à grande procura dos consumidores nos dias de jogos.

Problema nos pastos afetou consumidoresAlexandre Brum / Agência O Dia

O preço do quilo da alcatra, por exemplo, custa em torno de R$ 15 em açougues de Copacabana, Zona Sul da cidade. Moradora do bairro, a dona de casa Cirene Louback, de 61 anos, reclama dos preços altos.

“Não tem mais como comprar carne de primeira. Tenho que comprar uma peça menor”, lamenta Cirene. Já a diarista Maria das Dores, 66, desistiu de comprar carne bovina. “Está muito cara. Na minha casa comemos frango ou peixe”.

Entre maio e junho, o preço da carne bovina subiu 3,4%, sendo o destaque entre os produtos que tiveram alta. No acumulado de 2014, o produto aumentou 6,8%, a sexta maior alta entre os itens. Em 12 meses, a alta da carne ficou abaixo apenas do quilo da banana.

Supervisor técnico do Dieese no Rio, Carlos Jardel reforça que os fatores que contribuíram para a alta dos preços da carne envolvem a seca, a venda para fora do país e o Mundial.

“A alta no preço da carne está relacionada ao aumento da venda do produto para o exterior. Outro fator é o inverno, por diminuir a oferta de gado disponível para o corte. E outro motivo pode ser a Copa, porque muita gente comprou carne para fazer churrasco e isso faz o preço subir”, disse Jardel.

Para o professor da Universidade Federal Rural do Rio (UFRRJ), Carlos Augusto Carvalho, o pouco gado disponível afetou e deve continuar afetando o consumidor ao ir ao açougue.

“Devido à seca que ocorreu em janeiro e fevereiro, que não é normal nessa época, há pouco pasto e, com isso, pouco gado para o abate”, disse o professor. “Essa condição de seca deve ir até outubro, então o preço deve continuar subindo até novembro”, explica Carvalho, que também é produtor.

CESTA BÁSICA MAIS CARA

Mesmo com a alta no preço da carne bovina, o produto não afetou a cesta básica de alimentos do Rio. Em junho, o valor da cesta foi de R$ 343,44, custando 1,32% menos do que em maio, que foi de R$ 348,04.

Entre maio e junho, seis produtos apresentaram alta nos preços médios, contra cinco produtos que ficaram mais baratos. Outros dois produtos mantiveram seus preços estáveis. O tomate puxou a queda, com recuo de 15,4%.

Falta de chuvas no período também prejudica pasto

Professor da Federal Rural do Rio, Carlos Augusto Carvalho explicou que os fatores que influenciaram a alta de preços estão ligados ao ciclo que acontece a cada três anos, mas que terminam em 2014.

De acordo com o especialista, o atual momento é de abate de fêmeas, por haver poucos bois e bezerros. “A redução do rebanho faz subir o preço da arroba (que equivale a 14,69 quilos)”, explica.

Carvalho aponta ainda a falta de chuvas como complicador. “Sem condições climáticas favoráveis, ficamos sem pasto para os animais”, afirma.

A crescente exportação do produto e a grande demanda interna também contribuíram. “No ciclo normal, o preço da carne nesse período é menor. Como isso não ocorreu, os produtores forçam todo o mercado, que por sua vez tem que repassar o valor ao consumidor. Isso porque a maioria das propriedades no Brasil não se planeja para o período e seca”, alega.

Valor da cerveja se manteve estável

Na contramão da alta dos preços da carne, o valor da cerveja se manteve estável durante o período da Copa, apesar da demanda pelo produto durante o Mundial. A bebida foi um dos destaques da desaceleração da inflação do país em junho.

De acordo com o IBGE, o IPCA fechou em 0,40% no último mês, sendo que em maio o índice ficou em 0,46%.

A categoria Alimentos e Bebidas foi a principal responsável por essa queda, ao registrar um recuo de 0,11%.

Mesmo com todo o aumento de consumo durante os jogos que ocorreram no país, campanhas como a Copa sem Aumento, promovida pela Ambev para segurar o preço do produto, surtiram o efeito esperado no bolso do brasileiro.

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