Por bferreira

Rio - Homem com menos de 45 anos e sem o Ensino Médio. Esse é o perfil do empreendedor do Complexo da Maré, conjunto de comunidades com 136 mil habitantes que possui três mil empreendimentos. Juntos, empregam nove mil pessoas, conforme o Censo da Maré, estudo inédito sobre a região feito pelo Observatório de Favelas e Redes da Maré.

O Complexo da Maré é formado pelo conjunto de 16 favelas com 136 mil habitantes e mais de 43 mil domicíliosCarlos Eduardo Cardoso / Agência O Dia

Entrevistados, 23% disseram que a prioridade no local é a maior oferta de serviços bancários, enquanto só 8% apontaram para a redução da violência. Como esperado, a maioria atua na informalidade. Motivos? Fornecedores e clientes não exigem a formalização e, a freguesia, em sua maioria, paga em dinheiro. “Chamou a atenção o número de pessoas que trabalham nesses empreendimento no local”, disse Dalcio Marinho, um dos coordenadores do projeto.

Grande parte dos comércios possui até duas pessoas trabalhando. Em 35,8%, o proprietário é o único trabalhador, enquanto 34%,9 têm dois funcionários. Porém, 71 empreendimentos (2,4%) empregam mais de dez pessoas na região.

Os empreendedores da Maré têm entre 25 e 45 anos de idade (45%), sendo 24,8% homens e 20,2% mulheres. Os jovens de até 25 anos representam 4,3% do total de comerciantes, com 2,2% do sexo masculino e 2% feminino. Entre todas as idades, os homens ainda prevalecem (59%).

O nível de escolaridade dos empreendedores é considerado baixo, com 53,2% tendo completado o Nível Fundamental, 32,3% o Médio e 7%, Superior. Os não alfabetizados somam 2,2%.

As atividades econômicas nas favelas da Maré são constituídas de comércio (66%) e serviço (33,3%). Quem mais se destaca são bares (22,4%) e serviços de beleza e estética (10,4%).

A instalação de agências bancárias ou terminais de caixas eletrônicos dominaram as reivindicações (23,2%), à frente de segurança pública (8,7%).

A informalidade ainda é alta, chegando a 75,6%. Sobre a intenção de formalizar o negócio, 47,7% não têm essa intenção e nunca tentaram. Na outra ponta, 33,8% têm a intenção, mas nunca se interessaram.

FGTS para abrir negócio

Antes de empreender, 81% dos pesquisados eram empregados com carteira assinada. E para abrir o negócio, 35% usaram o dinheiro da poupança ou venderam algum bem, como o carro ou imóvel. Outros 29% pegaram a indenização pela demissão, FGTS e seguro desemprego para investir.

Os demais, 12,8% contaram com lucro de estabelecimentos que já possuíam, 6,3% herdaram da família, 6,2% conseguiram empréstimo com amigos e familiares e 3,6% em bancos ou financeiras. Mais de dois terços não atuavam no ramo, e 76,7% não fizeram cursos da atividade que escolheram, necessitando de mais conhecimento.

CURIOSIDADES

FOCO NO NEGÓCIO
Atualmente, 86,8% dos empreendedores da Maré não possuem outra ocupação, senão o trabalho na próprio atividade.

EM FAMÍLIA
A maioria das iniciativas com mais de um trabalhador (63,9%) usa mão de obra de parentes. A esposa e os filhos predominam entre as pessoas que trabalham no negócio.

FIADO SÓ AMANHÃ
O número de compras a prazo nas favelas diminuiu. Mais de 60% dos empreendimentos recebem em espécie, apesar de 40% terem a possibilidade de efetuar o pagamento depois.

ESTRUTURA FRÁGIL
Apesar da média de quase três trabalhadores por cada estabelecimento, a realidade é que 2/3 dos negócios funcionam de forma muito limitada, com um uma estrutura frágil, dependendo sobremaneira da força de trabalho dos empreendedores.

FORA DE CASA
Antes, os negócios funcionavam com uma extensão da casa da pessoa. Hoje, 88% dos empreendimentos estão em estabelecimentos específicos.

SOZINHO
Mesmo com a família ajudando, 87% não possuem sócios. Esposas e filhos têm as responsabilidades de um sócio, mas não conseguem esse reconhecimento no dia a dia.

SEM CONEXÃO
78,4% dos empreendedores não usam internet no empreendimento (apesar do crescimento no uso em casa). Já 17,6% têm loja com internet.

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