Por felipe.martins

Rio -  A forte tensão pré-eleitoral na última semana da disputa para a Presidência da República tem se refletido diretamente na Bolsa de Valores de São Paulo. Conforme a divulgação de cada pesquisa, o sobe e desce do Ibovespa, principal índice do pregão, fica cada vez mais evidente. Ontem, o indicador recuou 2,55% aos 54.302 pontos. Com movimento contrário, o mercado de câmbio fechou com o dólar em R$2,463, em alta de 1,28%.

O encerramento na segunda-feira da bolsa captou apenas o resultado da pesquisa CNT/MDA, divulgada pela manhã, e que mostrou uma leve vantagem numérica de um ponto percentual da presidenta Dilma Rousseff (PT) sobre Aécio Neves (PSDB), mas mesmo assim, empate técnico, a pouco dias do segundo turno. Já os dados do Datafolha só foram divulgados no início da noite, quando o mercado já havia fechado suas operações. A reação para essa pesquisa será percebida quando a bolsa iniciar as operações desta terça-feira.

Nos EUA a bolsa não caiu mais porque as receitas da Apple cresceram 12%%2C acima do esperado%2C depois do sucesso de seus novos iPhones Efe

Porém, tem sido consenso nas últimas semanas que, quando o candidato tucano aparece à frente nas pesquisas, o mercado reage melhor e a bolsa sobe. O inverso também ocorre, se a presidenta Dilma Rousseff ensaia uma recuperação, os investidores se retraem. Neste caso, sobe o dólar. “O mercado está com medo de que o Aécio esteja começando a entrar numa trajetória de queda”, afirmou o gerente de câmbio da corretora Advanced, Celso Siqueira.

“O cenário é de nervosismo. É de clima de Copa do Brasil, com jogo de mata-mata e sem favorito”, exemplifica o economista Gilberto Braga, referindo-se a campanha eleitoral para explicar a volatilidade da bolsa brasileira nas últimas semanas;

Segundo ele, momentos de crise geram oportunidades, principalmente para quem gosta de se arriscar. Para o economista, só é possível fazer posições de compra ou de venda nesta semana, se o investidor tiver muita convicção do que vai acontecer nos próximos dias. Ainda assim corre o risco de perder.

“Porém, agora é para profissionais e para quem gosta de especular. É um momento que se pode ganhar muito, mas pode-se perder bastante. É um momento de cautela total, de manter as barbas de molho”, adverte Braga, que é professor do Ibmec-RJ e da Fundação Dom Cabral.

Fatores externos também influenciam as ações

Analista da Corretora Ativa, Lenon Borges também aposta na cautela nesta semana. Porém, segundo ele, além das pesquisas e do resultado do segundo turno, o mercado está de olho nos acontecimentos externos, principalmente na Europa. Entre os fatores, há a queda do preço do óleo bruto, o medo da epidemia de ebola.

Segunda, os principais indicadores do mercado europeu fecharam em queda. O Dax, de Frankfurt, Alemanha, recuou 1,50%. Já o CAC 40, da Bolsa de Paris, caiu 1,04% e o FTSE 100, de Londres, registrou desvalorização de 0,68%.

Nos Estados Unidos, o Dow Jones teve leve queda de 0,09%. “Essa é a semana mais crítica, com fortes quedas também na Europa. Aqui, o investidor continua sem confiança. A volatilidade favorece o perfil do investidor agressivo, mas creio que será mais de cautela”, avisa. No Brasil, com a volatilidade, as estatais são as mais afetadas. Os papéis preferenciais da Petrobras caíram 6,12% e os ordinários tiveram recuo de 5,83%. A baixa nas ações do Banco do Brasil foi de 5,78%. Já as ordinárias da Eletrobras perderam3,14% e as preferenciais desvalorizaram 3,14%.


‘HÁ UM CLIMA NEGATIVO DE FLA-FLU’

ALEXANDRE ESPÍRITO SANTO , economista

"Em 27 anos de mercado nunca vi nada igual. Uma disputa tão acirrada%2C num clima negativo"%2C Alexandre Espírito SantoDivulgação

Em recente entrevista ao DIA, logo após o encerramento do primeiro turno da eleição presidencial, o economista Alexandre Espírito Santo disse que o momento era de cautela, ao alertar sobre movimentos inconstantes da Bolsa de Valores e do dólar. Passadas duas semanas, o consultor da Simplific Pavarini e professor do Ibmec-RJ afirma que o clima de Fla-Flu que se instalou no país é muito ruim. “Estão levando a situação para quase uma ingovernabilidade. Como está, não tem vencedor”, alerta.

1. Do fim do primeiro turno para cá, o mercado ficou mais inconstante?

— Está uma sensação muito ruim, o que é péssimo. Estão levando o país para uma situação quase ingovernável após o resultado do próximo domingo. Da maneira como está hoje e como será esta semana, não haverá um vencedor.

2. O que mudou nestas duas semanas?

— Nos últimos dias, o mercado criou expectativa de que Aécio Neves (candidato do PSDB) iria ganhar a eleição. Assim, a bolsa subiu e o dólar caiu. Já, quando algum instituto de pesquisa aponta que a Dilma (Rousseff, do PT) pode virar, dando uma sensação de curva em alta e Aécio em baixa, o humor do mercado vira totalmente.

3. O resultado das pesquisas influência o movimento da bolsa?

— Há uma percepção de que a CNT é mais favorável a candidata do PT, enquanto o DataFolha (a entrevista foi concedida antes do resultado) e o Ibope seriam mais voltados para o Aécio. Isso é complicado. Em 27 anos de vida profissional e de mercado nunca vi nada igual, uma disputa tão acirrada e que está mexendo com os humores de todo o mercado, num clima negativo de Fla-Flu.

4. Quais são as principais consequências?

— Numa eventual vitória de Dilma, num primeiro momento o dólar subirá muito. Certamente o Banco Central (BC) terá que intervir no mercado, para segurar essa elevação. Ainda não é possível dizer o que será feito.
4. E o comportamento das ações das principais estatais, o que fazer neste momento?

— As ações do chamado ‘kit eleição’ sofrem forte pressão. Hoje (ontem), a Petrobras caiu mais de 3% e o Banco do Brasil, queda de cerca de 5%. Mas, o investidor — e não o especulador — tem que olhar a longo prazo. Tem que esperar o resultado das eleições e saber quem ganhou. Caberá ao vencedor sinalizar o que será feito e se haverá mudanças nos rumos da economia e das empresas. São essas perguntas que estão nas cabeças dos investidores nesse momento.

5. O que pode ocorrer?

— A Petrobras, por exemplo, apresenta dois problemas nesse momento. O primeiro é endividamento alto, devido à política adotada pela presidenta Dilma de penalizar o caixa da estatal ao não reajustar o preço dos combustíveis. Segundo, é a espada colocada na cabeça da empresa, com o possível rebaixamento da nota de investimento feita pelas agências de avaliação de risco, devido à redução dos investimentos na companhia. Se isso ocorrer, será muito ruim. Soma-se a esses dois problemas, a redução do preço internacional do petróleo, na casa dos US$ 80, que também compromete a viabilidade de projetos do pré-sal.

6. Mas o que fazer para reverter a situação?

— Os investidores estão atentos. Ou seja, se a Dilma vencer, ou ela dobrará a aposta e manterá suas convicções ou vai se dobrar as evidências e mostrar que é preciso promover mudanças. Se o eleito for o Aécio, tudo muda extraordinariamente, pois ele apresenta uma política mais favorável ao mercado. Certamente haverá reajuste dos combustíveis, melhorando também o nível de endividamento da Petrobras no longo prazo. O mesmo vale também vale para a Eletrobras, pois também é necessário reajustar o preço da energia.

As mudanças começam quando?

— Segunda-feira, dia 27, haverá um novo cenário, mais nítido. Sempre digo, bolsa é risco, mas não é cassino. Temos que olhar com muita frieza e não agir com emoção, sem agir por instinto. A bolsa é para investir e ver o desenvolvimento do país. Agora o imponderável está prevalecendo. (AG)

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