Por bferreira
Brasília - O futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fixou em 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) a meta de superávit para o próximo ano. O valor representa a economia que o governo terá que fazer, por meio de cortes nos gastos ou aumento de impostos. O número é modesto se comparado à estimativa que o atual titular da pasta, Guido Mantega, fez na semana passada, de que seria possível uma sobra de 2% do PIB em 2015. No ano passado, o governo poupou 1,5%, o que somou R$ 75 bilhões.
Joaquim Levy vai assumir o Ministério da FazendaAgência Brasil

A meta foi divulgada ontem, durante o anúncio que oficializou os nomes de Levy e de Nelson Barbosa para os ministérios da Fazenda e do Planejamento, respectivamente. Os dois farão parte da equipe de transição de governo. Ainda não há data prevista para eles assumirem o novo mandato.

A permanência de Alexandre Tombini no Banco Central também foi formalizada ontem. “Alcançar essas metas é fundamental para o aumento da confiança na economia brasileira e para criar as bases para a retomada do crescimento econômico e a consolidação dos avanços sociais dos últimos anos”, afirmou Levy.

Ele evitou entrar em detalhes sobre um possível ajuste fiscal em 2015. Questionado sobre o assunto, afirmou que seria precipitado divulgar receituário agora e que medidas serão estudadas no processo de transição, sem “grandes surpresas”.

MELHORIA DOS SERVIÇOS
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Em um breve pronunciamento, Nelson Barbosa, que volta ao governo após desentendimentos com Mantega, afirmou que pretende trabalhar para “a desburocratização e melhoria da qualidade dos serviços públicos prestados à população”.
Já o presidente do BC, Alexandre Tombini, afirmou que a melhoria nos resultados fiscais vai facilitar a diminuição da inflação em 2015.
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“Em relação ao conjunto das políticas macroeconômicas e dentro do fortalecimento da política fiscal, por meio de processo consistente e crível de consolidação das receitas e despesas rigorosamente conduzido, [°,Ú,]deverá, ao longo do tempo, facilitar a convergência da inflação para a meta de 4,5% ao ano”, declarou Tombini.
Indicações técnicas de Dilma têm boa repercussão
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As indicações de Joaquim Levy e Nelson Barbosa foram recebidas com otimismo por entidades empresariais e especialistas do mercado financeiro. O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, que chegou a ter o nome ventilado para a Fazenda, considerou “feliz” a escolha da dupla e disse que a presidenta “reafirma o compromisso deste governo com o desenvolvimento, a estabilidade e a gestão competente da política econômica”. O executivo afirmou que a decisão de Dilma está sintonizada com o “resultado das urnas”.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan) informou que recebeu a notícia com “renovado otimismo” e que os nomes indicam que Dilma está comprometida em buscar a estabilidade da política econômica.
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“A atuação firme e competente de Levy como secretário de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro deixou um legado para a administração das contas públicas no estado. O mesmo já se verificara ao desempenhar o cargo de secretário do Tesouro Nacional no governo Lula”, diz a nota.
O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, afirmou que Dilma fez excelentes escolhas.
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“Como secretário do Tesouro, Joaquim Levy executou com firmeza as políticas do ex-presidente Lula de ampliação do superávit primário e de redução e melhoria da composição da dívida pública”, disse o presidente da entidade.
Jesús Zabalza, presidente do Santander Brasil, afirmou que o trio é formado por pessoas de “competência reconhecida” e que a indicação “reforça a crença na capacidade da presidenta Dilma Rousseff de conduzir o Brasil de volta a um caminho de crescimento sustentável, realizando os ajustes necessários com firmeza e equilíbrio.”
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JOAQUIM LEVY - Carioca já atuou nos governos de Lula, FHC e Sérgio Cabral
Engenheiro naval formado pela UFRJ, com Doutorado em Economia pela Universidade de Chicago, conhecida pela ortodoxia, Joaquim Levy transitou pela equipe econômica dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Na era FHC, foi secretário-adjunto de Política Econômica do ministro da Fazenda, Pedro Malan, e economista-chefe do ministro do Planejamento, Martus Tavares.
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Com Antonio Palocci, na era Lula, foi o timoneiro naquilo que o ministro chamava de “manobra do transatlântico”, movimento que giraria do liberalismo tucano ao desenvolvimentismo social idealizado pelo PT, considerado demasiadamente lento pela ala mais progressista do partido e por movimentos sociais. A passagem de Levy pelo Tesouro foi marcada como o período em que o setor público apresentou os melhores resultados da gestão petista. Durante sua condução no setor, a União produziu os maiores superávits primários da série histórica iniciada em 1997: o governo central (que soma os resultados do Tesouro, do Banco Central e da Previdência Social) registrou uma economia equivalente a 2,3% do PIB em 2003, 2,5% em 2004 e novamente 2,5% em 2005.
Joaquim Levy deixou o cargo em 28 de março de 2007. Indicado pelo então presidente Lula, ele foi convidado pelo governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral para assumir a secretaria estadual de Fazenda, de onde saiu em 2010.
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NELSON BARBOSA - Egresso da UFRJ, ele é formulador de políticas públicas
Professor de Macroeconomia, o futuro ministro da Planejamento é essencialmente um formulador de políticas públicas macroeconômicas. Seu forte está nas ideias e seu prazer profissional, em buscar soluções inovadoras para os problemas econômicos. É de se esperar que Nelson Barbosa tenha uma atuação sóbria na área fiscal, o calcanhar de Aquiles da primeira gestão de Dilma Rousseff. O principal motivo que o levou a deixar a Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda, em junho do ano passado, foi a adoção de práticas fiscais das quais discordava.
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Barbosa, que será o primeiro ministro de Estado egresso dos quadros da graduação em Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), deixou marcas positivas na instituição.
“É uma pessoa muito séria, competente e objetiva. O Nelson detém algumas qualidades que são importantes: ele é um excelente gestor de políticas públicas, o membro mais confiável entre os que passaram pelo governo até agora e, do ponto de vista acadêmico, realizou trabalhos muito importantes”, declarou o diretor-geral do Instituto de Economia da UFRJ, Carlos Frederico Leão Rocha, que destaca, em especial, a pesquisa desenvolvida por Barbosa sobre a demanda como impulsionadora do crescimento econômico.
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Hoje ligado à Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e ao Instituto Brasileiro de Economia, da FGV do Rio, o futuro ministro tem um perfil discreto, mas exigente.
Colaboraram Sonia Filgueiras, Mariana Maimenti e Edla Lula
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