Por cadu.bruno
Aldemir Bendine começou a carreira aos 15 anos no Banco do Brasil e hoje é presidente da PetrobrasDivulgação

Rio - O atual presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, é o novo presidente-executivo da Petrobras, após o pedido de demissão de Maria das Graças Foster nesta semana. Bendine, funcionário de carreira do BB, está à frente do maior banco da América Latina desde 2009.

Ivan Monteiro deixou a presidência da diretoria de Finanças também do BB para a ocupar o mesmo cargo na estatal. 

Sob o comando de Bendine, o BB liderou uma ofensiva do governo petista para ampliar a oferta de crédito e baixar os juros, para atenuar os efeitos da crise financeira global na economia brasileira.

Por ser bastante alinhado às políticas do atual governo, a colocação de Bendine na liderança da Petrobras frustra expectativas de investidores e analistas de que o novo líder da petroleira viesse do mercado.

A escolha também indica as dificuldades que Dilma teve para costurar a sucessão na Petrobras de forma súbita, com a saída repentina de Graça Foster, como ela prefere ser chamada, e de cinco diretores da companhia.

O Conselho também elegeu diretores interinos para áreas operacionais.

Segundo fato relevante, assumem como diretores interinos Solange da Silva Guedes (Exploração e Produção), Jorge Celestino Ramos (Abastecimento), Hugo Repsold Junior (Gás e Energia) e Roberto Moro (Engenharia, Tecnologia e Materiais).

Ações despencam após escolha de Bendine para presidência da Petrobras

Após a notícia de que Bendine assumirá a Petrobras, as ações da empresa tinham forte queda. Às 10h50, as preferenciais e as ordináras recuavam mais de 5 por cento. Às 11h24, o Ibovespa, principal índice de ações do mercado, tinha queda de 2%, para 48.248 pontos. Perto do mesmo horário, as ações ordinárias da Petrobras tinham queda de 6,52% e as preferenciais, de 7,04%.

Já o dólar perdeu um pouco de força ao longo da manhã. Perto das 11h30, a moeda norte-americana avançava 0,365%, a R$ 2,7515 para venda, depois de fechar quase estável na véspera.

Novo presidente da Petrobras já esteve na mira da Receita Federal

Aldemir Bendine já esteve na mira da Receita Federal. O novo presidente da Petrobras, escolhido nesta sexta-feira, já foi investigado por evolução suspeita de patrimônio. Ele também já foi acusado de favorecer a socialite Val Marchori em concessão de empréstimo. O processo para verificar seu patrimônio, que era considerado incompatível com seus rendimentos, ocorreu no ano passado. Na época, o pagamento de um apartamento em dinheiro vivo chamou atenção da Receita.

Val MarchioriThiago Duran / Ag. News (arquivo)

Ele foi autuado por não comprovar a origem de aproximadamente R$ 280 mil em sua declaração anual de ajuste do Imposto de Renda. Na ocasião, Bendine pagou multa de R$ 122 mil para se livrar da investigação. O executivo alegou que a questão era familiar e não quis comentá-la. Sobre a multa da Receita, ele afirmou que o auto de infração resultou de um mero erro em sua declaração.

O escândalo envolvendo o ex-presidente do Banco do Brasil e Val Marchori ocorreu em 2014, quando ele foi acusado de driblar as regras da instituição financeira para favorecer a socialite. O banco emprestou R$ 2,7 milhões para Val Marchiori, a partir de uma linha de crédito subsidiada do BNDES, sem ela quitar um empréstimo anterior e mesmo com ela não tendo capacidade financeira para obtê-lo.

O empréstimo milionário só foi possível graças a uma operação incomum feita especificamente com o intuito da socialite conseguir os recursos. Bendine é amigo de Marchiori e os dois estiveram juntos em compromissos oficiais do banco na Argentina e no Rio de Janeiro. Na época ele negou as acusações e disse que o empréstimo tinha seguido todas as normas do Banco do Brasil.

Bendine gosta de manter dinheiro vivo em casa. Ex-motorista do BB, Sebastião Ferreira da Silva teria dito ao Ministério Público Federal que fez diversos pagamentos em dinheiro vivo a mando do executivo. O funcionário afirma que transportava "maços" de dinheiro para Bendine. Numa ocasião, o ex-presidente do banco teria saído de um apartamento nos Jardins, região nobre da capital paulista, com uma sacola cheia de maços de notas de R$ 100, que teria sido entregue a um amigo do executivo.

Identificação com gestão do governo Dilma

“O Bendine é uma pessoa muito identificada com a primeira gestão do governo Dilma. O BB foi absolutamente comandado pelo governo na primeira gestão e a Petrobras precisaria de alguém mais independente, que peitasse o governo em determinadas situações e não fizesse loteamento de cargos", disse à Reuters o sócio da Órama Investimentos Álvaro Bandeira, no Rio de Janeiro.

Para Bandeira, nomes que vinham circulando na mídia para a Petrobras, como o de Murilo Ferreira, presidente da Vale, e o de José Carlos Grubisich, ex-presidente da Braskem, seriam opções melhores. "Pesa por não ser alguém do setor, mas pesa mais por ser identificado com a primeira gestão de Dilma”, afirmou.

Novo presidente da Petrobras%2C Aldemir Bendine já foi investigado pela Receita FederalDivulgação (arquivo)

O novo comando da empresa terá entre seus desafios iniciais a regularização da publicação das demonstrações financeiras da estatal. Isso em meio à apuração de um escândalo de corrupção que exigirá que a companhia realize baixas contábeis bilionárias de ativos sobrevalorizados.

De ex-estagiário do BB a presidente da Petrobras

Aldemir Bendine, que começou a carreira no Banco do Brasil aos 15 anos como estagiário, chegou à presidência da instituição financeira, em abril de 2009, por indicação do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega – sob a benção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião, o governo petista estaria insatisfeito com a lentidão na queda das taxas cobradas pelo banco e essa foi a missão dada ao novato: reduzir as taxas de juros cobradas pelo banco e, assim, elevar o nível do crédito emprestado e volume de recursos ao consumidor.

Em 2010, Bendine protagonizou um briga pública pela indicação do nome do presidente da Previ (maior fundo de pensão da América Latina, do Banco do Brasil). Bendine brigava nos bastidores com Sérgio Rosa (então presidente da Previ). A briga foi recheada de acusações de ambas partes, que vazavam sistematicamente para a imprensa, mas Bendine viu seu candidato favorito, o vice-presidente de Negócios de Varejo, Paulo Caffarelli, ser rejeitado por Lula, que indicou Ricardo Flores, executivo com longa carreira no banco. Flores era vice-presidente de Crédito do Banco do Brasil.

Aldemir Bendine deixa o Banco do Brasil para assumir a presidência da PetrobrasDivulgação (arquivo)

Nascido em 10 de dezembro de 1963, em Paraguaçu Paulista (SP), Aldemir Bendine – ou “Dida” para os amigos de longa data – entrou no Banco do Brasil aos 15 anos, como estagiário. Em 1982, foi efetivado no BB como concursado. Cumpriu uma longa travessia dentro da instituição. Além da experiência no “chão de fábrica”, a agência bancária, foi assessor na Superintendência de São Paulo, gerente-executivo da diretoria de Varejo e secretário-executivo do Conselho Diretor.

Em 2006 e 2009, cumpriu a última estação antes de desembarcar na presidência do banco, ao ocupar a vice-presidência de Varejo. Ao contrário de outros dirigentes de bancos públicos que fizeram carreira caminhando no limiar do sindicalismo, Bendine nunca se filiou a qualquer partido político, embora seu nome seja sempre associado ao Partido dos Trabalhadores.

Presidente do Banco do Brasil e membro do Conselho de Administração, Bendine é Bacharel em Administração de Empresas, cursou MBA em Finanças e em Formação Geral para Altos Executivos. Da vida pessoal, sabe-se que é fã de Queen e torcedor do Palmeiras.

Abreu assumirá presidência do Banco do Brasil, diz fonte

O atual vice-presidente de Varejo do Banco do Brasil, Alexandre Abreu, será apontado para assumir a presidência da instituição financeira, disse à Reuters nesta sexta-feira uma fonte a par do assunto.

Abreu assumirá o posto no lugar de Aldemir Bendine, que será o novo presidente-executivo da Petrobras no lugar de Maria das Graças Foster.

Dilma aceitou renúncia de Foster na terça-feiraBruno de Lima / Agência O Dia (arquivo)

Renúncia coletiva

A renúncia de seis altos executivos da Petrobras na quarta-feira surpreendeu autoridades em Brasília, que previam uma mudança na diretoria da estatal apenas no fim do mês.

Na terça-feira, Dilma aceitou o pedido de demissão de Graça Foster, mas tinha acertado a permanência da executiva no cargo por mais algumas semanas. Mas outros cinco diretores da Petrobras não aceitaram ficar por mais tempo, precipitando a saída também de Graça Foster.

Já bastante desgastados, os diretores da Petrobras que estão deixando os postos não quiseram mais ser diretamente associados ao escândalo de corrupção, o maior da história do país, sem denúncias de que teriam envolvimento no sobrepreço de contratos para beneficiar ex-funcionários, executivos de empreiteiras e políticos.

Procurada, a Petrobras informou que não comentaria a informação de que Bendine será o novo presidente da estatal e disse que qualquer comunicação oficial será feita através da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

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Comunicado da Petrobras anuncia saída de Graça FosterReprodução



Com informações da agência Reuters e do iG.

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