Por tiago.frederico
Aldemir Bendine começou a carreira aos 15 anos no Banco do Brasil e hoje é presidente da PetrobrasDivulgação

São Paulo - O novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, terá uma série de desafios ao assumir a gestão da estatal petroquímica – afundada na maior crise de sua história. Para dar início a recuperação financeira da empresa e superar o tranco sofrido pelas revelações surgidas a partir da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, a nova administração terá de recuperar a credibilidade de investidores nacionais e estrangeiros.

Executivo de carreira no Banco do Brasil, Bendine substituirá Graça Foster, que renunciou ao cargo depois do desgaste frente à investigação dos casos de corrupção na estatal. A situação ficou insustentável quando a Petrobras divulgou o balanço não auditado do terceiro trimestre, mostranto as incertezas em relação ao critérios que deveriam ser empregados nas revisões dos ativos – o documento informa que os ativos teriam sido superavaliado em cerca de R$ 88 bilhões.

Especialistas ouvidos pelo iG apontam as principais dificuldades para o novo presidente da Petrobras.

Melhorar a governança

"Uma das maiores dificuldades do novo presidente nos próximos meses será recuperar a imagem da empresa. Para se recuperar financeiramente, a Petrobras vai precisar buscar crédito fora do País e, no momento atual, sem emitir um balanço oficial, o investidor estrangeiro não tem confiança", afirma Alexandre Wolwacz, sócio da escola de traders Leandro Stormer.

Segundo o analista, isso implicará na tomada de medidas de austeridade. "É preciso buscar transparência e punição aos envolvidos em casos de corrupção. O novo presidente vai ter de mostrar que veio para praticar uma gestão correta e transparente."

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A indicação do nome de Bendine não deve causar grandes reações no mercado investidor, avalia. "Para quem esperava Henrique Meirelles [ex-presidente do Banco Central], essa não é a melhor notícia. Para quem esperava um CEO de verdade como Roger Agnelli [ex-presidente da Vale], é uma péssima notícia. No geral, não é das melhores notícias, mas não é das piores. O mercado veria com péssimos olhos uma indicação politica, e vejo essa é indicação como neutra: não deixa o mercado eufórico, nem pessimista", explica.

Superar o bombardeio político

Para Divanilton Pereira, dirigente da Frente Única dos Petroleiros (FUP), Bendine deve se preparar para um "bombardeio de ordem política". "Diante de um episódio grave de corrupção, exigimos que a empresa apure e puna os culpados para que a Petrobras dê continuidade a seu papel de ser geradora do desenvolvimento brasileiro. O presidente tem de reforçar o planejamento estratégico da empresa", afirma.

Segundo Pereira, o novo presidente terá de "conter as forças adversárias históricas que querem desmoralizar e fragilizar" a empresa. "Esse episódio revelou a fragilidade do sistema de transparência e controle da Petrobras. É inadmissível que uma empresa que ganhe prêmios pela tecnologia empregada na retirada do pré-sal não desenvolva sua inteligência e um sistema transparente, sobretudo no aspecto da contratação de serviços. Faremos pressão para que isso ocorra."

Bombar a Petrobras

Para João Luiz Zuneda, diretor fundador da consultoria Maxiquim, especializada no setor petroquímico, o novo presidente precisa potencializar e valorizar a estatal. "A Petrobras é uma das maiores empresas de petróleo do mundo e é a maior empresa do Brasil. Temos o pré-sal, uma riqueza econômica que não surgiu do nada, mas do desenvolvimento tecnológico de técnicos da empresa. Isso mostra a força do Brasil", diz.

Para o analista, o novo presidente da estatal tem de retomar a valorização da Petrobras como verdade. "A população brasileira, os competidores internacionais e os investidores tem de entender a força da Petrobras e da economia brasileira. O novo presidente precisa fazer um plano para mostrar isso", afirma.

Equacionar os custos do pré-sal

"Existe uma preocupação em relação aos custos do pré-sal e a queda no preço do barril de petróleo. Se o valor cair para US$ 45 ou menos, isso pode inviabilizar a retirada do pré-sal. Baratear os custos da exploração seria uma estratégia bem vista", afirma Leandro Martins, analista-chefe da Walpires Corretora.

Para Martins, a indicação de Bendine pode não ser a esperada, mas não é reprovável. "O nome poderia ser melhor se não tivesse relação com estatal e fosse alguém doi mercado. Mas, é um profissional do mercado financeiro e o setor é transparente, tem mais controle e é bem regulamentado, além de ser bastante lucrativo."


Reportagem de Bárbara Libório, do iG São Paulo.

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