Por felipe.martins

Rio - Uma pesquisa do Instituto Data Popular colocou em números o preconceito existente contra os moradores das favelas brasileiras. Segundo a sondagem, 47% dos entrevistados afirmaram que não contratariam um habitante de comunidade para trabalhar em sua casa. Apesar do número alarmante, a situação do Rio é peculiar no que diz respeito à rejeição da contratação de mão de obra proveniente da favela, que costuma ser menor que em outras cidades do Sudeste.

“O Rio tem separação menor entre periferia e centro. Um terço da mão de obra feminina do Rio que vive na favela é empregada doméstica”, afirma Renato Meirelles, presidente do Data Popular.

A doméstica Versiani Azevedo afirma que uma boa referência vale muito na hora de conseguir trabalho Carlo Wrede / Agência O Dia

O levantamento foi feito com 3.050 entrevistados em 150 cidades brasileiras e também avaliou a percepção que as pessoas têm da vida nas comunidades. Do total, 69% disseram que sentem medo quando passam em frente a uma favela. Além disso, 51% associaram a palavra favela a drogas e à violência. “A favela é fruto de ocupações com uma total ausência do poder público. Esse espaço foi ocupado pelo tráfico de drogas e isso faz existir na opinião pública uma associação com coisas ruins”, afirma Renato Meirelles.

Ele também ressalta que a forma como a comunidade é retratada na mídia contribui para reafirmar os estereótipos. Segundo Meirelles, a rejeição também se aplica a outros tipos de contratação, principalmente em áreas que lidam com o atendimento ao público. Dados mais detalhados serão revelados quando a pesquisa completa for apresentada, no 2º Fórum Nova Favela Brasileira, que acontecerá no dia 3 de março.

Na experiência da doméstica Versiani Azevedo dos Santos, 37 anos, moradora da favela da Tijuquinha, as referências de empregadores anteriores são o fator determinante na hora de conseguir um emprego. “Já trabalhei como babá e doméstica e nunca tive problema por morar em favela. O que conta mais é a referência”, afirma. Ela reconhece, entretanto, a percepção negativa que a favela tem em bairros de classes média e alta.

A boa notícia é que os patrões já não estão podendo mais impor tantas condições na hora de contratar. Devido à escassez de mão de obra, o mercado está virando a favor das domésticas. “As filhas das empregadas estão conseguindo mais acesso a estudo e querem uma perspectiva diferente. Na prática, isso faz com que as domésticas possam escolher mais”, afirma. A pesquisa também revelou que 87% dos entrevistados acreditam que quem nasce na favela tem menos oportunidades do que quem nasce no asfalto.


Trabalhadora distorce informações

A preocupação com a rejeição do empregador na hora de procurar um emprego faz com que muitas domésticas omitam ou distorçam as informações sobre local onde vivem. “As pessoas usam esse artifício como autodefesa. Elas precisam trabalhar e buscam formas de se defender do preconceito. Mas isso é ruim para uma sociedade que quer ser democrática e igualitária”, avalia Jorge Barbosa, diretor do Observatório de Favelas. Para ele, o preconceito contra os moradores de favelas esconde outros juízos de valor negativos. “A grande maioria das empregadas é negra. Estamos falando de carga embutida de preconceito racial”, diz.


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