Por bferreira

Rio - Se é correto o dito de que o ano no Brasil só começa depois do Carnaval, o brasileiro terá um início de ano amargo, fruto do baixo crescimento do país e do processo de ajuste fiscal em curso para recolocar a economia nos trilhos. Além da inflação que não dá trégua desde o ano passado, a atividade econômica fraca terá efeito mais visível na taxa de desemprego, de acordo com especialistas. Para 2015, o mercado projeta retração de 0,42% do Produto Interno Bruto (PIB) — a soma das riquezas produzidas pelo país.

Volta da Cide e aumento no PIS/Cofins provocaram aumento de 7,3% nas bombas de gasolinaDivulgação

A inflação, que bateu na trave do teto da meta de 6,5% ano passado, este ano deve estourar o limite, com estimativa de fechar em 7,27%. Os principais vilões são os preços administrados (aqueles que são regulados pelo governo). Relatório do Itaú BBA projeta um aumento médio de 10,4% em 2015. Os valores são puxados principalmente pela energia elétrica e pela gasolina. O carioca já sentiu o reajuste do transporte público e do combustível, este último devido ao aumento de impostos determinado pelo governo federal.

De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o valor do médio da gasolina no estado aumentou 7,3% nos postos na primeira semana de fevereiro, em relação à última semana de janeiro, passando de R$ 3,22 para R$ 3,45, o litro.

Os alimentos também tiveram alta e pesaram no bolso do carioca no início do ano. Segundo o IBGE, o grupo subiu 1,58% na capital somente em janeiro.

O casal Nívea Monteiro, 38 anos, e Rogério Espinheira, 40, sentiu a elevação. “Temos o costume de comer fora de casa, mas vamos ter que evitar. As compras de supermercado também ficaram mais caras, mas ainda sai mais barato do que ir em restaurantes. Antes, fazíamos compras de mês, mas como os preços mudam muito a cada dia, vamos ter que ir ao mercado semanalmente e tentar aproveitar as promoções para economizar”, planeja Rogério.

Para combater a inflação, analistas esperam que na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dias 3 e 4 de março, o Banco Central volte a aumentar a taxa Selic, que é usada como referência de juros no país. O indicador já se encontra em patamar elevado, de 12,25% ao ano. “Projetamos uma alta de 0,5 ponto percentual em março e mais 0,25 ponto. A inflação deste ano vai ficar muito alta, e no ano que vem as expectativas ainda são distantes do centro da meta”, afirma Alessandra Ribeiro, economista da Consultoria Tendências.

A medida deixa o crédito mais caro. Por causa disso, a orientação é clara: as famílias devem tentar evitar o endividamento este ano. É tempo de repensar os parcelamentos e financiamentos e concentrar esforços em poupar dinheiro. “O ideal é a formação de poupança para lidar com momentos mais difíceis. O crédito custará mais caro, e não é só por conta dos juros. Os bancos sabem que o risco de inadimplência é maior a vão repassar para o consumidor”, afirma.

Empresários tentam reter funcionários

Se, por um lado, os empregados estão focados em manter seu espaço garantido no mercado de trabalho, empresários fazem os cálculos para conseguir manter sua mão de obra. Proprietária de um curso de idiomas para executivos, a empresária Angela Branco está apreensiva com a queda da demanda. Com a clientela focada na área de óleo e gás, que está em crise por causa do escândalo da Petrobras, ela está tendo que renegociar contratos.

Apesar disso, quer reter os funcionários, pois sabe que o mercado ficará aquecido no ano que vem em função das Olimpíadas. “Os cargos que são desocupados não estão sendo preenchidos, mas não pretendo demitir”, diz ela, que prevê dificuldade de captar novos clientes neste ano. A meta é não encolher. Em tempos difíceis, ficar no zero a zero já é lucro.

Economia fraca terá reflexos no mercado de trabalho

O índice de desemprego, que se manteve baixo no ano passado, pode começar a subir durante este ano. Esta tendência deu sinais no último trimestre de 2014, que fechou com taxa de 6,5% de desocupação. No mesmo período do ano anterior, o índice ficou em 6,2%. Por causa disso, recomenda-se cautela para pessoas que querem mudar de emprego em 2015. Para o professor Antônio Carlos Porto, da Fundação Getulio Vargas, o momento é de pensar duas vezes antes de pedir demissão e tentar se aventurar na carreira. “É um ano muito ruim para fazer isso. Este ano é para colocar as barbas de molho e ficar segurando na boia, porque o mar não está para peixe”, avalia.

O economista chefe da Austin Ratings, Alex Agostini, concorda que a prudência deve prevalecer. Uma boa movimentação é investir em qualificação profissional, para sair na frente quando as dificuldades no mercado se dispersarem. “A cada ciclo econômico em que há retração, a qualificação se destaca”, afirma.

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