Por bferreira

Rio - A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou, ontem, o reajuste de 9% para todas as faixas do piso regional. O aumento é retroativo a 1º de janeiro e beneficia cerca de dois milhões de trabalhadores. De acordo com o texto, a menor faixa terá o valor de R$ 953,47. Este será o salário das domésticas no estado. O montante também vale para servidores, aposentados e pensionistas do estado que recebem pelo piso.

O porteiro Daniel Ferreira de Souza considerou o aumento razoávelJoão Laet / Agência O Dia

A faixa salarial mais alta terá o inicial de R$ 2.432,72. O projeto agora será enviado ao governador Luiz Fernando Pezão, que tem 15 dias úteis para sancioná-lo ou vetá-lo.

A proposta original, enviada à Casa pelo Executivo, previa um reajuste de 7,5%, mas os deputados chegaram a um acordo para que o percentual ficasse próximo ao aumento do salário mínimo nacional, que foi de 8,8%. As bancadas do PT, Psol e PRB pediram um valor maior, mas a maioria dos parlamentares considerou que o momento de aperto econômico não permitia a aprovação de um percentual mais elevado.

“O mínimo nacional foi reajustado em 8,8%, que corresponde à inflação no período, por isso nós entendemos por bem fazer este reajuste. Isso mantém a prudência no momento de crise”, afirmou o vice-líder do governo, Jânio Mendes (PDT).

Clique e confira os valores e as faixas salariais aprovados pela Alerj

Os deputados eliminaram a faixa salarial mais baixa, que englobava apenas a categoria de trabalhadores agropecuários e florestais. Eles foram incluídos entre os profissionais que pertencem à faixa 2. Também ficou definida a criação de uma comissão estadual para estudar a redução de mais duas faixas salariais nos próximos anos.

O texto aprovado inclui as categorias de jornalista e sociólogo (faixa 8), técnico em instrumentalização cirúrgica (faixa 7), além de motorista de ambulância, maqueiro e auxiliar de massagista (faixa 2).

O porteiro Daniel Ferreira de Souza, 56 anos, morador de São João de Meriti, considerou o valor do aumento “razoável”, mas lamentou que os preços estejam subindo a uma velocidade cada vez mais rápida. “A Semana Santa está chegando e o preço do bacalhau está assustador. Esse ano vai ser difícil! Vamos ter que substituir por sardinha e olhe lá!”, afirma.

Já a projetista industrial Barbara de Melo Lopes, 26 anos, diz que o aumento não é justo diante da inflação. Sua maior preocupação, no entanto, é com o desemprego. O setor onde trabalha está enfrentando dificuldades e ela tem vivido cada mês como se fosse o último. Não há previsão de novos projetos, logo não há perspectiva de se manter empregada. “Trabalho num projeto que tem dois anos de duração, e esse prazo está chegando ao fim”, afirma.

Trabalhadores têm ganho real

Mesmo com a economia enfraquecida, o número de negociações salariais com ganho real para o trabalhador aumentou no ano passado, em relação a 2013. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 91,5% dos acordos entre patrões e empregados no ano passado tiveram aumento real. No ano anterior, o percentual foi menor, de 86,2%.

Em média, os trabalhadores conseguiram um aumento de 1,39% acima da inflação. O segmento que teve o maior número de acordos com aumento real foi o comércio (98,2%), seguido da indústria (90,9%) e do setor de serviços (89,2%). Em 2,4% das negociações, o reajuste ficou abaixo da inflação.

Para o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, o baixo desemprego contribuiu para o resultado. “Mesmo com o mercado de trabalho com tendência de perda da dinamicidade e geração de novos postos, os níveis de desemprego foram baixos”, afirmou o especialista.

Cai a intenção de consumo das famílias em março

A intenção de consumo das famílias brasileiras atingiu o menor nível desde o início da série histórica, em 2010. O índice foi divulgado ontem pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em março, o índice chegou a 110,6 pontos, queda de 6,1% em relação a fevereiro e de 11,9% ante março do ano passado.

A inflação e os juros altos são os principais fatores que inibem os gastos familiares, na avaliação da entidade.

Para a economista da CNC Juliana Serapio, a situação pode se agravar, com o fechamento de vagas formais no país . “Os dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, mostram redução do emprego formal, principalmente no setor do comércio, o que mais gera vagas. Isso torna as pessoas cada vez mais inseguras”, diz.

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