Por felipe.martins

Rio - A confirmação de que o Brasil cresceu apenas 0,1% no ano passado — resultado do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos por um país — somada a elevação das taxas de desemprego e inflação nos primeiros meses de 2015 acenderam o sinal vermelho para os trabalhadores. Pela primeira vez em mais de uma década, os reajustes salariais de dezenas de categorias correm o risco de não apresentar ganhos reais.

Na avaliação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 2015 será um ano muito difícil. No entanto, há diversas variáveis que pesam na hora de promover uma negociação salarial e não se deve observar apenas sob a ótica do PIB. Coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira diz que nem sempre um ano com desempenho econômico fraco reflete igualmente numa negociação trabalhista.

Petroleiros%2C junto com a CUT%2C se opôem ao Projeto de Lei 4.330%2C que amplia a terceirização nos diversos setores da economia nacional.Divulgação

Com base no levantamento “Balanço das negociações de reajustes salariais de 2014”, divulgado na semana passada, Silvestre destaca que apesar de o desempenho econômico em 2013 ter sido melhor do que o ano passado, o ganho real de 2014 (1,39%) ficou acima do que no ano anterior (1,22%). “Mesmo com a economia dando sinais de enfraquecimento, 2014 teve a terceira melhor marca em negociação salarial de toda a série histórica, iniciada em 1996”, diz o especialista.

Segundo ele, com o cenário adverso e cheio de incertezas, é cedo para fazer um prognóstico do que ocorrerá este ano. A única certeza, explica o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, é que as dificuldades nas relações trabalhistas exigirão maior mobilização dos trabalhadores.

Duas outras características despontam nessas situações: ampliação dos movimentos grevistas e maior defesa dos direitos sociais. “Com o crescimento nulo, há uma certa intransigência dos patrões em oferecer reajuste maior. Assim, o movimento grevista ganha força, bem como uma maior reivindicação de direitos em detrimento do reajuste salarial”, diz.

Foi o que ocorreu mês passado com os trabalhadores do Complexo Petroquímico de Rio de Janeiro (Comperj). Após 11 dias parados,eles suspenderam a greve mesmo sem um percentual definido entre patrões e empregados. Os 7,13% — reposição da inflação dos últimos 12 meses — foram obtidos por meio de proposta de conciliação feita pelo Ministério Público do Trabalho.

“Precisamos aprender a entrar em uma paralisação e sair dela sem muitas sequelas porque, na vida, quando a gente dá dois passos para frente, tem que saber dar um passo para trás”, disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Empregados nas Empresas de Montagem e Manutenção Industrial do Município de Itaboraí, Paulo Cesar Quintanilha, quando defendeu o fim da greve.


Mobilização para manter aumento real

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, Alex Santos diz que é prematuro fazer qualquer diagnóstico para a atuação da categoria este ano. Segundo ele, a estagnação nos estaleiros em todo o país já é uma realidade e o medo de demissões, também. Santos diz apostar numa retomada da economia no segundo semestre e que a categoria, assim como os bancários, vai lutar para manter os ganhos reais no salário.

“No ano passado, os trabalhadores da indústria naval tiveram reajuste de 9,5%, cerca de 3,78% de aumento real. Os demais trabalhadores, ficaram com 7,5% de aumento, acréscimo de 2% de valorização real. Vamos manter essa luta”, disse.

Almir Aguiar, presidente do Sindicato dos Bancários do Rio, mesmo com o cenário adverso, acredita que as categorias mais organizadas, como os químicos, petroleiros e os próprios bancários, puxarão as lutas por melhores salários. Segundo ele, a organização e a disposição dos trabalhadores este ano deverão ser maiores pela manutenção dos salários acima da inflação.

Em 2014, segundo o Dieese, 92% de 716 categorias tiveram aumento real e 6% igualaram-se a inflação. Apenas 2%, ficaram abaixo.

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