Por bferreira

Rio - Foi divulgado ontem o indicador oficial que mede a inflação para o mês de março de 2015 e o resultado foi um aumento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 1,32%. Em termos práticos, a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) só veio confirmar o que todo mundo já sabe e não é mais surpresa para ninguém, que é o fato dos preços da economia terem aumentado muito nos últimos meses.

Se olharmos o que é considerado o item moradia no indicador oficial, que congrega todos os custos que uma família tem para morar e se alimentar, encontraremos os maiores fatores que pressionam a inflação. Este campo é responsável por 82% da subida dos preços na economia. Dentre todos os itens, o que mais subiu foi a energia elétrica, que sozinha responde por mais da metade do custo de vida (52%) do último mês.

Em termos anuais, a inflação cravou 8,13%, o que é maior em 25% que o teto de 7,5% admitido para o IPCA e 54% maior do que o centro da meta da inflação que é de 4,5%. De outra forma, pode-se dizer que a inflação hoje é um pouco mais do que o dobro daquela o governo planeja e considera ideal para a população do país.
Isso, no bolso de cada cidadão, representa que o seu dinheiro está acabando na metade do tempo que devia durar. Na época da hiperinflação (já foi muito pior do que hoje) se dizia que o mês tinha ficado mais curto em termos de salário, forçando o trabalhador a usar o cheque especial ou cartão de crédito, o que em algum momento futuro se tornava a dívida e sobre a qual se paga juros. Com taxas tão elevadas, estamos próximos de reeditar esses tempos difíceis, quando o Dragão da Inflação era o grande pesadelo das famílias brasileiras.

Os vilões dos aumentos, além da conta de luz, foram os alimentos e os preços dos combustíveis. Ou seja, por mais que se economize, se corte despesas e supérfluos, se mude os hábitos em casa e se evite o desperdício geral, não há como fugir da inflação. Em algum momento ela morde o bolso de todo mundo, sem discriminações.

Esse é o preço a se pagar pela recente política econômica, guiada por um projeto político de poder. A inflação é perversa e não nos deixa esquecer que a insensatez nas decisões econômicas destrói conquistas sociais e abre brechas para que os antigos heróis possam se tornar novos vilões.

Professor de Finanças do Ibmec e da Fundação Dom Cabral

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