Rio - Unidas contra a tesoura de Joaquim Levy e separadas pela terceirização: assim se encontram a CUT e Força Sindical em um ano de dissabores para o trabalhador. As duas maiores centrais sindicais do país, com representatividade de 31,7% e 10,82% dos sindicalizados, respectivamente, estão juntas contra as medidas de ajuste fiscal, mas rachadas na discussão sobre a subcontratação.

Nesta sexta, as centrais promoverão uma paralisação geral para protestar contra o ajuste fiscal e contra o Projeto de Lei Complementar 30/2015 (antigo PL 4.330), que regulamenta e amplia as possibilidades de terceirização e tramita no Senado. O ato será nos mesmos moldes da paralisação do dia 15 de abril, após o projeto ser aprovado na Câmara dos Deputados.
O movimento tem a adesão da CUT e de pelo menos outras cinco centrais, como a Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a União Geral dos Trabalhadores (UGT) e a Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST). Se o projeto seguir adiante, as entidades ameaçam convocar uma greve geral, o que não ocorre no país desde 1991, no governo de Fernando Collor de Mello.
A Força não participará do ato. Apesar de ser uma das principais vozes contra o ajuste fiscal, a central é favorável ao projeto que libera a terceirização na atividade-fim das empresas. Segundo o Secretário-Geral da Força, Juruna, a entidade deliberou sobre o assunto e chegou à conclusão de que a manifestação contra o PLC 30/2015 servirá como uma “cortina de fumaça”, que acabará ofuscando a luta contra o ajuste. “Ele vai esconder grandes mudanças que irão ocorrer com a votação das MPs 664 e 665. Queremos priorizar outras bandeiras, como a luta contra os juros altos e o desemprego.” Juruna diz que a Força quer se articular com outros movimentos de trabalhadores para pressionar o Copom a reduzir a taxa de juros.
Para a secretária nacional de Relações do Trabalho da CUT, Maria das Graças Costa, a falta de envolvimento da Força não afetará a paralisação. “Estamos contando com um envolvimento contundente dos movimentos sociais. Esperamos um movimento bastante amplo porque temos apoio da população.”
Ajuste fiscal é o único ponto em comum
No que diz respeito ao ajuste fiscal, as centrais estão afinadas. Ambas fazem pressão no Senado contra as medidas provisórias 664 e 665, que alteram regras de benefícios previdenciários e trabalhistas como a pensão por morte, o abono salarial e o seguro-desemprego.
O posicionamento coloca as duas centrais como oposição ao governo e, principalmente, a Joaquim Levy, articulador e executor do corte de gastos programados para este ano.
No caso da CUT, é um momento peculiar, já que a entidade sempre foi ligada ao PT. Já a Força Sindical está em uma posição mais confortável como oposição, já que nos últimos anos, um dos fundadores da entidade, o deputado Paulinho da Força, aproximou-se do PSDB e do senador tucano Aécio Neves, a quem declarou apoio na eleição de 2014.
Racha não prejudica relação
Para o secretário-geral da Força Sindical, Juruna, a divergência de posições com a CUT e outras centrais no que diz respeito à terceirização não prejudica o relacionamento entre as centrais. “É comum ter divergências, e os diferenciais de opinião podem se somar em alguns pontos. No projeto da terceirização, podemos trabalhar juntos no Senado para melhorar o projeto”, afirmou.
Já Maria das Graças Costa, da CUT, lembra que as duas organizações já militaram juntas contra o projeto.
“Em 2011, entregamos uma proposta de lei para regulamentar a terceirização ao Congresso. Era uma proposta unificada e a Força estava junto”, lembra. Costa afirma, também, que entre os sindicatos que compõem a base da Força, há quem siga o posicionamento defendido pela CUT.