Por marcelle.bappersi

São Paulo - Com a quebra da Unimed Paulistana, a Agência Nacional de Saúde (ANS) determinou, no último dia 2, a migração dos clientes para outras operadoras. A Qualicorp, administradora que tem 160 mil das 744 mil contas do plano, se comprometeu a respeitar as características da rede hospitalar oferecida e o valor cobrado anteriormente. Apesar disso, vários clientes estão se deparando com propostas de transferência com planos que chegam a ser 80% mais caros.

É o caso do advogado José Alexandre Amaral, cliente Unimed por plano coletivo por adesão pela Caasp (Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo). Ele conta que pagava R$ 2.663,91 no plano Master na Paulistana e que, agora, lhe foi oferecido pela Qualicorp a categoria Ouro, da Federação das Unimeds do Estado de São Paulo (Fesp), no valor de R$ 4.860,23.

Procon-SP cobrou iniciativas da Unimed Paulistana para agilizar transferência de beneficiáriosDivulgação

"Não está sendo cumprido o que foi combinado, o valor é exorbitante", diz ele, que acrescenta que a segunda opção de categoria de plano oferecida, a Prata, não cobre diversos hospitais, clínicas e laboratórios que o anterior deixava à disposição.

"A outra opção é mais barata, mas continua sendo mais cara do que a anterior e retira da rede de atendimento vários hospitais e médicos que eu tinha na Paulistana", completa.

Outro problema relatado é em relação à possibilidade de cancelamento dos dependentes. No caso de Amaral, os planos de seus pais – os mais caros, por conta da idade acima dos 60 anos – tiveram aumento de 118% nos valores.

Procurada pelo iG, a Qualicorp esclareceu que oferece aos beneficiários da Unimed Paulistana a opção de adesão a um novo plano em condições especiais, que " é facultativa ao cliente", podendo ele aguardar ou não pela decisão da Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS) sobre a alienação compulsória da operadora.

Em nota, a Qualicorp afirmou ainda que, em alguns casos, há contratos antigos da Unimed Paulistana que já não são compatíveis com as atuais regras do setor, o que explica eventual variação de preços em relação aos novos planos ofertados. A empresa esclareceu ainda que em casos de alguns planos antigos, não foi possível a compatibilização de preço, sendo que as faixas etárias não obedeciam à regulamentação dos planos de saúde ou aos limites estabelecidos pelo estatuto do idoso. 

A empresa afirmou também que "haverá a possibilidade de exclusão de dependentes fora dos prazos contratuais habitualmente previstos. Esta orientação será reiterada junto às nossas áreas de atendimento." 

Colega de empresa de Alexandre, o também advogado José Roberto Morato sofre com o mesmo problema, e pensa em entrar na Justiça. Além da barreira dos novos preços, ele relata também a negativa de alguns grupos em aceitar dependentes – dando como exemplo o Notre Dame, que consta na lista de possíveis migrações para beneficiários da Caasp.

"É um absurdo a forma grosseira pela qual estão fazendo isso. Aos 72 anos, eu que preciso me de uma assistência médica e hospitalar [adequada], tenho que me deparar com esse tipo de situação", afirma.

Procurada, a Notre Dame não quis comentar o caso. Em contato telefônico do iG com a assessoria de imprensa, somente foi informado que o oferecimento de possibilidades de migração não é de responsabilidade da empresa.

A ANS não se opõe à prática da operadora. A agência diz apenas que orienta que o beneficiário analise as condições de preço e as mudanças relativas à rede assistencial nas propostas oferecidas pelas administradoras.

Por meio da assessoria da imprensa, o órgão de regulamentação somente reiterou que o beneficiário tem o direito de decidir se aceita as condições ou se prefere se desligar do plano.


A Fesp não enviou nenhum posicionamento sobre o caso até o momento desta publicação. Já o Procon-SP informou que, apesar dos relatos, não tem registro de nenhuma reclamação com esse teor.

Prazo de transferência de clientes expira no próximo dia 2

O prazo da ANS para que a Unimed Paulistana repasse seus cerca de 744 mil beneficiários termina no próximo dia 2, quando expiram os 30 dias passados da publicação no Diário Oficial da União.

A maior parte dos clientes reside no município de São Paulo, entre os quais 78% estão em planos coletivos (empresariais e por adesão). Caso a totalidade da carteira da operadora não seja totalmente transferida até o prazo, a ANS poderá fazer uma oferta pública para que operadoras interessadas façam propostas de novos contratos aos beneficiários.

Fonte: IG

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