Por thiago.antunes

Rio - Evasão de alunos da rede privada para escolas públicas, disparada da inadimplência e reajustes anuais de mensalidades batendo na porta. Em meio ao peso da crise econômica no orçamento das famílias e o medo de perder alunos, pais e escolas podem chegar a um denominador comum nessa equação: a negociação. O momento é bom para discutir valores. Diante deste cenário, as escolas particulares estão mais flexíveis para oferecer bolsas e negociar com quem acumula dívidas.

Pesquisa do SPC Brasil mostra que o índice de inadimplência com mensalidades de escolas e faculdades no país passou de 8% em agosto do ano passado para 19% no mesmo mês deste ano. Enquanto isso, o número de alunos que deixa a rede privada e vai para as escolas públicas só cresce.

Depois de negociar%2C Daniella conseguiu desconto de 35% na mensalidade da filha%2C Isabella Ernesto Carriço / Agência O Dia

De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, há 21,3 mil alunos saídos do ensino privado matriculados nas escolas estaduais neste ano, quase três mil a mais que no ano passado e 8,6 mil a mais que em 2013. Mesmo sem saber o número de alunos que deverá migrar para unidades estaduais no ano que vem, o governo diz que tem vagas suficientes para receber esses novos estudantes.

O cenário é favorável para os pais que tentam cavar uma bolsa ou negociar dívidas. Segundo o educador financeiro Reinaldo Domingos, quem tem reserva para fazer o pagamento anual das mensalidades consegue descontos que podem chegar a 20% do total do pagamento. “Já o pai que está equilibrado ou com o orçamento apertado precisa ter paciência e tempo. Tem que agendar uma conversa na escola, elogiar a instituição, dizer que quer muito que o filho continue lá e mostrar que não tem condições de pagar as mensalidades para buscar uma bolsa. Não há escola que não possa melhorar os valores”, diz.

Reajustes tímidos

Presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Rio, o deputado Átila Nunes diz que a crise fez as próprias escolas pisarem no freio. “Já recebemos informações de que muitas escolas deixarão de reajustar ou farão reajustes pequenos. Muitas inclusive abriram mão de exigir a pré-matrícula. A orientação é negociar até a exaustão, quem negocia consegue desconto”, afirma.

Segundo a Federação Nacional das Escolas Particulares, ainda não foi calculado o percentual do reajuste médio que será aplicado pelas escolas no próximo ano. Esse aumento é regulado pela Lei 9.870, de 1999, que determina que o reajuste será definido por cada instituição, com base em sua planilha de custos.

Presidente da Federação, Amábile Pácios diz que a tendência é que as escolas que estão com as contas equilibradas congelem os valores das mensalidades, mas adianta que este não é o caso da maioria das instituições. “No caso de fazer uma negociação, a família é que deve se engajar. Se ela gosta da escola e o valor da parcela não cabe no orçamento, ela deve conversar com o gestor”, orienta.

O fôlego na negociação foi a carta na manga da jornalista Daniella Araújo na hora de barganhar uma bolsa para a filha, Isabella, num colégio na Ilha do Governador. O tempo investido valeu a pena: a mensalidade, de R$ 892,20 caiu para R$ 580, uma queda de 35% — mas o valor só vale para o pagamento feito antes do vencimento.

“A Isabella fez uma prova inicial para avaliação, e com o resultado conseguimos desconto de 5%. Depois consegui mais 5% por ser funcionária publica. Com isso, eu ainda conversei um pouco com a escola dizendo que tinha que assumir responsabilidades que conseguisse pagar e consegui esse desconto de 35%. gora estou entrando em negociação para o ano que vem, com o objetivo de manter a bolsa”, conta Daniella.

Nova proposta antes de contrato

Para o consultor de negócios Valdir Martino, uma estratégia que pode ser usada pelos pais é se colocar como uma pessoa valiosa para a instituição. “A instituição quer manter o bom pagador”, diz. O especialista reforça que até mesmo quem acumula dívidas com as instituições deve procurar descontos para regularizar a situação. “É como negociar com banco. A pessoa deve fazer uma proposta, pedir um parcelamento ou anistia de juros e multa no pagamento à vista. A instituição sempre vai preferir que a dívida seja paga”.

Segundo a Proteste Associação de Consumidores, o número de pais que já mostra que não conseguirá pagar as mensalidades tem aumentado. Quem pensa em negociar já deve começar a se mexer. “É importante fazer toda a negociação antes de assinar o contrato”, diz a presidente da associação, Maria Inês Dolci.

“Há várias saídas. Os pais podem pedir parcelamento da matrícula ou até mesmo que a mensalidade seja cobrada em valores escalonados, começando mais baratas. Quem tem mais de um filho matriculado na mesma escola também deve correr atrás de desconto”.

Esse é o caso da fonoaudióloga Ana Paula Viana, que vai matricular o terceiro filho na mesma escola que os outros dois irmãos. “Quando comecei a planejar a entrada do terceiro, precisei negociar. Usei argumentos como o fato de nunca ter atrasado matrículas e também aproveitei meu conhecimento com a fonoaudiologia e me ofereci para dar orientações e oficinas, tanto para pais quanto para a equipe da escola. Acho que será uma contrapartida interessante e já recebi um aceno positivo da escola”, diz ela.

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