Por tamyres.matos

Rio - Com o término da greve nas redes estadual e municipal de ensino do Rio, os professores já começaram a destacar os principais pontos do conteúdo programático que não foram ensinados durante a greve de 79 dias. A ideia é concentrar as lições mais importantes, para que os alunos não sejam prejudicados.

Antes de pegar nos livros, porém, parte dos alunos receberá nesta terça-feira, primeiro dia de aulas na rede municipal após a paralisação, uma lição sobre a greve. “Seria falta de respeito voltar para a sala de aula como se nada tivesse acontecido. É nossa obrigação justificar para os alunos os motivos da greve”, argumentou Marta Moraes, coordenadora do Sindicato Estadual de Educação (Sepe).

O professor Armindo dos Santos organizou o material de estudoFernando Souza / Agência O Dia

Professor de História no município e no estado, Armindo Lajas dos Santos contou que já conversou com os alunos na última sexta-feira, quando retomou as atividades no estado: “Tive uma boa receptividade, e eles compreenderam o momento que a Educação vivenciou nos últimos meses. Como são adultos, pudemos conversar abertamente sobre os pontos que levaram à greve”. O docente explicou que, para as crianças, será apresentado um texto elaborado fim de semana com personalidades da História, que servirão para ilustrar o atual cenário político e educacional do município.

Professor no estado e na prefeitura de Língua Portuguesa, Marcelo S’Antanna também preparou um texto sobre a greve: “Eu voltaria na sexta-feira, mas a escola apresentou problemas com água e fomos orientados a voltar hoje. Vou mostrar para os meus alunos, sejam crianças ou adultos, que lutamos por eles, para que tenham um ensino público de qualidade.”
Uma das metas do Sepe é que os docentes identifiquem junto com a direção da escola a realidade social de cada unidade e, assim, possam adequar a reposição das matérias ao dia a dia do aluno.

A coordenadora Marta Moraes afirma que há um comprometimento entre os professores de repor as aulas de forma “digna, porém, honesta”: “Não adianta impor aulas aos sábados ou em janeiro, pois as salas vão ficar vazias. O professor vai comparecer para não ter o ponto cortado. Mas os alunos não vão, e eles são nossa prioridade”.

‘Voltamos de cabeça erguida’

Os professores Armindo dos Santos e Marcelo S’Antanna afirmam que voltam para a sala de aula de cabeça erguida: “Sempre voltamos com a sensação de dever cumprido. Tivemos um recuo estratégico, mas vamos cobrar as ações prometidas pelos governos, principalmente, na área pedagógica”, disse Marcelo.

O docente Marcelo aproveitou o fim de semana para separar os conteúdos que ainda não foram ensinadosFernando Souza / Agência O Dia

Ele destacou que o plano de carreira em vigência não contempla toda categoria no quesito enquadramento por formação, que ainda fica condicionado ao orçamento. Criticou a chamada polivalência, quando um professor poderá dar aulas de várias disciplinas, de acordo com o projeto em vigor da rede municipal de ensino — onde as aulas só serão retomadas amanhã, já que hoje é feriado pelo Dia do Servidor Público.

Correndo atrás do prejuízo de 19 anos

O professor de História Armindo Lajas dos Santos destacou que entre as conquistas da greve está o entendimento da sociedade de que o professor não luta somente por salário: “Vivemos uma letargia nos últimos 19 anos. A sociedade entendeu que lutamos pelas causas pedagógicas e que os nossos alunos são prioridade.”

A paralisação no estado e na prefeitura durou dois meses e meio e teve momentos pontos críticos a ocupação da Câmara Municipal de Vereadores e a desocupação do plenário pela Polícia Militar. No dia da votação e aprovação do plano, 1º de outubro, a Cinelândia se transformou em praça de guerra.

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