Por tamara.coimbra

Rio - A estudante Amanda Alli acordou cedo, saiu de casa às 12h e foi com a mãe de carro para a Uerj, onde faria o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas o trânsito atrasou o seu sonho de ser jornalista. Às 13h03 ela chegou à faculdade, mas os portões estavam sendo fechados.

“Moço, pelo amor de Deus, me deixa entrar”, implorou, sem sucesso, ao mesmo tempo em que se ajoelhava no chão.

“Não posso”, respondeu o funcionário, enquanto a pequena multidão que se formou ao redor gritava em uníssono que a deixasse entrar. Não deu certo.

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Candidatos postam fotos dos cartões e da prova do Enem nas redes sociais

Amanda Alli chegou atrasada para o Enem e se desesperou por não poder entrarBruno de Lima

Agora, a jovem que trabalha no barracão do Salgueiro reforçará as estatísticas de faltosos do Enem. Em 2013, pouco mais de 7 milhões se inscreveram, e 29% não compareceram, causando um prejuízo de R$ 103 milhões.

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela aplicação do Enem, 65 candidatos em todo o Brasil foram eliminados, durante a realização da prova, por uso indevido de celulares.O número é superior ao do ano passado: ao final de todos os dias de prova, 47 candidatos foram eliminados por usarem celulares nas salas de exame. De acordo com Inep, as postagens nas redes sociais relacionadas a prova foram monitoradas pelo Ministério da Educação.

O caso de Amanda, que mora em um bairro distante do local onde faria seus exames, não é único. Segundo Álvaro Barreto, coordenador pedagógico do Colégio e Curso Tamandaré, falta organização do MEC na hora da distribuição dos locais de prova. “Tenho alunos que moram em Madureira e estão fazendo prova no Estácio, quando poderiam estar fazendo no próprio bairro.”

Enquanto a maioria dos alunos já descansava para as provas de hoje, os sabatistas, que guardam o sábado por questões religiosas, estavam se preparando para começar o exame. No caso deles, a prova foi aplicada a partir das 19h, no Centro do Rio. “O problema é que eles chegaram cedo, junto com os outros alunos, e ficam o dia todo esperando. O MEC poderia distribuir as provas em dois domingos distintos para todos os alunos, pois daria tempo de se preparar melhor”, defende o analista de sistemas André Novaes, que frequenta a Igreja Adventista do Sétimo Dia e é pai da estudante do Andreza Cristine, de 16 anos, que quer cursar engenharia.

'Trouxemos duas mil canetas'

“Comprando duas canetas ganha mais uma”, grita a assessora de marketing Rogéria Campos, de 34 anos, na porta da Uerj. Ela e as amigas saíram de Nova Iguaçu e foram vender esferográficas pretas na porta da faculdade. “Cada uma custa R$ 2, trouxemos duas mil para vender hoje. Amanhã não viremos porque quem comprou canetas hoje não vai precisar para amanhã.” Como o número de participantes do Enem é maior na Uerj do que na Baixada Fluminense, elas não pensaram duas vezes e foram para o Maracanã.

O mesmo movimento não foi registrado pelos vendedores de lanche da região. “Acho que o povo não gosta mais de refrigerante e fritura”, lamentou uma camelô, que preferiu não se identificar.

Candidata morre em Olinda

Uma candidata que faria o Enem sofreu um AVC e morreu no local da prova em Olinda, na Região Metropolitana de Recife. A comerciante Edvania Florinda de Assis, de 32 anos, chegou a ser atendida pela equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Emergência (Samu), mas não resistiu e faleceu na escola onde faria as provas.

Segundo funcionários que trabalham na entrada da escola, Edvania foi, primeiramente, a uma outra unidade do mesmo colégio, a cerca de um quilômetro de distância, no mesmo bairro. Quando percebeu que estava no prédio errado, correu para o endereço certo. Ela atravessou os portões de entrada quatro minutos antes do seu fechamento, mas desmaiou em seguida. Acordou pouco depois, mas logo desmaiou de novo. Edvania foi socorrida pela enfermeira do local e pela equipe do Samu, que não puderam salvá-la.

No fim da tarde, o Instituto Nacional de Estudos Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou nota lamentando a morte.

Em Brasília, duas estudantes que pularam a grade de uma escola particular para fazer a prova do Enem foram eliminadas. Elas chegaram atrasadas e encontraram os portões fechados. O MEC informou que elas sequer chegaram a começar a fazer a prova.

Em São Paulo, a novidade foi o detector de metais usado nos candidatos que pediram para ir ao banheiro durante a realização da prova do Enem.

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