Por tamyres.matos

Rio - Vista com desconfiança pelos cariocas devido a problemas como distância e falta de segurança pública, a parte menos badalada da Zona Oeste se prepara para surpreender o Rio. Ofuscados por Barra da Tijuca e Recreio, os bairros de Campo Grande, Bangu e Santa Cruz experimentam valorização imobiliária, aumento do número de universitários e instalação de grandes empresas. O tripé do desenvolvimento local contagia os microbairros e mobiliza a população que teme o crescimento desordenado da região.

Para tratar destas questões, a sociedade civil organizada vai debater a revisão do plano diretor em audiência pública no próximo dia 10, às 9h, no Sindicato dos Professores, em Campo Grande. Isto porque o boom imobiliário é uma realidade no local e em seus 71 sub-bairros. O preço do metro quadrado aumentou 15,3% em junho de 2012, quando foram lançados 91 condomínios residenciais.

O bairro já figura em quarto lugar entre os que mais receberam empreendimentos no primeiro semestre deste ano, com 757 unidades, ou 10% dos 8.024 imóveis lançados no município em igual período, cuja alta foi de 4% em relação a 2012. Os três primeiros também pertencem à Zona Oeste: Jacarepaguá, Recreio e Barra da Tijuca, respectivamente.

No Polo Industrial de Santa Cruz%2C na Zona Oeste do Rio%2C estão as principais siderurgias da cidade. Local aguarda novas indústriasCarlos Eduardo Cardoso / Agência O Dia

A bacharel em Direito Juliana Bastos, 29 anos, adquiriu um imóvel na planta em maio de 2012, com previsão de receber a chave em 2015. A principal motivação, disse, foi a aplicação financeira, uma forma de acumular capital. “É uma poupança forçada que me permitirá sair do aluguel e depois casar”, disse.

INÉRCIA DO GOVERNO

Presidente da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG), Guilherme Eisenlohr afirma que o número de novos empreendimentos é muito maior. “Só na Estrada do Tingui estão aprovadas as construções de 20 mil moradias do Minha Casa Minha Vida”, informou.

No entanto, o desenvolvimento da região depende maciçamente da iniciativa privada, ressalta o dirigente, para quem o poder público chega sempre com atraso quando se trata de fornecer infraestrutura para as novas ruas e condomínios. Esta inércia do governo prejudica o empreendedorismo nos três principais bairros, Bangu, Campo Grande e Santa Cruz.

“Quando os executivos fazem uma pesquisa básica, observam que, além do investimento, deverão arcar com os custos de infraestrutura, iluminação e até segurança, itens da alçada do poder público”, frisou Eisenlohr, acrescentando que o tratamento sanitário também é deficitário, com parte do esgoto industrial despejado diretamente no mar.

Entidade cobra melhorias na região

A Associação Comercial e Empresarial da Região de Bangu (ACERB) entregou suas principais demandas à Prefeitura do Rio. O presidente Wagner Julio Reis Ferreira afirma que a entidade briga pelas melhorias das estradas do Gericinó, ligando Bangu à Mesquita; a do Viegas, ligando ao bairro Rio da Prata; a das Taxas; e a Avenida Gaspar de Lemos, ligando Campo Grande à Barra de Guaratiba.

A associação também pede a criação de uma linha alimentadora do BRT para a população do lado direito da linha férrea, passando por Padre Miguel, Estrada do Taquaral, Estrada da Posse e Campo Grande até a estação Magarça.

A criação de uma linha de ônibus da Vila Aliança para Barra da Tijuca; redução de coletivos em algumas linhas na região e reurbanização da Estrada dos Teixeiras, no Jardim Novo. O turismo também deve ser incrementado. Citam a Serra do Mendanha, Gericinó e Rio da Prata, com suas 18 cachoeiras, como locais altamente atrativos.

Estudo da UFRJ aponta a Zona Oeste como região de maior densidade industrial do município. Indústrias de alimentos e bebidas, químicas, papel, papelão, editorial e gráfica são as principais atividades. Foi protocolado na Câmara de Vereadores este ano o Projeto de Lei nº 318/2013, que cria o Distrito Industrial de Bangu.

EM EXPANSÃO

DESISTÊNCIA

Muitas empresas de porte procuram a associação com o objetivo de se instalar nos distritos industriais de Campo Grande ou Santa Cruz, que juntos abrigam 55 companhias, dentre as quais Gerdau, Casa da Moeda, Thissenkrupp (CSA), Michelin e Furnas. Algumas acabam desistindo por conta da falta de apoio do governo aos polos fabris.

COMÉRCIO

O comércio de rua de Campo Grande movimenta a segunda principal economia da região. Passam pelo calçadão do bairro 250 mil pessoas por dia e outras 85 mil atravessam diariamente o túnel da estação de trem. Consumidores locais afirmam que em Bangu o movimento é ainda maior.

UEZO

O governo do Rio pretende transferir a Universidade Estadual da Zona Oeste para um novo espaço dentro do Parque Industrial de Campo Grande, por conta da crescente demanda.

A QUE MAIS CRESCE

A unidade de Santa Cruz da Universidade Cândido Mendes (Ucam) é o campus de instituição privada de Ensino Superior que mais cresce, atualmente, no município do Rio.

MOBILIDADE

A mobilidade da Zona Oeste não absorve o volume de passageiros diários, embora Bangu, Campo Grande e Santa Cruz disponham de trem, do BRT TransOeste e linhas convencionais de ônibus.

HABITANTES

O Censo 2010, do IBGE, informa uma população de 790 mil habitantes nos três bairros. A associação comercial local estima, porém, que haja mais de um milhão de pessoas.

Você pode gostar