Por raphael.perucci

Phnom Penh (Camboja) - O primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, é favorito a mais uma reeleição para o cargo que ocupa há 28 anos, a quinta desde o reestabelecimento da democracia no país, em 1993. Quase 10 milhões de cambojanos estão aptos a votar nas eleições que transcorreram sem incidentes, apesar das denúncias da oposição e de observadores internacionais de várias irregularidades. Hun Sen, do Partido do Povo do Camboja (PPC) espera reeditar os resultados de cinco anos atrás, quando conseguiu 90 das 123 cadeiras da Assembleia Nacional, o que o permitiu governar pela primeira vez sozinho.

A coalizão de oposição, formada pelo Partido para o Resgate Nacional do Camboja (PRNC), de Sam Rainsy, e pelo Partido para os Direitos Humanos, espera poder aumentar das 29 cadeiras que conseguiram nas passadas eleições. Desde as primeiras horas da manhã, milhares de cambojanos foram aos colégios eleitorais e aguardaram pacientemente na fila para depositar seu voto na urna. Hun Sen foi dos primeiros a exercer seu direito a voto em uma seção eleitoral de Takhamau, na província de Kandal, a poucos quilômetros ao sul de Phnom Penh, onde chegou minutos depois da abertura das urnas acompanhado Bun Rany.

O veterano líder beijou sua cédula antes de depositá-la na urna, distribuiu sorrisos no colégio eleitoral, mas evitou fazer declarações à imprensa. No mesmo local, Sorun, de 42 anos, votou pouco depois do primeiro-ministro com a esperança que vença a posição, mas com receio que as autoridades manipulem os resultados. "Se houver mudança, o Camboja vai ficar melhor. Se não, tudo continuará igual", disse Sorun, que admitiu ter medo de expressar sua opinião livremente e ressaltou que "muitos pensam" como ela, "mas calam".

Quem não pôde votar foi o líder da oposição, Sam Rainsy, que retornou na semana passada ao Camboja após passar quatro anos no exílio graças a um perdão real concedido a pedido do primeiro-ministro. Rainsy, que não disputa nenhum cargo por não ter conseguido registrar sua candidatura a tempo, foi a um colégio próximo à sede de seu partido em Phnom Penh, onde foi aclamado por vários simpatizantes.

O líder de oposição alertou para uma possível fraude eleitoral pela duplicidade de milhares de nomes no censo, e acusou Hun Sen de "covarde" por não querer enfrentá-lo nas urnas. Após o fechamento dos colégios, o porta-voz do PRNC, Yim Sovann, denunciou irregularidades "inaceitáveis" no registro de voto, que atribuiu a uma tentativa de manipulação dos resultados pelo partido da situação. "Muita gente não pôde votar porque seu nome não constava nas listas de eleitores, enquanto outros se encontraram com que alguém já tinha votado em seu nome", declarou Sovann a Agência Efe.

Segundo a organização local Comitê para Eleições Livres e Justas (Comfrel) 1,25 milhão de eleitores ficaram fora do censo eleitoral. "Recebemos um grande número de queixas e denúncias por incidências", indicou Laura Thornton, representante no Camboja do National Democratic Institute. Nas últimas semanas o PPC também recebeu críticas pelo controle que exerce sobre a administração do Estado e da maioria de meios de comunicação. Human Rights Watch denunciou em comunicado o partidarismo da polícia e do Exército e os acusa de terem criado um "ambiente intimidatório em muitas regiões do país.

Além do PPC e do PRNC, outras seis formações com poucas chances de obter representação concorreram às eleições, que foram controladas por 16.076 observadores nacionais e 30 internacionais. Hun Sen governa o Camboja desde 1985, ano em que assumiu o Executivo com a anuência do Vietnã, cujo Exército ocupou o país seis anos antes para derrubar o Khmer Vermelho.

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