Por bferreira

Rio - Laser para tratar micose na unha do pé. A técnica é pouca difundida no Brasil, mas a dona de casa Maria das Neves Firmino, 55 anos, não hesitou em participar de pesquisa para verificar sua eficácia. E ela não é um caso isolado. Nos hospitais universitários do Rio, centenas pessoas aceitam o convite ou mesmo se oferecem para o voluntariado em estudos, que testam de novos medicamentos a diagnósticos.

Além de contribuírem para a Ciência, os voluntários têm ganhos de saúde. Há dez anos, Maria sofre com a micose e conta que nunca se submeteu a tratamento. Paciente do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), em Vila Isabel, ela comemorou o convite para participar da pesquisa, feita pela dermatologista Andréia Pizarro Leverone. São quatro sessões de laser — ela já passou por três — e a dor não é motivo de queixa. “É um tratamento de graça, que está melhorando meu problema”.

Quando vai às consultas no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (Fundão), a dona de casa Jorgina de Souza, 60, pede aos médicos para participar de novos estudos. Portadora de artrite reumatoide há 20 anos e sem conseguir o efeito desejado com os remédios ‘tradicionais’, ela participou de teste com uma nova droga em 2011. Foi um ano tomando o novo fármaco. “Não tive medo de tomar um remédio desconhecido e foi a única vez em que me senti curada”, lembra.

Nem todas as pesquisas têm foco no tratamento. Kenia Maynard da Silva, fisioterapeuta e coordenadora da Fisioterapia do Laboratório de Reabilitação Pulmonar do Hupe, está, junto a outros pesquisadores, desenvolvendo nova equação de referência para o teste de degrau, que avalia a capacidade funcional do paciente. Hoje, são usados parâmetros norte-americanos.

Já foram recrutados 350 voluntários, que se submeteram a uma série de exames antes de fazer o teste. “Alguns descobriram que tinham problemas pulmonares”, conta. O tecnólogo em radiologia Sidiclei Cândido, 37, participou do estudo pela primeira vez, e não descarta repetir. “É bom saber que colaborei numa descoberta. Além disso, tive oportunidade de fazer vários exames”. Verônica Quadros, 32, funcionária do hospital, também foi voluntária: “Quis ajudar”.

Rafael de Moraes, 35, paciente do Hupe, integra pesquisa nacional que avalia as características de hipertensos resistentes, que não melhoram com até quatro remédios diferentes.

PACIENTE É MAIS VISTO PELO MÉDICO

Todas as pessoas que participam de pesquisas são voluntárias e é proibido remunerá-las pela atividade, afirma o coordenador da Pós-Graduação em Ciências Médicas da Uerj, Rogério Rufino. Após concordarem com a pesquisa, todos os voluntários assinam um documento. Segundo Rufino, eles podem desistir a qualquer momento, inclusive durante a pesquisa, sem nenhum prejuízo ao tratamento.

“É fundamental a participação de pessoas, pois o pesquisador sai de uma esfera de hipóteses para um plano prático, que responde dúvidas do dia a dia”, explica. No Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Uerj, 198 pesquisas estão em curso. Dessas, cerca de 85% têm voluntários.

Luís Roimicher, pesquisador e reumatologista do Hospital do Fundão, lembra que, ao participar de pesquisa, o paciente se beneficia por receber, gratuitamente, medicamentos que pretendem ser mais eficazes. “Na pesquisa, o paciente acaba sendo mais visto e avaliado pelo médico, o que também é um ganho”.

INSCREVA-SE

Há duas pesquisas que necessitam de voluntários no Hospital do Fundão. Uma vai investigar compulsão alimentar e obesidade. Informações: 2562-2730. Já a outra está recrutando mulheres entre 18 e 40 anos, com Síndrome de Ovários Policísticos, para participar de estudo no ambulatório de endocrinologia. Informações: 99196-9753.

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