Por bferreira

Rio - Pessoas que gritam, socam, chutam e até correm enquanto estão sonhando sofrem do ‘transtorno comportamental do sono’. O mal pode ter consequências graves para o paciente e para quem dorme ao lado, como fraturas e traumatismos. Apesar de seus efeitos, o distúrbio segue sem tratamento eficaz. Por isso, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP) iniciaram estudo para avaliar efeitos do canabidiol (CBD), um dos componentes da maconha, sobre a doença.

À frente do trabalho, a psicóloga Ila Marques Linares explica como a substância poderia agir. “Acreditamos que o CBD seja efetivo em se ligar a receptores do sistema nervoso para reduzir a fase do sono em que ocorrem os sonhos. Alguns testes com animais trouxeram este resultado e agora precisamos verificar em humanos”, afirma a médica, que reuniu 30 voluntários que passarão por polissonografias no centro de medicina do sono da faculdade paulista. Neste exame, o paciente é monitorado por aparelhos enquanto dorme. “Serão dois testes por pessoa. Num deles, ela irá receber dose do canabidiol. Em outro, um placebo (substância sem propriedades medicinais usada para medir o efeito real de medicamentos)”, comenta Ila.

Cada vez mais aceito para tratar doenças neurológicas, como epilepsia e esclerose múltipla, o canabidiol não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): sua comercialização é proibida no Brasil. Assim, é necessária autorização especial de importação, tanto para pesquisas quanto para uso pessoal. “O canabidiol é apenas uma das 450 substâncias da maconha, não tem efeitos psicoativos nem riscos à saúde”, lembra, garantindo que nenhum dos voluntários recusou-se a realizar os exames.

IMPORTAÇÃO

De venda proibida no Brasil, o canabidiol só entra no país com pedido especial de importação junto à Anvisa. Nele deve constar a prescrição do medicamento, um laudo médico atestando sua necessidade para tratamento e um termo de responsabilidade. Ganhando prestígio no combate a enfermidades do sistema nervoso central, as requisições de CBD aumentaram consideravelmente nos últimos meses. De acordo com a Anvisa, somente de abril a agosto foram feitos 59 pedidos de importação, dos quais 37 foram autorizados. O prazo médio das liberações é de uma semana.

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