Por bferreira

Rio - Quando se imaginava ter visto todos os infortúnios sofridos pela população que busca atendimento na rede de saúde — tantas vezes denunciados pelo DIA e cujas punições são cobradas aqui neste espaço —, eis que a sociedade é surpreendida com mais um sórdido episódio de desrespeito à vida em uma unidade pública. No Hospital Municipal Pedro II, na Zona Oeste do Rio, esse descaso com a vida humana chegou ao cúmulo de pacientes graves dividirem o mesmo espaço com corpos em sacos plásticos.

O circo dos horrores, descoberto por parentes de pacientes indignados que invadiram o hospital, não só atesta a falência do sistema. Mostra que, entre o proselitismo do discurso político e oportunista que defende mais recursos para a melhoria do atendimento médico nas unidades públicas, existe uma cratera gigantesca encobrindo a real situação de penúria do setor, como a barbárie do Pedro II. As medidas de urgência são para ontem.

Por sua gravidade, não só ao ferir a dignidade humana, mas também por expor doentes a risco de outras moléstias pela proximidade com cadáveres, o estarrecedor caso do hospital de Santa Cruz rompe a esfera administrativa. A expectativa é a de que, com a queixa-crime a ser registrada hoje por um dos parentes dos internos, o caso seja investigado pela polícia.

Na ausência da mão pesada do poder público que, pela fragilidade do aparelho gestor e fiscalizatório, permite situações escabrosas como essa, quem sabe a punição com a cadeia aos responsáveis não seja o primeiro passo para se acabar de vez com o imbróglio da saúde pública?

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