Por adriano.araujo

Rio - A pergunta é recorrente e fatal: quais os limites do humor? Nós, atores comediantes, normalmente temos uma boa resposta pronta para o lugar-comum da indagação. Tudo muito justo, o público quer saber o que pensamos, e o jornalista não deve deixar de perguntar. Mas hoje, como colunista convidado, resolvi aproveitar o espaço para refletir a respeito por conta própria. O humor deve ser livre e soberano, seja inofensivo, seja maldito!

Nós que fazemos o humor de hoje somos resultado expresso dos grandes gênios do riso. Uma vez perguntei em casa se o Chico Anysio era meu avô. Luiz Fernando Verissimo fez minha geração acreditar que poderíamos fazer graça com dramaturgia de qualidade, nas saudosas aulas de teatro. Quando dividi o palco com Dercy Gonçalves em 2007, ela me disse na coxia do Teatro dos Quatro que palavrão não é feito pra qualquer um dizer, depende da boca e da inteligência de quem fala. Todos esses já inventaram o humor e já romperam qualquer tipo de limite. Não há nada novo, não existe moral intocada. Existe bom gosto ou péssimas escolhas.

Não tem spray de pimenta ou bomba de efeito que imponha mais moral que o humor. Na política, expor o ditador ao ridículo lhe é devastador. O humor é essencialmente oposição; na ditadura, duramente perseguido, agonizou e não morreu. Por outro lado, há limites para quem não têm nenhuma graça e aponta no outro um traço frágil e indefeso. Rir de alguém sem que este participe é ato covarde! Se não houver um bom texto ou pelo menos um comediante tão astuto quanto generoso, não se iluda, não tem motivo pra rir. Não desperdice o seu riso, invista-o no que você achou engraçado e não no que te convenceram que é. Portanto, não existem limites para o humor, o que não tem graça nem sequer o é.

Não deve haver palavra que o artista não possa dizer. O artista é o guardião do verbo, da história e do sagrado. Limites para o humor ou limites para as correntes moralistas e os exploradores da miséria da cidade? Censura é para os ‘donos’ do Estado que te reprimem quando você exige dignidade nas ruas. Questionemos os senhores dos templos que esbravejam como detentores da palavra de Deus e só propagam preconceito e intolerância. O real artista do riso exige transformação, seu dever é provocar. O mundo está careta e um pouquinho de atrevimento é posicionamento político. Pergunto eu: qual o limite para a falta de humor?

Luis Lobianco é ator e integrante do ‘Porta dos Fundos’

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